Na tarde desta quinta-feira (10), o governo Bolsonaro comunicou que avalizará a venda da empresa brasileira de aviões Embraer para a multinacional norte-americana Boeing. Segundo o governo, a desnacionalização da empresa “preserva a soberania e os interesses nacionais”.
No mês de dezembro, a diretoria da Embraer divulgou os termos do acordo com a multinacional em que está prevista a criação de uma nova empresa (a joint venture NewCo), para onde será transferida toda a divisão de aviões comerciais da Embraer, o setor mais lucrativo da empresa. A Boeing faria um pagamento de US$ 4,2 bilhões, valor inferior ao faturamento da Embraer em 2016, que foi de US$ 6,1 bilhões.
Caberá à Boeing 80% das ações desta nova empresa. Já a Embraer pode vender a sua participação acionária (20%) para os norte-americanos a qualquer momento.
Ainda segundo o contrato, todas as decisões relativas à nova empresa, inclusive a indicação dos cargos de diretoria, estarão a cabo da Boeing. Ou seja, não há uma associação entre as empresas, mas sim, a venda do setor mais lucrativo da empresa brasileira para os norte-americanos.
As tratativas entre as empresas preveem ainda uma nova joint venture para a produção e comercialização do avião cargueiro KC-390, o mais novo avião militar da Embraer, que acaba de ser autorizado pela Anac e está pronto para a produção. Apesar de a Embraer manter 51% nesta empresa, está previsto que a linha de produção do cargueiro seja transferida para a unidade da empresa nos EUA.
Para o acordo ser concretizado é necessário o abono do governo federal, que detém poder de veto neste tipo de transação por possuir a chamada golden share.
Bolsonaro defendeu a entrega da empresa em seu perfil no Twitter:
“Reunião com representantes do Ministérios da Defesa, Ciência e Tecnologia, Rel. Ext. e Economia sobre as tratativas entre Embraer (privatizada em 1994) e Boeing. Ficou claro que a soberania e os interesses da Nação estão preservados. A União não se opõe ao andamento do processo”.
O que não fica claro na publicação de Bolsonaro são quais “os interesses da Nação” que estarão preservados, ou ainda, a qual “Nação” o presidente está se referindo.
A dúvida pode ser justificada pelo hábito de Bolsonaro de prestar continência à bandeira dos Estados Unidos e aos funcionários do governo Trump com quem se reuniu. (v. Bolsonaro bate continência para conselheiro de segurança dos EUA)
Ou talvez por, dias antes de apoiar a venda, Bolsonaro ter oferecido ao secretário de Estado dos EUA Michael Pompeo, o território brasileiro para a instalação de uma base militar norte-americana. (v. Secretário de Estado dos EUA agradece a Bolsonaro por oferta de base militar no Brasil)
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