Reunido nesta segunda-feira (17) em almoço com empresários na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Paulo Guedes disse que vai cortar verbas do Sistema S”, grupo que reúne instituições como Senai, Sesi, Senac, Sebrae, responsável por programas de formação profissional e políticas de cultura e lazer. “Como é que você diz que tem que cortar isso e cortar aquilo e não vai cortar o Sistema S? Vou cortar sim. Vou meter a faca”, disse ele.
Os empresários fluminenses, que organizaram o almoço para ouvir o que o Ministro de Bolsonaro tinha a dizer, reagiram com surpresa e indignação diante das declarações de Guedes. Ao ouvir vaias do público após a declaração, ele não teve a menor cerimônia em desrespeitar o setor produtivo presente e rebatê-lo, imitando os que protestavam. “Uhhh!”, uivou ele, ao microfone. “Vocês acharam que não iria haver cortes?”, indagou aos que vaiavam. “Vai ter sim”, acrescentou Guedes, numa atitude desrespeitosa ao empresariado industrial.
O “guru” de Bolsonaro seguiu desprezando o trabalho realizado pelos empresários no sistema S. Disse que “o almoço não vai continuar sendo tão bom como o de hoje” e que quem obedecer as suas prioridades “terá cortes menores, para não doer muito”. “Se tivermos interlocutores inteligentes, preparados e dispostos a construir, como ele [apontando para o presidente da Firjan], a gente corta 30%. Se não tiver, cortamos 50%”, anunciou, rindo. O recado é claro. Ou a indústria aceita que a prioridade será cortar investimentos no setor produtivo para pagar os bancos, ou os cortes serão ainda maiores.
Em nota, a Firjan foi obrigada a reagir. “É evidente que, como parte desta interlocução, será possível expor o papel fundamental desempenhado pelas entidades que compõem o Sistema S na formação da mão de obra e na parceria em áreas críticas e habitualmente desassistidas como saúde e educação”, diz a nota. O documento, que aponta um inexistente “clima de diálogo” e diz que deve haver contribuição dos empresários para as contas da União, cobra que “será importante que o Governo esteja aberto a ouvi-las para compreender, em toda a sua dimensão, o papel social inestimável das instituições que integram o Sistema S em todo o Brasil”.
Essas organizações são sustentadas com dinheiro arrecadado por meio de contribuições que as empresas pagam sobre o valor da sua folha de pagamento. As contribuições variam de 0,2% a 2,5% das folhas de pagamentos. As indústrias, por exemplo, recolhem 1% ao Senai, 1,5% ao Sesi, sobre a folha de pagamento. As empresas do comércio recolhem 1,5% ao Sesc. O dinheiro arrecadado pelo governo é distribuído integralmente para as entidades. O total arrecadado e repassado ao sistema foi de R$ 16 bilhões em 2017.
Este modelo, que hoje se convencionou denominar Sistema S, surgiu com a criação das Escolas de Ofício e Politécnicas. Ambas tinham foco prioritário o ensino técnico e profissionalizante, de base industrial. O Senai e o Senac surgiram na década de 1940, para acompanhar a industrialização. O “plano” de Guedes e Bolsonaro não tem nada a ver com industrialização. Sua preocupação principal parece ser agradar Donald Trump e fortalecer as indústrias americanas – vide o caso da Boeing. A nota não deixa de ser uma tentativa dos empresários de protestar contra o estrago feito por Guedes na “cerimônia”.
Essa fixação em deslocar recursos do setor produtivo para pagar juros não é nova. Em setembro de 2015, durante o Governo Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda Joaquim Levy – que integra o governo Bolsonaro – tentou reter 30% do valor recebido pelo Sistema S Entretanto. A ideia foi barrada por conta da posição contrária dos empresários á época. Eles argumentaram que a medida levaria à possibilidade de não atendimento de quase três milhões de pessoas.
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