(HP 15/04/2015)
CARLOS LOPES
O banco BTG Pactual parece estar em todo lugar no governo Dilma. Promove “road shows” para a privatização de estradas, aeroportos e o escambau. Adquire poços de petróleo da Braspetro – isto é, da Petrobrás – na África. Entre os bancos, foi o maior contribuinte da campanha à reeleição da senhora Rousseff. E é o principal sócio da Sete Brasil, a empresa engendrada pelos srs. Renato Duque e Pedro Barusco para extorquir a Petrobrás.
Trata-se de um banco com nove agências, segundo o Banco Central, mas que teve, em 2014, o terceiro maior lucro líquido entre os bancos privados instalados no país.
Algum especulador – ou algum tolo – dirá: mas é um “banco de investimentos”, por isso, não precisa ter as 4.665 agências do Bradesco ou as 3.885 do Itaú-Unibanco (os dois únicos bancos privados que tiveram lucro superior ao BTG Pactual) para obter mais de R$ 1,5 bilhão de lucro líquido.
Resta saber porque nenhum outro “banco de investimentos” conseguiu um resultado nem mesmo próximo a isso. Diz o presidente do BTG Pactual, André Esteves, que seu segredo é ter espantado o “complexo de inferioridade”.
Por essa tese, o JP Morgan Chase, que, em 2014, obteve no Brasil um lucro 17 vezes menor que o BTG Pactual, estaria afetado por um terrível “complexo de inferioridade”.
Em lucro líquido – ganho depois de descontados todos os gastos ou despesas – o BTG Pactual superou o Santander, o Safra, o HSBC, o Votorantim, o Citibank, o JP Morgan Chase, o BNP Paribas, o Credit Suisse, o Deutsche Bank, o Société Générale, além dos estatais Banrisul e BNB.
Acima do BTG Pactual somente ficaram o Itaú e o Bradesco – e, entre os bancos públicos, somente o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES.
Quando o UBS Pactual foi comprado por Esteves, ex-funcionário do próprio UBS suíço, esse banco era o 14º em patrimônio líquido (ativos mais créditos menos dívidas).
Em 2014, o BTG Pactual é o sétimo (e o quarto entre os bancos privados, acima do HSBC e somente abaixo do Itaú, Bradesco e Santander).
Mais espantoso é o crescimento em termos monetários: o patrimônio líquido passou de R$ 3,9 bilhões (2008) para os atuais R$ 14,7 bilhões (+277%); o lucro líquido foi de 270 milhões para 1,5 bilhão (+455%); e os ativos totais foram de R$ 19,4 bilhões para R$ 154,6 bilhões (+697%).
Nos últimos tempos, em nosso país, a especulação é tão desarvorada que algum leitor poderá dizer que não é estranha essa decolagem para o espaço sideral. No entanto, o patrimônio líquido, o ativo total e o lucro líquido do Bradesco, por exemplo, cresceram, no mesmo período, respectivamente, +135%, +122% e +123%. Como até agora ninguém levantou que os executivos e operadores do Bradesco são incompetentes – e, por esses resultados, não são mesmo – o banco do sr. Esteves é um prodígio. Quanto à competência do próprio Esteves, há o testemunho de seu antigo mentor e sócio, Luiz Cezar Fernandes: “sempre tive consciência de que ele venderia a mãe para ter o poder”.
Portanto, deve ser alguém muito adaptado ao “mercado financeiro”. Mas, vejamos um de seus principais negócios: a Sete Brasil.
Agora, com o recrudescimento da campanha governista pela “ajuda” (isto é, financiamento público) a esta empresa, façamos uma pergunta: para que a Petrobrás necessita da Sete Brasil?
Para nada, além de ser extorquida. A Sete Brasil é uma empresa financeira, fundada em dezembro de 2010, sob os auspícios do senhor Renato Duque e seu escudeiro, Pedro Barusco – que saiu da Petrobrás para ser vice-presidente da Sete Brasil – supostamente para contratar a construção de sondas e alugá-las à Petrobrás.
O primeiro plano era até mais desabrido: passar para a Sete Brasil os 49 navios “contratados pelo Programa de Modernização e Expansão da Frota da Petrobrás (Promef)” (cf. HP 22/06/2011).
O que significava passar para a Sete Brasil um investimento de R$ 11,2 bilhões e deixar a frota da Petrobrás apenas com os navios mais antigos – e em menor número (47) que os navios com a Sete Brasil.
A nossa denúncia – e de outros – foi, na época, suficiente para que a recém-empossada presidente vetasse essa transação demasiado indecente.
No entanto, em seguida, a Sete Brasil recebeu, em duas licitações, contratos no valor de US$ 82 bilhões (oitenta e dois bilhões de dólares) para contratar a construção de 29 sondas petrolíferas com dinheiro do BNDES, do Fundo de Investimento do FGTS e do Fundo de Marinha Mercante (cf. Sete Brasil, “Relatório da Administração – Exercício Social de 2012”).
Com esse cacife, composto por dinheiro público ou dos trabalhadores brasileiros, a Sete Brasil conseguiu, também, “empréstimos-ponte” (ou seja, de curto prazo) numa série de bancos privados – Sumitomo, ScotiaBank, Standard Chartered, Citibank, Deutsche Bank, Santander, Bradesco, Votorantim, Itaú – e no Banco do Brasil, ao mesmo tempo que procurava (e achava) “investidores internacionais” para entrar na composição acionária da Sete Brasil (cf. Relatórios da Administração 2012 e 2013).
A função dessa empresa, que tem como maior acionista o BTG Pactual, é intermediar a construção de sondas entre o cartel do bilhão e a Petrobrás – e alugar essas sondas para a Petrobrás. Segundo uma apresentação, feita na gestão da senhora Foster, pelo então diretor de Exploração e Produção, José Formigli, entregar as sondas à Sete Brasil permitiria à nossa maior empresa “concentrar os esforços da Petrobras no seu ‘core business’ [centro do negócio]” (cf. “Apresentação na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, 18/09/2013”).
O “core business” da Petrobrás foi descrito assim: “… uma rápida implementação da produção de óleo dos poços localizados na área do Pré-Sal”.
Mesmo deixando passar sem crítica essa estreita concepção – que subestima o papel da Petrobrás no desenvolvimento nacional – resta saber por que a Petrobrás não pode (e deve), para realizar esse objetivo, contratar a construção de sondas ou ser proprietária delas, diretamente ou através de uma subsidiária. Por que a Petrobrás tem de se submeter à intermediação de uma empresa financeira inventada com o declarado objetivo de ser atravessadora?
Evidentemente, só para encher de dinheiro os atravessadores (82 bilhões de dólares só de saída!), à custa da Petrobrás, ou seja, do povo brasileiro. E nem estamos falando dos sobrepreços e superfaturamentos do clube do bilhão, que é a outra ponta da Sete Brasil, ou das “sociedades de propósito específico” (SPE) para cada negócio – em dezembro de 2013, o BNDES aprovou empréstimos no total de 3,7 bilhões de dólares para nove dessas “SPE” (cf. “Relatório da Administração – Exercício Social de 2013”). Nem mesmo estamos falando, ainda, de subornos, propinas e outras coisas do ramo.
Diz o sr. André Esteves que sua proximidade com próceres do atual governo nada tem a ver com o sucesso espetacular de seu banco. Pela Sete Brasil – e pelo desespero do governo em colocar dinheiro em seus cofres – pode-se aquilatar o quanto de verdade existe nisso.