O secretário do Pentágono, general James “Mad Dog” Mattis, anunciou na quinta-feira (20) que vai se aposentar no fim de fevereiro, o que, segundo a mídia dos EUA, se deve a sua discordância da decisão do presidente Trump de retirar da Síria as tropas norte-americanas que lá estão, ilegalmente, desde o governo Obama.
Em carta dirigida a Trump, Mattis disse acreditar ser “o correto” sua demissão, já que Trump tem o direito de ter “um secretário de Defesa com opiniões mais alinhadas às suas nesse e em outros assuntos”.
O apelido de Mattis, Mad Dog, Cachorro Doido, pegou quando ele comandou no Iraque, a ferro e fogo, o ataque à rebelada cidade de Faluja, um dos maiores crimes de guerra da época.
Trump anunciou subitamente a decisão de saída na quarta-feira, embora não haja definido uma data para término. Os funcionários do “Departamento de Estado” teriam de partir “imediatamente”. Ele disse ainda que os EUA “venceram a guerra contra o Estado Islâmico”, que seria a “única razão” para tropas norte-americanas “estarem na Síria sob o governo Trump”.
Pelo Twitter, o presidente bilionário agradeceu a Mattis, dizendo que este fora de “grande ajuda para fazer nossos aliados e outros países pagarem suas partes nas obrigações militares” – isto é, pela ocupação.
Também elogiou o empenho de Mad Dog para atender à sede de encomendas, dólares e sangue das corporações bélicas ianques. Em entrevista em outubro, Trump indicara que Mattis poderia sair, ao comentar que ele era “um tipo de Democrata”.
Em Washington, a bancada da guerra não perdeu tempo em condenar a retirada dos soldados norte-americanos – que são mais de dois mil, e em grande parte tropas especiais. O “Lockheed-boy”, senador republicano Lindsey Graham, repeliu a saída da Síria, no que foi acompanhado por colegas democratas, inclusive a líder na Câmara, Nancy Pelosi.
Como notou o colunista da RT, Neil Clark, os liberais, que há cinqüenta anos atrás marchavam contra as guerras imperialistas assobiando músicas de Pete Seeger, fazem agora coro com as viúvas do Pentágono, para chamar a saída da Síria de uma verdadeira calamidade. Tornaram-se fanáticos adeptos do “imperialismo humanitário” e das invasões para “salvar” quem não pediu para ser salvo.
A CNN – também conhecida como Clinton News Network – considerou que Trump estava dando a Síria “de presente para a Rússia e o Irã”.
Os EUA não tem o mínimo direito de terem tropas na Síria, já que não há resolução do Conselho de Segurança da ONU permitindo, nem foi convidado pelo governo sírio. É uma invasão pura e simples, e o pretexto, o Estado Islâmico, foi parido com fornida ajuda em armas e dólares de Washington e Riad, como no célebre documento da agência de inteligência do Pentágono (DIA) que previa a formação de um “califado” exatamente como se deu.
Se Trump cumprir o que está dizendo, questão sobre a qual não existe qualquer garantia, a retirada das tropas ilegais dos EUA deixará de ser um obstáculo a uma solução política para a Síria, depois que a questão militar, a vitória síria contra os mercenários fantasiados de jihadistas, praticamente está resolvida. A saída foi decidida após o presidente turco Erdogan dizer que ia para cima dos curdos sírios aliados com os norte-americanos de qualquer jeito.
Em Moscou, o presidente Vladimir Putin, em sua entrevista coletiva de fim de ano, considerou positiva a notícia da saída, mas registrou que faz muito tempo que a toda hora os EUA anunciam que vão se retirar do Afeganistão, e já lá estão há 17 anos.
ANTONIO PIMENTA