Nos 100 primeiros dias do presidente Iván Duque – empossado em 7 de agosto – foram executados 120 líderes sociais e defensores dos DDHH. Para o relator da ONU, Michel Horst, “impunidade agrava o quadro de horror”
O relator especial das Nações Unidas sobre Direitos Humanos, Michel Horst, afirmou nesta terça-feira que a série de relatos sobre vítimas e o que presenciou na Colômbia, após uma visita de dez dias ao país, “é do mais horroroso que vi em toda minha vida”.
Informe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz) assinala uma agravamento da situação, uma vez que durante os 100 primeiros dias de mandato do presidente Iván Duque – empossado em 7 de agosto deste ano – foram assassinados 120 dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos. Candidato da extrema-direita, Duque concentra suas ações de selvageria e extermínio de oposicionistas a partir do Ministério da “Defesa”.
“O temor que senti nas reuniões me horrorizou. Os defensores de direitos humanos descreveram os ataques que enfrentam, sem nunca mencionar diretamente os seus algozes”, declarou o relator da ONU, acrescentando que foi fundamental ter se reunido com tantas vítimas, mães de desaparecidos, em especial. Conforme Horst, estas mulheres chegavam ao local com uma fotografia do seu familiar e lhe pediam desesperadamente ajuda para encontrar o corpo, a verdade e a justiça.
Há mais de dez anos a Colômbia não recebia uma visita oficial de um relator especial da ONU para tratar do gravíssimo problema do assassinato, desaparecimento e tortura de lideranças oposicionistas, particularmente em função da impunidade provocada pela política de terrorismo de Estado, que envolve, ao longo de décadas, o conjunto da estrutura governamental e o narcotráfico contra as forças progressistas.
Na avaliação de Michel Horst, a situação se torna ainda mais grave por conta da “impunidade” em que se encontram submersos estes crimes, que se multiplicam, ao mesmo tempo em que são desconsiderados nas cifras oficiais. Por isso se reuniu com a Procuradoria Geral da Nação. “Me parece que as cifras não refletem a realidade. Me preocupa que, em todo o país, se veja uma diminuição dos assassinatos e ao mesmo tempo se veja um aumento dos crimes contra os defensores. Isso me horroriza”, apontou.
Nesta gira, Michel Forst, relator desde 2014, pôde conhecer a situação de regiões gravemente afetadas pelo uso e abuso de matadores profissionais contra ativistas, entre elas Catatumbo, Cúcuta, Medellín, San José de Apartadó, Popayán e La Guajira. Na oportunidade, realizou dezenas de reuniões e entrevistas com defensores de direitos humanos, lideranças sociais, indígenas, do movimento negro e dos trabalhadores rurais. O informe, que já está em mãos do governo colombiano, será repassado em março ao Conselho de Segurança da ONU.
Sobre o documento entregue pessoalmente ao presidente Iván Duque, Forst explicou que se esforçou para ser sintético, capturando a essência do que lhe foi contado e do que viu. Além de apontar as formas dos ataques, de identificar vítimas e algozes, e evidenciar as zonas com maiores riscos para as lideranças. “Ainda que seja a quarta vez que venho à Colômbia, esta é a minha primeira visita oficial, e realmente me impactou muito”, frisou. Forst acrescentou que seu compromisso em enfrentar a perigosa situação dos defensores dos direitos humanos não acaba com o informe, mas que apenas começa, pois haverá um minucioso acompanhamento.
Forst elogiou o trabalho desenvolvido pelo escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (Acnudh), assim como o da Defensoria do Povo, já que, como destacou, são entidades que têm a confiança das lideranças sociais. Por outro lado, criticou o ministro da Defesa, Guillermo Botero, e o governador de Antióquia, Luis Pérez, por suas declarações contra as manifestações sociais, aos protestos cidadãos e aos defensores dos direitos humanos. “Dissemos isso ao presidente e também pedi ao procurador que acompanhe de perto os casos daquelas pessoas que difamam os que realizam este maravilhoso trabalho. Meu mandato não é somente escutar promessas, mas ver resultados. Confiamos em que o compromisso será seguido pela implementação de um plano e para isso estaremos monitorando”, concluiu.