Milhares de pessoas se manifestaram na quinta-feira, 13, no centro de Budapeste, capital da Hungria, um dia após ter sido aprovada a ‘reforma’ trabalhista que os sindicatos, entidades sociais e partidos de oposição chamaram de “lei da escravidão”.
A mudança na legislação foi aprovada com o apoio de dois terços do partido neoliberal União Cívica Húngara (Fidesz), liderado pelo primeiro ministro Viktor Orbán, apesar das tentativas da oposição de bloquear a votação.
Entre outras questões, a reforma permite aos empresários aumentar em 60% as horas extras de seus trabalhadores, um abuso que levará os húngaros a ter que trabalhar até 400 horas anuais a mais. Isso poderá significar, denunciam os sindicatos, que em alguns casos os empregados tenham que trabalhar seis dias por semana. E, como se isso fosse pouco, os empregadores poderão pagar as horas extras até 36 meses depois de trabalhadas. Com o claro objetivo de barrar a capacidade de reação dos trabalhadores, a lei impõe ainda o corte do poder de negociação dos sindicatos.
O governo justificou as medidas com a conhecida ladainha de que a flexibilização trabalhista é necessária para satisfazer as necessidades dos investidores e também permitir que os que buscam ganhar mais, trabalhem mais horas.
Porém, o que se tem observado em casos como este, é que forçar os trabalhadores a trabalhar mais horas, ao invés de gerar postos de trabalho, acaba assolando os países que adotam tais medidas com mais desemprego e recessão.
“Hoje no Parlamento praticamente puseram o último prego no caixão da democracia, o que fizeram foi o último passo na construção de um estado ditatorial”, denunciou Miklós Hajnal, porta-voz do movimento Momentum.
Enquanto se debatia a reforma, na quarta-feira, 12, as ruas próximas se enchiam de manifestantes e os deputados de oposição rechaçavam essas medidas com vaias e sirenes. Na frente da sede do Fidesz um grupo de mulheres agitavam bandeiras húngaras e dos sindicatos. A multidão também bloqueou a Ponte da Cadeia, um dos símbolos da cidade de Budapeste. A polícia agrediu os manifestantes com gas lacrimogêneo. 34 manifestantes foram presos.
Na quinta-feira, aconteceu uma segunda mobilização em que milhares de pessoas convocadas por sindicatos e estudantes mais uma vez tomaram as ruas do centro da capital húngara.
“Agradeçamos a Viktor Orbán por tudo o que tem feito pelo povo húngaro e por sua juventude”, dizia a irônica convocatória dos estudantes. Tamás Szûcs, presidente do Sindicato Democrata de Professores, afirmou: “Nem um passo atrás. Os trabalhadores não podem permitir essa barbaridade. Essa é a Lei Trabalhista mais reacionária da Europa. Já é hora de que os sindicatos demonstrem que podem superar suas divergências internas e se unir na convocação de todos! “
Desde que assumiu o cargo em 2010, Orbán foi criticado por suas políticas alinhadas com os Estados Unidos que, em diversas vezes, se chocam com as conquistas mantidas com muita luta no conjunto da União Europeia.