Dezenas de milhares de pessoas marcharam em Moscou nos cem anos da revolução russa, em ato encabeçado pelo líder comunista russo Guenadi Ziuganov e representantes de 80 países. “A Revolução de Outubro abriu uma nova era, despertou continentes e povos”, afirmou Ziuganov. A primeira revolução socialista da história arrancou a Rússia das trevas do czarismo e da guerra, para a paz, o coletivismo, a industrialização, a independência econômica, a era espacial. Graças à União Soviética, o nazismo foi esmagado e a descolonização avançou.
Dezenas de milhares de pessoas marcharam em Moscou para comemorar os cem anos da revolução russa, em ato encabeçado pelo líder comunista russo Guenadi Ziuganov e representantes de 130 partidos progressistas de 80 países. “A Revolução de Outubro abriu uma nova era, despertou continentes e povos”, afirmou Ziuganov aos manifestantes com retratos de Lenin e Stalin, muitos deles jovens, que responderam: “Revolução! Revolução!, Revolução!, o Aurora pronto disparará!”. No ato também eram vistas bandeiras de muitos países, inclusive a brasileira, e retratos de Mao Tse Tung e ainda do Che.
A manifestação teve início na Praça Pushkin e se encerrou no tradicional ponto de encontro dos comunistas, na Praça da Revolução, perto do Teatro Bolshoi. A primeira revolução socialista da história arrancou a Rússia das trevas do czarismo e da guerra – uma guerra entre bandidos imperialistas, como caracterizou Lenin -, para a paz, o coletivismo, a nacionalização da terra, o fim do latifúndio, a industrialização, a independência econômica, a era espacial. “Paz, pão, terra, todo poder aos Sovietes”, o brado que continua reverberando mundo afora.
Graças à União Soviética, a feroz máquina de guerra nazista foi esmagada e a descolonização avançou, sem que as potências imperialistas remanescentes pudessem impedir. Direitos que a revolução instituiu, como creches, fim do analfabetismo, voto das mulheres, educação e saúde públicas, acabaram se estendendo ao mundo inteiro, num novo marco civilizatório. “A Revolução de Outubro é um grande marco da Humanidade e se falará de suas conquistas durante séculos”, proclamou Ziuganov.
No mesmo dia, no Kremlin foi reeditado o desfile militar de 1941 – de comemoração da vitória da revolução -, em que o Exército Vermelho, após se apresentar diante do grande Stalin, marchou para a batalha e deteve às portas de Moscou a ofensiva do exército hitlerista, o que acontecia pela primeira vez no curso da II Guerra Mundial, em que até então as blitzkriegs nazis sempre haviam prevalecido (veja matéria).
AURORA
Em São Petersburgo – que em 1917 era Petrogrado e depois se tornaria Leningrado -, as comemorações incluíram a exibição, na Praça do Palácio, de um espetáculo de projeção com os acontecimentos de cem anos atrás. Nos dias 2 e 3, também foi realizada uma conferência de partidos progressistas do mundo inteiro, cuja presença foi saudada pelo presidente Putin.
Essas delegações visitaram o encouraçado Aurora, ancorado no rio Neva – cujos disparos contra o Palácio de Inverno marcaram o fim do governo pró-guerra, pró-latifundiário e pró-burguês de Kerensky -, o Palácio Tauride – onde Lênin apresentou suas “Teses de Abril” – sobre as tarefas para evitar a catástrofe que ameaçava a Rússia e para garantir a vitória dos operários e camponeses -, e o Instituto Solmny, aonde Lênin anunciou aos delegados do 2º Congresso dos Sovietes que o poder fora tomado, a que se seguiu a aprovação dos decretos sobre a paz e a terra e a instituição do primeiro governo de operários e camponeses.
Ziuganov assinalou que a Revolução “trouxe a paz aos povos, o pão para os famintos e a terra para os camponeses”. Ele destacou que a revolução “não foi apenas um passo para a realização de transformações políticas e sociais para a Rússia, mas também para o mundo inteiro”. A Humanidade – enfatizou – “avançou com a Revolução de 1917” e os valores que infundiu, como trabalho, fraternidade, coletivismo e liberdade.
Foi sob a direção de Lênin e Stalin, acrescentou Ziuganov, que o país cresceu, tornou-se a potência soviética e “foram alcançadas grandes conquistas econômicas, sociais, culturais e científicas”. Do grande ensaio geral que foi o plano de eletrificação de toda a Rússia – pela primeira vez na história -, chegou-se ao planejamento econômico centralizado, de que a nacionalização dos bancos e o controle estatal do comércio exterior eram partes essenciais.
26 anos após a traição capitaneada por Gorbashev e Yeltsin, e que culminou a capitulação desencadeada por Krushev, essas ratazanas estão na lata do lixo da história. Em compensação, o nome de Stalin, conforme pesquisa feita em julho pelo Levada Center, – a exemplo de anos anteriores – é considerado “o maior personagem da história mundial”, ficando atrás dele Alexander Pushkin, o poeta nacional russo, e o presidente Vladimir Putin, e com Lênin em 4º. Nos tempos mais recentes, outros nomes de líderes da revolução tem sido cada vez mais considerados como exemplos a retomar, como Felix Dzerzhinsky, que criou as bases para a defesa do Estado soviético.
Como apontou Ziuganov, o fim da União Soviética implicou em um “imenso retrocesso” econômico, político e social para os povos euroasiáticos e “uma tragédia para o mundo inteiro”. Ele também classificou a globalização de “expressão do imperialismo”.
Ziuganov conclamou aqueles que dentro da Rússia ainda temem as bandeiras vermelhas a admitirem que “a época soviética foi o cume da civilização mundial”. Ele lembrou que, depois de ter 20% da produção mundial, a Rússia passou a ter somente 3%, o que se reflete em fatos de que, agora, nos aeroportos russos “só há Boeings e Airbus”.
Apesar de tudo, a Rússia manteve estatal boa parte da indústria pesada e a realidade das sanções vem colocando na ordem do dia a recuperação da produção interna de bens de consumo e da agricultura. No mundo inteiro, se fala de um “renascimento russo”, depois daqueles dias tenebrosos de Yeltsin e Gaidar, privatizações, máfia e conselheiros americanos.
Sob as pressões contra a soberania russa, o governo Putin tem se movido no sentido de política externa independente, o que decidiu a sorte da Síria favoravelmente, ao contrário do que vinha ocorrendo desde 1991. Em reação ao golpe da CIA na Ucrânia, a Crimeia em referendo se reunificou à Rússia e o Donbass se levantou contra os banderovistas.
Nesse sentido, a festa dos 100 anos não é – como registrou Ziuganov – “coisa do passado, mas do presente”. “Seguimos lutando pelo socialismo e a paz entre os povos, pela causa de Lênin e de Outubro de 1917”. Declaração dos 130 partidos do mundo inteiro conclamou pela construção de uma ampla frente anti-imperialista, na luta pela paz, contra as agressões do imperialismo, as armas nucleares, as bases militares, a Otan e o belicismo.
ANTONIO PIMENTA