Para deter o avanço da gigante chinesa dos equipamentos de telecomunicações, a Huawei, no momento em que operadoras no mundo inteiro estão decidindo que empresa irá fornecer os equipamentos para as novíssimas redes 5G de telefonia celular, o governo Trump, com a conivência do governo canadense, praticamente está sequestrando a diretora financeira da empresa chinesa, e filha do fundador, Meng Wanzhou, sob supostas “violações das sanções dos EUA contra o Irã”.
Recentemente, a Huawei desbancou a Apple e tornou-se a segunda maior fabricante de celulares do mundo, depois da Samsung. Meng estava fazendo conexão de vôo em Vancouver, quando foi detida no dia 1º de dezembro, e o Departamento de Justiça norte-americana quer sua extradição. Um porta-voz canadense admitiu que os EUA “pediram a extradição e uma audiência para fiança foi marcada para sexta-feira (7)”.
A China apresentou seu protesto a Washington e Toronto, cobrando explicações e exigindo “a imediata libertação” de Meng e que fossem salvaguardados com seriedade seus “direitos e interesses legais legítimos”. “Prender sem dar qualquer motivo viola os direitos humanos”, reiterou o porta-voz da chancelaria chinesa.
A prisão de Meng repercutiu no mundo inteiro, trazendo temores generalizados de que a trégua na guerra comercial dos EUA contra a China, anunciada na cúpula de Buenos Aires do G20, não se sustentará. Bolsas despencaram por toda a parte.
O jornal que é considerado porta-voz do PC chinês, o Global Times, alertou que a China “deve estar preparada para uma escalada na guerra comercial” e assinalou que a prisão da executiva sênior da Huawei era um “exemplo vivo” disso.
Um blogueiro tuitou em solidariedade para a embaixada em Toronto, indagando se o Canadá era “um país soberano, ou uma arma de aluguel dos EUA?”
Poucas horas antes da prisão de Meng, a British Telecom, a gigante inglesa do setor, inglesa, anunciou que não iria utilizar os equipamentos de 5G da Huawei, e que iria eliminar de suas redes os equipamentos de 3G e 4G existentes “em dois anos”. O governo Trump tem pressionado os países vassalos para que não adotem os equipamentos da concorrente chinesa, sob alegações de “riscos de segurança” e de “guerra cibernética”. Austrália e Nova Zelândia já se enquadraram.
Apontada como a maior empresa privada da China, a Huawei tem 180 mil funcionários e presença em mais de 100 países. Além dos celulares e dos equipamentos de infraestrutura para as redes móveis, a empresa também tem desenvolvido com intensidade as áreas de ponta, como Inteligência Artificial, Realidade Virtual, semicondutores de última geração e 5G. No ano passado, a Huawei vendeu 153 milhões de smartphones. A receita do grupo esperada para este ano é de US$ 102 bilhões, 9,3% a mais em relação a 2017.
Ao jogar para sequestrar a filha do fundador do maior fabricante de celulares e de equipamentos de telefonia da China, e um dos três maiores do mundo, Trump sinaliza que está disposto a tudo para sabotar o programa de domínio de tecnologia de ponta, o “Made in China 2025”.
Em abril, o governo dos EUA colocou outra grande empresa chinesa de equipamentos de telecomunicações, a ZTE, à beira da falência ao proibir que fornecedores americanos vendessem semicondutores usados pela fabricante chinesa, paralisando a produção, o que só foi revertido após negociação entre Xi e Trump, que resultou na restauração dos fornecimentos, pagamento de multa de US$ 1,4 bilhão e mudanças na diretoria.
Como de costume, usam sanções decretadas por Washington como se fossem leis válidas no planeta inteiro, extraterritoriais, e depois saem achacando quem cumpriu as leis internacionais, as normas da OMC e as leis do próprio país.
Foi Trump quem, unilateralmente, rompeu o acordo com o Irã – que continua reconhecido pela ONU e por toda a comunidade internacional praticamente – e usa as sanções que restaurou para atacar os concorrentes das empresas norte-americanas.
A Huawei informou que tem pouca informação sobre as acusações e que “não tem conhecimento sobre nenhuma infração cometida por Meng Wanzhou”. Acrescentou ter cumprido “todas as leis e regulamentações aplicáveis onde opera, inclusive as leis e regulamentos de controle de exportação e sanções da ONU, EUA e União Europeia”. A trégua na guerra comercial tem duração estipulada de 90 dias.
A.P.