![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2019/01/Alberto-Goldman-foto-George-Gianni-.jpg)
Ex-governador critica Doria: “Não nos confundimos com o setor petista e muito menos com o setor mais reacionário e retrógrado da sociedade, que hoje vê em Jair Bolsonaro a redenção do país”
O ex-governador de São Paulo e ex-presidente do PSDB, Alberto Goldman, defendeu que o partido se coloque na oposição a Jair Bolsonaro, ao contrário do que pretende o novo governador de São Paulo, João Doria.
“Nós não nos confundimos com o setor petista e muito menos com o setor mais reacionário e retrógrado da sociedade, que hoje vê em Jair Bolsonaro a redenção do país, e não é o que vai acontecer. Nós temos que manter uma postura de oposição, mas independente, absolutamente independente”, afirmou Goldman em entrevista à rádio Eldorado.
Durante o segundo turno da campanha eleitoral, Goldman publicou um vídeo dizendo que votaria contra a “direita que baba e faz mal às pessoas” e que Bolsonaro ultrapassava “qualquer limite do aceitável”.
Agora, o tucano defende que o partido não seja cooptado pelo presidente eleito. “Nunca nos filiamos ao PT, fomos oposição, foram muitos anos de atuação dura, de oposição à atuação do PT. Mas também não nos filiamos às posturas conservadoras, reacionárias, retrógradas que hoje vigoram e são majoritárias no entorno do presidente da República, Jair Bolsonaro, ao qual o governador João Doria se filia”, enfatizou.
O ex-governador frisou que vai lutar dentro do partido para evitar que o PSDB se torne adesista.
“O congresso [do PSDB], que se pretende fazer entre abril e maio, é o instrumento para reafirmarmos as posições históricas do PSDB, a da social democracia, ou para ir para outro caminho, que é o que pretende João Doria, de se aproximar do bolsonarismo, essa forma reacionária de ver a sociedade, retrógrada, do meu ponto de vista, que nunca foi aquilo que nós nos propusemos historicamente dentro do PSDB. Ele pretende levar o partido para essa posição. Eu sou contra isso”.
“Não me filiei ao partido na posição que o João Doria hoje defende, me filiei na posição social democrata. Nunca falei de deixar o partido, minha postura é uma postura de luta interna. Eu vou lutar com todas as minhas forças contra as posições que se pretendem hegemônicas do João Doria”, disse.
Na entrevista, Goldman fez duras críticas ao novo governador de São Paulo. De acordo com o ex-governador paulista, Doria quer ir a reboque de Bolsonaro visando seus “interesses e objetivos pessoais de chegar à presidência da República”.
“Minha postura é claramente contrária à dele, mas em momento nenhum dar uma de dizer ‘não, vou sair do partido’. Pode até acontecer, dependendo do andar da carruagem, mas não é a intenção. Minha intenção é levar a luta interna até os limites do possível, e fazer com que a postura do João Doria seja minoritária, e não majoritária”, continuou.
Para o ex-governador, o posicionamento de João Doria só é este porque é o que encaixa nas pretensões individuais dele. “A visão que ele tem de desenvolvimento do país se filia muito mais aos seus interesses e objetivos pessoais de chegar à presidência da República, que é o que ele fez antes de mesmo ser candidato a prefeito”.
Goldman também declarou que a montagem do governo de Doria em São Paulo reflete a ambição desmedida dele. “Isso ficou muito visível durante o período dentro da Prefeitura e é visível agora com a formatação que ele fez do governo. Tem menos paulistas do que pessoas de outros estados, ninguém conhece direito o Estado de São Paulo, nunca tiveram atuação aqui, nunca tiveram participação, nunca conheceram os problemas do Estado de São Paulo”, continuou.
Para o ex-governador, o governo Doria poderá fazer muito mal aos paulistas: “vou trabalhar para que esse governo de São Paulo que se instala agora faça menos mal possível ao Estado. Você veja, o João Doria hoje só fala, todos os dias, que a grande salvação do estado é privatizar uma série de coisas, como se isso já não tivesse sido feito. As estradas, telecomunicações, setor de energia elétrica, em uma série de áreas isso já foi feito, mas ele tá repetindo o discurso que ele fazia na Prefeitura. O projeto dele era 55 projetos de privatização na área da prefeitura, e não aconteceu nenhum, nenhum”.
“Aliás, [Henrique] Meirelles, o novo secretário da Fazenda falou ontem de privatização da Sabesp. Ele não tem a mínima ideia do que se passa, do que é a Sabesp. Eles não conhecem o Estado de São Paulo, espero que venham a conhecer rapidamente para causar o mínimo de mal possível ao nosso Estado”, afirmou.
Durante a campanha eleitoral, o grupo de Doria no diretório municipal tentou expulsar do partido Alberto Goldman, que é membro da direção nacional, e Saulo de Castro Abreu, da direção estadual. Na época, os diretórios superiores tiveram que intervir.
Em sua posse como governador de São Paulo, João Doria (PSDB) defendeu uma “reestruturação do meu partido”, sem dar maiores detalhes. Na posse, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin, José Serra e o prefeito Bruno Covas não estiveram presentes.
Segundo Goldman, o PSDB ainda não tem posição fechada sobre apoios às candidaturas para as presidências da Câmara e do Senado, mas, na primeira, disse haver uma proximidade com a de Rodrigo Maia (DEM-RJ).