É impressionante a fixação de Jair Bolsonaro com o que acontece nos Estados Unidos, que ele chama de “a América”. Tudo lá é um “espetáculo”, até a bandeira merece sua continência. Nem o boné do Trump escapa. É visto por essa gente como uma ‘coroa reluzente’. E nesta veneração toda, típica de vira-latas, ele acaba de dizer, em entrevista, nesta terça-feira (4), que deveríamos imitar também as relações trabalhistas dos EUA. Esquecendo, é claro, de dizer que essas coisas não são muito comuns por lá.
“Alguns falam até que poderíamos nos aproximar de legislações trabalhistas como existem em outros países, como nos Estados Unidos”, defendeu o presidente eleito, acrescentando que a vida dos patrões aqui no Brasil é muito difícil. “Hoje em dia continua muito difícil ser patrão no Brasil”, afirmou ele, na coletiva. Se a vida dos patrões por aqui é difícil, imaginem a dos empregados. Mas esses, segundo Bolsonaro, têm muitas mordomias e são uns verdadeiros paxás, apesar do salário mínimo daqui ser menor que o do Paraguai.
Essa conversa tem um único objetivo: abrir espaço para esfolar ainda mais os trabalhadores. Jair Messias quer tirar mais direitos dos assalariados. E para isso, ele conclamou os empresários a partirem para a “guerra” contra os trabalhadores. “Tenho dito que vão ter que entrar nessa guerra, não dá para deixar só com governo”, afirmou. “Não basta ter direitos e não ter empregos, esse é o grande problema que existe”, repete o presidente, num discurso exatamente igual ao que tagarelavam os escravagistas do século XIX.
Ele põe de lado o fato de que foram tirados vários direitos nos últimos anos, com a chamada “reforma trabalhista de Temer” – que ele se gaba de ter apoiado – e os empregos não apareceram, ao contrário, simplesmente desabaram. Hoje, depois da “reforma”, entre desempregados e subempregados, já são 26 milhões de pessoas. Um crescimento assustador. Mas ele diz que os direitos é que são “o problema”. “O trabalhador vai ter que decidir, um pouquinho menos de direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego”, argumenta.
Pura chantagem que visa única e exclusivamente agradar e atrair empresas americanas, oferecendo a elas facilidades, benesses, créditos e super-lucros. Elas não só não virão, como acreditam os adoradores do capital estrangeiro, como vão exigir sempre mais e mais. Não haverá mais empregos e o efeito colateral desse achatamento salarial e dessa destruição de direitos será mais estrangulamento das já sofridas empresas brasileiras, por total falta de mercado interno.
Para impôr essa sua política genocida sobre os trabalhadores, ele não ficou satisfeito em só acabar com o Ministério do Trabalho. Esquartejou o órgão – criado por Getúlio Vargas em 1930 – em três partes. O FAT e o FGTS, onde estão os cerca de R$ 800 bilhões, pertencentes aos trabalhadores, ele entregou para o porta-voz dos bancos, Paulo Guedes. A área responsável pelos sindicatos e pela fiscalização de condições de trabalho ficou com o Ministério da Justiça. A outra ficará com a Cidadania.
Ou seja, para retornar à escravidão, para tirar o couro dos trabalhadores e para agradar as empresas da “América” vale destruir o Ministério do Trabalho. Vale tratar os sindicatos como caso de polícia e vale roubar os recursos dos trabalhadores – do FAT e do FGTS – para engordar banqueiros e demais agiotas. Certamente essa política servil e anti-povo não tem futuro. Cedo ou tarde ficará evidente para toda a sociedade os males que ela trará ao país. É só uma questão de tempo.
SÉRGIO CRUZ