Os coletes amarelos, movimento que pôs em cheque a política de arrocho do presidente francês, Emmanuel Macron, voltou a tomar as ruas de várias cidades do país, principalmente o centro de Paris, em sua sexta jornada.
Esta vez, no sábado, 22, os manifestantes despistaram a repressão: anunciaram nas redes sociais uma grande marcha em Versalhes (a oeste de Paris), mas se apresentaram de surpresa nas escadarias da Basílica do Sagrado Coração, no bairro de Montmartre, no extremo norte da capital.
O movimento teve início em 17 de novembro, após Macron ter anunciado um “imposto ecológico” sobre o diesel, que todos usam, e que já tivera aumento de 23% em 12 meses. As exigências de corte nos impostos logo se estenderam à denúncia do congelamento nos salários e da redução nas aposentadorias. As centrais sindicais se somaram. A renúncia do presidente passou a ser exigência constante nas ruas da França.
A sexta jornada de protestos teve mais uma novidade: foram bloqueadas várias passagens fronteiriças com a Espanha, Bélgica e Itália. E, no mesmo sábado teve sua réplica em Portugal. Um dos grupos que chamaram a mobilização, Movimento Coletes Amarelos Portugal, num manifesto divulgado na quarta-feira, 19, propõe uma redução de impostos na eletricidade, uma diminuição do IVA e do imposto para as micro e pequenas empresas, além de aumento de salário.
Em Paris, os participantes, vestidos com seus simbólicos coletes fluorescentes, desceram desde Montmartre até as imediações do Palácio presidencial Champs Elysées, e depois se dispersaram pelo centro da cidade, mantendo o caráter pacífico. Marcharam pelas avenidas dos pontos turísticos da capital francesa, junto ao Arco do Triunfo e pela zona dos Grandes Bulevares, recebendo a simpatia e o apoio da população.
Em resposta às intensas manifestações, depois do quarto sábado de protestos, Macron, após reunião com lideranças parlamentares, ministros, líderes sindicais, de movimentos sociais e patronais, já tinha anunciado a elevação do salário mínimo e corte de impostos sobre aposentadorias.
Porém, os líderes dos Coletes Amarelos consideraram as concessões governamentais como “migalhas” e “cortina de fumaça” – o “aumento do salário mínimo” não é para todos, e apenas estende um abono já previsto. As aposentadorias serão reajustadas abaixo da inflação. Ao cortar o pagamento de encargos nas horas extras, Macron está fragilizando a Previdência Pública e atendendo à entidade patronal Medef.
Agora, o Parlamento francês aprovou em definitivo nesta sexta-feira à noite as medidas de urgência de 10 bilhões de euros para reduzir a pressão fiscal e aumentar o poder aquisitivo. As manifestantes, porém, ainda não parecem dispostos a encerrar os protestos que provocaram a pior crise desde que Emmanuel Macron chegou ao poder, há 19 meses.
Na semana passada, manifestação encabeçada pela principal central sindical, a CGT, exigiu o salário mínimo de 1.800 euros, fim da supressão das conquistas dos aposentados, volta dos acordos coletivos e uma política industrial.
O ministério do Interior informou que foram realizadas 220 detenções em toda a França, 142 em Paris. Sob a acusação de portar uma arma proibida, a polícia deteve Eric Drouet, um dos líderes do movimento.
SUSANA LISCHINSKY