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A imprensa passou por maus bocados para cobrir a posse de Jair Bolsonaro, nesta terça-feira (1º), cercada de um grande esquema de segurança.
No CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em Brasília, onde funcionou o governo de transição do presidente eleito, um repórter teve uma maçã confiscada. Os seguranças justificaram que só poderia seguir com a fruta se ela estivesse cortada. Outro jornalista teve um garfo confiscado.
A comunicação do Planalto disse que a proibição de “frutas redondas” e inteiras como maçãs, peras ou laranjas ocorreu para evitar que elas fossem arremessadas na direção do Planalto.
Na chegada ao Congresso Nacional, os profissionais da imprensa enfrentaram filas, raio X e detector de metais na entrada do prédio. O cerimonial também proibiu que a imprensa levasse garrafas d’água na mochila.
Jornalistas designados para cobertura no Salão Verde da Câmara dos Deputados só puderam circular dentro desta área. E até mesmo o acesso ao comitê de imprensa, área onde os jornalistas costumam trabalhar no Congresso, foi proibido. Só 25 jornalistas entraram no plenário da Câmara para acompanhar a posse. Os outros tiveram que assistir no telão do Salão Verde. Cerca de 600 jornalistas foram credenciados para a cerimônia de posse.
Miriam Leitão, na sua coluna em “O Globo”, descreveu a situação precisamente, ao dizer que nem na época da ditadura houve algo semelhante:
“… o que está acontecendo com os jornalistas é impensável e inaceitável. Cubro posse desde o general João Figueiredo. Nunca houve nada tão restritivo. Naquela época, eu era uma jovem jornalista e tive acesso a vários pontos da cerimônia, circulei, fui convidada para o jantar de gala porque era responsável pela cobertura do Itamaraty. Lá pude falar com os novos ministros.”
Miriam Leitão era ex-presa política, torturada no aparato de repressão da ditadura. Mesmo assim, na posse de Figueiredo – um ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) – não enfrentou nada parecido ao que houve na posse de terça-feira.
“Durante a campanha e a transição”, escreveu ela em sua coluna, “os sinais de hostilidade à imprensa, ou pelo menos à parte da imprensa que não está disposta a simplesmente fazer a louvação dos novos poderosos, foram muitos. Este sinal de usar as regras de segurança para impor restrição física aos jornalistas e de exigir um desgaste fisico, de horas de espera além do razoável, é um perigoso precedente.”
Igual aos petistas, bolsonaristas gritaram “Globo lixo” para jornalistas na Praça dos Três Poderes. “Queremos a Record”, diziam eles, que elogiavam também o SBT. Na segunda-feira (31/12), Bolsonaro deu uma entrevista só para a TV Record.
Depois da tentativa de assassinato físico, por Adélio e da tentativa de assassinato moral, pela grande mídia, o que os jornalistas queriam? Serem recebidos com honras de Estado? A equipe de segurança estava correta. Nunca podemos subestimar inimigos e ninguém traz estrela na testa. Nunca podemos nos esquecer do assassinato de Kennedy. “Vigiai e orai, pois não sabeis o dia e a hora do ladrão”, diz a Biblia.
Kennedy não foi assassinado pelos jornalistas. Aliás, foi assassinado pelo correspondente aos bolsonaristas nos EUA, naquela época. Mas, pelo jeito, a liberdade de imprensa – ou de opinião – para você é a mesma coisa que a liberdade para apoiar o Bolsonaro.