A deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) afirmou que as movimentações financeiras suspeitas do ex-motorista, Fabrício Queiroz, do senador eleito Flávio Bolsonaro, mostram que Bolsonaro é “alguém que faz a política mais velha do Brasil”.
Queiroz até agora não apareceu para dar esclarecimentos, como prometeram Jair Bolsonaro e seu filho.
O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou movimentações “atípicas” do motorista de Flávio Bolsonaro, com R$ 1,2 milhão em um ano.
Tanto Jair, enquanto deputado federal, quanto seu filho Flávio, no cargo de deputado estadual no Rio de Janeiro, mantinham “assessores fantasmas” em seus gabinetes. Queiroz recolhia o salário de nove funcionários, o que configura crime de peculato. Fabrício recolhia cerca de 99% dos salários dos servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro.
“Esse caso concreto apenas evidencia algo que nós já dizíamos: Bolsonaro não é um ‘outsider’, ele é o mais ‘insider’, alguém que faz a política mais velha do Brasil”, disse a deputada em entrevista à RFI (Rádio França Internacional), na Itália, reproduzida pelo site Vermelho (vermelho.org.br).
Manuela está na Europa a convite do grupo parlamentar de esquerda do Parlamento Europeu. De Estrasburgo, na França, dirigiu-se à Itália para compromissos em Nápoles e Roma.
“Com 26 anos de mandato, 26 anos de absolutamente nenhuma produção, 26 anos elegendo os filhos políticos. Ou seja, essa é a pior tradição da política brasileira, que vem desde as Capitanias Hereditárias, mas que se perpetua com as criação dos clãs, quer dizer, não ideias, mas famílias, gerações tomando conta do Estado brasileiro. A política velha”, afirmou Manuela.
Segundo a deputada, os trabalhadores brasileiros terão dois desafios principais no futuro governo. “Bolsonaro anuncia de um lado um governo ultraliberal com Guedes, e de outro lado um governo ultra-autoritário e de perseguição contra a esquerda”, disse.
A deputada diz que é preciso “resistir a um conjunto de reformas que serão propostas por Bolsonaro, ultraconservadoras, como a reforma da Previdência, e que tendem a contar com o apoio da elite financeira do país de maneira muito intensa porque essa é uma agenda que interessa ao sistema bancário”. “Nós estaremos diante de um governo que buscará tirar ainda mais direitos dos mais pobres”, advertiu.
“Por outro lado, temos que garantir uma unidade política mais ampla em defesa da democracia. É preciso estarmos unidos enquanto campo para resistirmos a um projeto, resistirmos no Congresso e mobilizando a população”, frisou.
Para Manuela, houve uma regressão na política brasileira com a eleição de Bolsonaro. “Sabemos que o crescimento da extrema direita é um processo global, porque a crise do capitalismo é muito grande e o capitalismo no nosso tempo, ao que tudo indica, não tem mais compromisso com saídas democráticas para o mundo. Nós achávamos no Brasil que tínhamos diferença com os outros [países], mas todos concordávamos que não voltaríamos atrás [da Constituição] de 1988 e, ao que tudo indica, estamos voltando para trás de 1988”, declarou.