“… e Jesus subiu a Jerusalém.
“Achou no templo, sentados, os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e também os mercadores de moeda;
“e tendo feito um azorrague de cordas, expulsou a todos do templo, as ovelhas bem como os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos mercadores de moeda, virou as mesas
“e disse aos que vendiam as pombas: Tirem daqui essas coisas; não façam da casa de meu Pai uma casa de venda.”
(Evangelho Segundo João 2:13-16)
Presidente da CNA recusa “convite” de Netanyahu
Benjamin Netanyahu, o “irmão” de Bolsonaro que este e seus sequazes promoveram à estrela da posse – haja indigência – é um sujeito muito sem limites (aquilo que o povo chama de “falta de simancol”, ou, simplesmente, descaramento).
O episódio, no domingo, em que Netanyahu, no Rio de Janeiro, foi vaiado ao tentar subir ao Corcovado, onde se localiza o monumento do Cristo Redentor – e, ao final, foi obrigado a desistir de chegar perto da estátua – revela bem o perfil do elemento.
A estátua do Cristo Redentor foi inaugurada em 1931, pelo presidente Getúlio Vargas, como um símbolo do cristianismo do povo brasileiro – daí, a data da inauguração, 12 de outubro, também dia de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil.
Isso não quer dizer, obviamente, que cidadãos, do Brasil e de outros países, que não são cristãos – muçulmanos, judeus, budistas, etc. – não possam visitá-lo.
No entanto, as pessoas vão ao Corcovado para ver o Cristo Redentor. Netanyahu foi lá para ser visto. É uma diferença que as pessoas percebem, ainda que, muitas vezes, de maneira confusa, pela irritação com o atropelo aos demais visitantes, por parte de Netanyahu e seus guarda-costas – uma pequena amostra do seu comportamento habitual, até quando está encenando o papel de bom moço (cáspite!).
O Cristo Redentor é um símbolo de paz – algo que quase qualquer um pode entender e desejar. Mas não um sujeito como Netanyahu.
“PERSEGUIDO”
Na sexta-feira, Netanyahu convocou o presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Martins da Silva Junior, para uma reunião na segunda-feira, 31/12, em que pretendia convencê-lo de que o Brasil deve mudar sua embaixada em Israel para Jerusalém.
O presidente da CNA recusou o “convite”. Mandou dizer que tinha uma viagem marcada para a mesma data da reunião convocada por Netanyahu.
Assim, Netanyahu, acusado pela polícia de Israel de roubar dinheiro público – isto é, receber propinas sob várias formas –, andou pelo calçadão de Copacabana, entrou na areia da praia de calça, camisa polo, sapatos e meias, e, vestindo a mesma indumentária, deu uma canelada numa bola que algum gaiato chutou em sua direção.
O que Netanyahu está fazendo no Brasil?
Não, leitor, ele não veio para a posse de Bolsonaro.
Esse foi o pretexto – aliás, ele nem ia ficar para a posse.
Além de descansar da terrível “perseguição política” que lhe move a polícia israelense (não, leitor, não se trata do Lula; em seu perfil no Facebook, Netanyahu escreveu: “sou vítima de uma campanha de perseguição política”), o que faz ele por aqui?
Netanyahu, no Brasil, está fazendo campanha eleitoral em Israel – onde marcou eleições para abril.
Finalmente, arrumou um país onde foi eleito um presidente que é tão puxa-saco de Trump, que até prometeu segui-lo na mudança da embaixada brasileira para Jerusalém – contra as resoluções da ONU, contra a legislação internacional, contra a política tradicional do Brasil, e contra o consenso da comunidade dos países.
É verdade que não é somente por ser puxa-saco de Trump que Bolsonaro puxa também o saco desse corrupto e sanguinário Netanyahu (v. Bolsonaro confraterniza com criminoso corrupto de Israel).
A atração que Israel (isto é, sua ala direita, hoje no poder) exerce sobre todo fascista no mundo, desde os nazistas do apartheid sul-africano – aos quais apoiou, inclusive assinando um acordo, em 1975, para treinar a repressão na África do Sul – é aquela que todo fascista e racista no poder exerce sobre outros fascistas e racistas, sobretudo sobre aqueles que não estão no poder ou chegaram depois.
Uma das considerações mais interessantes de William L. Shirer, em seu “Ascensão e Queda do IIIº Reich”, foi aquela sobre a fascinação que Mussolini exercia sobre Hitler, mesmo depois que este era obrigado a tirar as castanhas do fogo para aquele.
Netanyahu, evidentemente, está se lixando para o Brasil – mais ainda, evidentemente, do que está se lixando para Israel, onde seu roubo e política criminosa não são um exemplo de cuidado para com o seu país.
É preciso ser muito estúpido – e esse é o caso de Bolsonaro – para achar que Netanyahu é amigo de alguém. Muito menos, “irmão”.
Não sabemos se Bolsonaro realmente acha que Israel vai resolver os problemas do Brasil, embora alguns membros da sua entourage digam essa asneira abertamente.
Bolsonaro nem mesmo parece saber que existe um Acordo de Livre Comércio do Mercosul com Israel, assinado pelo governo Lula em 2007, que entrou em vigor, para o Brasil, em 2010, também sob a Presidência de Lula.
Os resultados desse acordo foram ridículos, até porque o interesse de Israel – pequeno país com apenas um pouco mais que metade da população da cidade de São Paulo – não está em importar produtos brasileiros, mas em exportar, para o Brasil, produtos israelenses.
Embora o problema principal seja o puxa-saquismo em relação a Trump – até agora, só a Guatemala seguiu os EUA na mudança de local da embaixada -, do ponto de vista dos interesses comerciais, também seria um disparate.
As exportações brasileiras – sobretudo de produtos agropecuários – para os países árabes somam US$ 13,5 bilhões, com um superávit, para o Brasil, de US$ 7,17 bilhões (dados da Secex/MDIC referentes a 2017).
As exportações para Israel, no mesmo período, somaram US$ 466 milhões, com um déficit comercial de US$ -419 milhões.
Portanto, nossas exportações para os países árabes são 29 vezes àquelas para Israel.
E nosso superávit com os árabes é infinitamente maior – já que, com Israel, nós temos déficit.
E isso com um Acordo de Livre Comércio que existe com Israel, mas não existe com os países árabes.
Tanto em um quanto em outro caso, a pauta de exportação do Brasil é constituída, sobretudo, por produtos agropecuários.
Netanyahu, portanto, tal como os vendilhões do templo, está vendendo vento. Ou, no máximo, a impressionante tecnologia de Israel na repressão ao povo, adquirida em décadas de banho de sangue sobre os palestinos.
Quanto a comprar, ele não quer comprar nada, além da pequena quantidade de produtos brasileiros que Israel já compra.
Não por acaso, o presidente da CNA mandou Netanyahu às favas.
Porém, Jesus Cristo foi mais severo. Nem deixou o sujeito chegar perto da sua estátua – talvez porque não pudesse movê-la do lugar sem criar uma grande comoção no Rio de Janeiro, quiçá no mundo.
C.L.
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