Tribunal canadense aprovou nesta terça-feira (11) a libertação por fiança de Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei, a maior empresa de infraestrutura de telecomunicações do mundo e a número dois em celulares após ter suplantado a Apple. Sua extradição havia sido pedida pelos EUA, sob alegação de que a empresa chinesa desrespeitara sanções dos EUA contra o Irã.
A fiança foi estabelecida em US$ 7,5 milhões, e Meng estava detida em Vancouver desde o dia 1º, quando foi retirada de um vôo ao fazer a conexão rumo ao México. A China havia protestado veementemente contra o que a mídia chinesa chamou de “sequestro” e “tomada de refém”. Parece que a advertência de Pequim, de que Meng fosse libertada ou o Canadá “aguentasse as consequências” caiu em bons ouvidos.
A China também denunciara a violação dos direitos humanos de Weng e o “tratamento cruel” a que fora submetida. Os EUA não apresentaram qualquer prova das acusações que fazem a Meng.
O governo chinês também convocara o embaixador norte-americano, para exigir explicações e a retirada do processo. As pressões contra a Huawei se avolumaram, à medida que esta se tornou a vitrine da transformação em curso da China, de montadora a campeã da alta tecnologia.
Deve ter ajudado na decisão da corte canadense a notável coincidência de um ex-diplomata canadense ter sido detido em Pequim por violar leis chinesas, o que foi confirmado pelo governo Trudeau.
Prender a diretora financeira de maior empresa chinesa de tecnologia de telecomunicações, e que é filha do fundador da empresa, sob alegações de que não cumpre, no comércio com outro país, no caso o Irã, as leis norte-americanas, isto é, sanções, é um escândalo como prender, digamos, o vice-presidente da Apple porque não atende leis chinesas no comércio com a Noruega.
O caráter de provocação é ainda mais evidente devido a que a prisão ocorreu no mesmo dia em que o presidente chinês Xi Jinping ceou com o presidente Donald Trump, quando os dois acertaram uma trégua de 90 dias na guerra comercial em curso. Como se soube depois, o conselheiro de segurança nacional de Trump, John Bolton, sabia da prisão, assim como o primeiro-ministro canadense Trudeau.
Mas a notícia de que fora presa só foi tornada pública na quarta-feira passada (5). Meng, que precisa de cuidados médicos devido à pressão alta e outros problemas de saúde, tem duas casas de alto nível em Vancouver e ali ficará durante o julgamento do pedido de extradição pelo tribunal. Seu marido e executivos da Huawei estavam presentes no julgamento. Seu passaporte já havia sido confiscado.
Na tentativa de deter o avanço da Huawei, o governo Trump passou a acusar a gigante chinesa de que seus produtos continham ‘portas do fundo’ para a guerra cibernética e roubo dos segredos industriais norte-americanos e em agosto proibiu a aquisição, nos órgãos governamentais, dos produtos da Huawei.
Quando todos sabem, desde a denúncia de Edward Snowden sobre o grampeamento em massa cometido pela NSA, que são os EUA que há vários anos fazem isso, e operando desde salas secretas nas operadoras norte-americanas.
Mas a razão real para essa investida é o programa chinês “Made in China 2025” de desenvolvimento, por meios próprios, da alta tecnologia, de robôs à computação quântica. No ano passado, empresas chinesas já registraram quase a metade de todas as patentes registradas no ano.
Como a definição dos padrões das novíssimas redes 5G está ocorrendo agora, e com decisiva participação da Huawei, as gigantes da tecnologia norte-americanas e Washington estão dispostos a tudo para barrar o passo à empresa chinesa. As redes 5G são consideradas a base para o desenvolvimento dos carros autônomos, da “Indústria 4.0” e para mais aplicações da Inteligência Artificial e Big Data.
A Huawei também deu um significativo avanço nos chips de alto desempenho, acabando de apresentar um modelo que é 20-30% mais veloz do que os da concorrência.
Assim, a prisão de Meng serviu de senha para que várias operadoras em países vassalos ou sob ocupação, como o Japão, Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia, anunciassem que não adotariam o 5G da Huawei, sob alegação de risco de segurança por ‘portas dos fundos’ que poderiam ser embutidas nas redes fornecidas pela gigante chinesa.
Não é a primeira facada de Trump contra as empresas chinesas de alta tecnologia. Em abril, ele chegou a proibir que fornecedores norte-americanos embarcassem os semicondutores de que a ZTE dependia para fabricar seus produtos, o que paralisou por meses sua produção, até acordo que implicou em multa de US$ 1,4 bilhão e mudança de diretores.
No auge do confronto, o presidente Xi lembrara dos tempos em que “apertamos os cintos e os dentes”, para conseguir dominar a fabricação das armas nucleares, e que, se fosse preciso, a China faria o mesmo agora, para dominar a alta tecnologia.
Trudeau confirmou a notícia da prisão, na China de um ex-diplomata. A emissora pública canadense “CBC” informou que se trata de Michael Korvig, que trabalha para o International Crisis Group (ICG).