A guarda de fronteira do regime Trump anunciou a segunda morte de uma criança imigrante sob sua custódia em menos de um mês, ambas guatemaltecas. A primeira foi Jakeline Caal, de sete anos, enterrada no dia de Natal (25) na pequena aldeia natal de San Antonio Secortez – mesmo dia da morte de um menino de oito anos, cujo nome ainda não foi divulgado.
Segundo a Gestapo da fronteira de Trump, o menino morreu pouco depois da meia noite e havia mostrado horas antes “sinais de doença em potencial”. A causa da morte não foi determinada.
O comunicado registra que a criança e seu pai foram levados na segunda-feira para um hospital em Alamogordo, Novo México, onde o pequeno foi diagnosticado com um “resfriado comum e febre”, recebeu prescrições de amoxicilina e ibuprofeno e foi liberado à tarde. Por estar vomitando, o menino retornou ao hospital à noite, mas acabou falecendo poucas horas depois.
A agência de fronteira não revelou quando o pai e o filho entraram nos EUA ou há quanto tempo estavam aprisionados, limitando-se a dizer no comunicado que o menino havia sido “previamente detido”. Também foi omitido o nome do pai, e só foi feita vaga promessa de divulgar detalhes quando “disponível e apropriado”. Alamogordo fica a 145 km da fronteira.
A morte sob custódia do menino imigrante de oito anos deverá ampliar o repúdio internacional à política xenófoba e racista de Trump. A morte de Jakeline já levara o relator especial da ONU sobre os direitos humanos dos imigrantes, Felipe Gonzáles Morales, a enviar queixa formal ao secretário de Estado, Mike Pompeo. A menina morrera menos de 48 horas após o grupo de 161 imigrantes, entre eles seu pai, haver se entregado na fronteira para solicitar asilo.
O relator da ONU exigiu uma investigação especial independente e completa, em que a família estivesse legalmente representada, e o fim imediato da detenção de crianças imigrantes para evitar mais mortes absurdas.
“Quando uma pessoa, especialmente uma criança, está sob custódia de um Estado, esse Estado tem que garantir seus direitos. Os Estados têm a obrigação de cuidar dos migrantes que chegam à fronteira, não podem tratá-los como animais em condições desumanas. Não estou dizendo que isso aconteceu neste caso, mas os EUA têm um dever a esse respeito ”.
O relator acrescentou que, diante de algo tão sério quanto a morte de crianças, “um inquérito interno” das próprias autoridades envolvidas “não seria satisfatório”.
Para González, essa investigação deveria determinar se Jakeline e sua família haviam sido colocadas em ” hieleras ” – celas da guarda da fronteira há anos denunciadas por temperaturas congelantes e com os detidos dispondo apenas de mantas de alumínio para se cobrirem.
No início desta semana, foi revelado que um bebê de cinco meses havia sido hospitalizado na Carolina do Norte com pneumonia. Sua mãe migrante culpou as condições congelantes sob custódia.
Apesar de ter feito duas solicitações formais ao governo Trump, para poder fazer uma visita oficial aos centros de detenção e postos da guarda da fronteira, o relator da ONU não recebeu qualquer resposta.
Na paupérrima Secortez, a 300 km da capital da Guatemala, familiares e vizinhos receberam o caixão branco com o corpo de Jakeline e improvisaram um altar, num estranho Natal.
“Nunca a vi tão feliz como no dia em que saiu junto com seu pai rumo aos Estados Unidos”, relatou ao El País a mãe de Jakeline, Claudia Maribel, de apenas 27 anos.
“Me deu um beijo e me disse: ‘quando tiver idade para trabalhar, vou te mandar dinheirinho para que você e meus irmãozinhos possam viver bem. Enquanto isso, vou cuidar de meu pai e aprender inglês”.
A casa dos Caal é de paredes de tábua e teto de palha, não tem eletricidade nem água potável. Conforme os dados oficiais, 6 em cada 10 estão abaixo da linha da pobreza na Guatemala.
Enquanto Trump quer de qualquer maneira seu muro e tenta jogar contra os imigrantes a cólera provocada nos EUA pela exacerbação da desigualdade, egoísmo e ostentação sob o neoliberalismo versão Wall Street & Pentágono, multidões de famintos e miseráveis da Guatemala, Honduras e El Salvador, sem emprego, sem terra e sem perspectiva, não param de chegar à fronteira. Tangidos pela miséria e violência que o intervencionismo ianque semeou por décadas na América Central, e por uma seca inclemente que já dura cinco anos.