A Polícia Militar do Ceará considerou como “inverídica” a fala do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que afirmou que “40% do efetivo da polícia está de férias agora”, em meio à crise de segurança pública vivida no estado. A declaração foi feita em crítica ao governador do estado Camilo Santana que, segundo ele, “sempre tratou mal a PM”. Em seis dias, foram registrados 153 ataques de facções criminosas no estado.
Mourão, que assumiu a vice-presidência no dia 1º de janeiro, ignorou a situação de crise em que se encontra a população cearense e tentou culpar o governador do estado, dizendo que ele seria responsável pelo “problema”.
“O problema é do governador, que sempre tratou mal a PM. E pelas informações que recebemos, 40% do efetivo da polícia está de férias agora. Como ele pode deixar isso?”, disse, segundo o site Antagonista.
Em nota, a corporação desmentiu Mourão e destacou que apenas “8,33% do efetivo da Corporação pode gozar de férias durante cada mês”. A PM relembra ainda que cumpre a norma prevista na Portaria 014/2018 – CAD/CCP/CGP, publicada em Boletim do Comando Geral, nº 163, de 30 de agosto de 2018.
Segundo a PM-CE, seria “irresponsabilidade do Comando da Corporação” liberar 40% do seu efetivo para férias simultaneamente. “A Polícia Militar do Ceará enfatiza ainda, que na manhã de hoje (4 de janeiro) 371 novos Policiais Militares foram empregados para reforçar a segurança pública do estado, inclusive, todos os dias, estão sendo empregados policiais militares no serviço extra (Indenização de Reforço Operacional / IRSO), além do efetivo administrativo que está sendo convocado para reforçar o policiamento em todo o estado”, disse a corporação.
ATAQUES
Desde a noite de quarta-feira (2), o Ceará é alvo de ataques articulados contra prédios públicos, ônibus e empresas privadas, além de uma série de ações criminosas, sobretudo na Região Metropolitana de Fortaleza. Foram registrados 153 ataques no estado, inclusive com a detonação de explosivos em pontes e torres de celular, incêndios de veículos públicos, além de ataques a prédios como câmara de vereadores e fóruns de justiça.
A onda de crimes começou um dia depois do titular da recém-criada Secretaria da Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, dizer que não reconhecia facções no Estado e que não separaria mais os presos de acordo com a ligação com essas organizações. Os grupos criminosos são os principais suspeitos de serem os autores dos ataques.
Para conter a onda de violência, o governador antecipou a nomeação de 593 agentes de segurança e determinou a nomeação imediata de 220 novos agentes penitenciários, antes previstas para março. Além disso, serão nomeados 373 policiais militares, já formados, para atuação nas ruas.
O Governo do Ceará ainda solicitou ao Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, ajuda da Força Nacional de Segurança, Exército e Força de Intervenção Penitenciária Integrada (FIPI) para trabalhar em conjunto com os profissionais cearenses.
Na última sexta-feira, Camilo Santana respondeu ao presidente Jair Bolsonaro, que havia dito que ajudaria o petista no caos na segurança pública, mesmo ele tendo uma “posição radical” à sua gestão. O governador destacou a necessidade de deixar de lado o embate eleitoral em prol da população.
“A eleição já passou. E os interesses da população do meu estado sempre estarão acima de qualquer interesse pessoal ou partidário. Como homens públicos, temos que ser maiores do que qualquer divergência. De minha parte a relação será sempre de respeito e cooperação”, disse o governador ao jornal “Diário do Nordeste”.
“Como sempre defendi, o combate ao crime organizado deve ser feito de forma cooperada entre estados e Governo Federal. É papel de todos proteger a população, deixando de lado vaidades e interesses pessoais ou partidários”, destacou em nota o governo cearense.
Na mensagem à população, o governador diz possuir “confiança nos mais de 29 mil profissionais cearenses que formam as forças de segurança do nosso estado, que têm se doado noite e dia para combater o crime, especialmente neste momento em que o Estado do Ceará toma medidas duras e necessárias de combate ao crime organizado, fora e dentro de unidades prisionais”.
Esse tem sido justamente o motivo desses atos criminosos: fazer com que o Estado recue dessas medidas fortes, o que não há nenhuma possibilidade de acontecer. Pelo contrário: endureceremos cada vez mais contra o crime.
APOIO
A portaria assinada pelo ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro, cita “ataques a ônibus, a prédios públicos, inclusive federais, e tentativas de explosão de obras públicas”, diz que as informações apontam a ação de grupos criminosos e registra que há “dificuldades das forças estaduais de atenderem sozinhas às demandas decorrentes da ação do crime organizado”. Ele também disse que os fatos são graves e há a necessidade de manutenção da segurança pública e proteção da população e do patrimônio público.
Moro também determinou que a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal intensifiquem as ações de prevenção e repressão ao crime organizado e que o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) preste todo o apoio necessário para as ações de segurança pública.
O Ministério da Justiça está representado no gabinete de crise criado pelo governo do Ceará. Uma medida tomada pelo Depen é a abertura de 20 vagas para presos líderes das organizações criminosas estaduais no Sistema Penitenciário Federal. Uma equipe de intervenção prisional do Depen também vai ser enviada ao Ceará.
O governo do Ceará informou que transferiu um dos chefes de uma facção criminosa para um presídio federal. Dezenove detentos também devem ser levados para outras unidades prisionais nos próximos dias.