A Arábia Saudita, maior comprador de carne de frango do Brasil, desabilitou a importação de cinco frigoríficos brasileiros. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o país árabe descredenciou 33 unidades habilitadas a exportar o produto, de um total de 58.
Dentre estas unidades, apenas cinco realizavam o embarque efetivo. Elas representam, no entanto, 30% do volume que atualmente é vendido para os árabes. A ABPA informou em nota que o motivo alegado para o veto aos frigoríficos teria sido de caráter técnico.
No entanto, o ex-secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, afirmou nesta terça-feira (22), em Davos, que a decisão da Arábia Saudita é uma retaliação ao governo de Jair Bolsonaro, em função da decisão de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. “O mundo árabe está enfurecido (com o Brasil)”, disse o diplomata.
“Essa é uma expressão de protesto contra uma decisão errada por parte do Brasil. Muitos de nós não entendemos o motivo pelo qual o novo presidente do Brasil trata o mundo árabe desta forma”, acrescentou.
A Liga Árabe (organização que reúne 22 países árabes) já havia alertado o país que a pretendida transferência da embaixada poderia prejudicar as relações brasileiras com os países de religião islâmica. Como se pode confirmar agora, a intenção do governo não passa de um alinhamento automático e burro aos EUA sem nenhum benefício para a nação e em prejuízo dos interesses estratégicos e comerciais brasileiros.
A decisão de Bolsonaro foi reafirmada ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, quando ele esteve aqui para a cerimônia de posse. Há poucas semanas, a Liga Árabe tinha aprovado, no Cairo, uma resolução pedindo que o Brasil “respeite o direito internacional” e que abandone a ideia de mudar a embaixada para Jerusalém.
“Eu acredito que tais medidas (como o descredenciamento dos frigoríficos) vão continuar. A única forma de evitar isso é se o Brasil desistir dessa ideia. Jerusalém é uma capital de dois Estados, não de um”, disse Moussa.
Em 2018, o Brasil enviou para a Arábia Saudita 486,4 mil toneladas de carne de frango, o equivalente a 12,1% do total embarcado no ano. A carne comprada pelo país segue os princípios do Islã tanto no abate, quanto na produção e é chamada de halal.
Para produzir esse tipo de carne, as empresas brasileiras tiveram que adaptar suas fábricas e o efetivo. Atualmente, o Brasil é o maior exportador de frango produzido segundo essa técnica do mundo. Do total que vendemos para fora, 40% da carne e 45% do frango levam o selo halal.
Entre as cinco unidades descredenciadas pelos árabes estão unidades da BRF e JBS. A lista foi enviada na segunda-feira (21) pelas autoridades da Arábia Saudita ao governo brasileiro.
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