Para macaquear Donald Trump, a pedido da equipe do presidente eleito, o Itamaraty enviou um comunicado aos governos de Cuba e da Venezuela, desconvidando seus representantes a comparecer na posse presidencial, em 1º de janeiro de 2019. Os dois países tinham recebido os convites para a cerimônia em novembro.
Nunca houve um ato de submissão tão grande aos EUA, aliás, à camada mais retrógrada dos Estados Unidos como nesse caso.
Como é de praxe, para todos os países os quais o Brasil tem relações diplomáticas, o Itamaraty despachou correspondência convidando os presidentes de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e da Venezuela, Nicolás Maduro. Depois, por determinação de Jair Bolsonaro, eles foram desconvidados, acarretando um vexame inédito para a diplomacia brasileira.
O pedido veio após o futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, negar que o Itamaraty havia convidado Nicolás Maduro para o evento. Na manhã de domingo (16), o chanceler de Bolsonaro afirmou pelo Twitter que “por respeito ao povo venezuelano“, o presidente daquele país não seria convidado.
O presidente eleito já havia dito que nem Nicolás Maduro nem Miguel Diáz-Camel seriam convidados, durante sua passagem para tomar água de coco em um quiosque na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro. “Ele, Maduro, com certeza não vai receber um convite para a posse. Nem ele, nem o ditador que substituiu Fidel Castro… Fidel Castro, não, Raúl Castro”, disse, sem sequer saber o nome do presidente de Cuba.
Logo após o posicionamento de Araújo, o chanceler venezuelano Jorge Arreaza publicou em seu Twitter que o Brasil havia sim convidado o presidente venezuelano. Ele divulgou imagens de um documento enviado pelo Ministério das Relações Exteriores, em 29 de novembro, que avisa que a embaixada venezuelana em Brasília receberia mais detalhes da cerimônia.
Esta é a primeira vez, desde a redemocratização, que um país fica de fora do convite diplomático para participar da posse presidencial. Mais absurdo ainda, quando se trata de dois países com quem o Brasil tem relações diplomáticas, assim como tem com a Ucrânia e com a Coreia Popular – independentemente dos seus regimes internos.
Aliás, esta sempre foi uma marca da diplomacia do Brasil. As relações entre Brasil e China, por exemplo, foram retomadas em 1974, em plena ditadura, com o acordo sobre a criação e funcionamento da Embaixada do Brasil em Pequim e a Embaixada da China em Brasília. O mesmo aconteceu em relação a Angola.
Houve uma única exceção – logo após o golpe de 64, quando Castelo Branco rompeu relações com Cuba. Mas foi preciso um golpe de Estado para isso acontecer. E foi também um ato de subserviência perante os EUA, que se repete agora em relação a Donald Trump.
O chanceler de Bolsonaro, Ernesto Araújo, já disse que Trump é a salvação do Ocidente. E mais recentemente declarou que o “céu é o limite” nas relações com os EUA. Para ele, o presidente dos EUA salva a civilização ocidental do “islamismo radical” e do “marxismo cultural globalista”.
“Aos olhos do mundo, a política externa brasileira passará a ser comandada por um discípulo do trumpismo”, disse uma fonte do Itamaraty, quando Araújo foi anunciado ministro.
Bolsonaro praticou uma sessão de vassalagem explícita no dia 29 de novembro, em sua residência no Rio de Janeiro, ao receber o conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, John Bolton. Ao ver o funcionário de Trump entrar, Bolsonaro imediatamente bateu continência.
O ato foi presenciado pelo futuro ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva; por Ernesto Araújo e pelo futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno.
Bolsonaro também quer mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv, Israel, para Jerusalém, outro ato de seguidismo automático perante Trump, que reconheceu Jerusalém como capital de Israel, em dezembro de 2017, causando protesto em todo mundo, porque rompe com o consenso internacional de não reconhecer a cidade como capital da Palestina ou de Israel até que um acordo de paz seja firmado entre as duas partes.
Só a Guatemala seguiu a decisão de Trump e agora Bolsonaro.
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