(HP 17/03/2017)
Disse Lula, em sua aparição, na manifestação contra o roubo da Previdência, na avenida Paulista, em São Paulo: “… o golpe dado nesse país não foi apenas contra a Dilma, foi para colocar um cidadão sem nenhuma legitimidade para acabar com as conquistas da classe trabalhadora, com a reforma trabalhista e da Previdência. Eu gostaria que o Meirelles estivesse ouvindo, que um dia nós resolvêssemos o problema da Previdência, ao invés de fazer uma reforma para tirar direitos“.
Será que não restou a Lula nem um restículo de decência?
O gato se pega pelo rabo. Que “problema” da Previdência? É óbvio, ele considera que há um “problema” da Previdência, que é o mesmo que Meirelles diz que existe. Se não fosse assim, não diria “eu gostaria que o Meirelles estivesse ouvindo, que um dia nós resolvêssemos o problema da Previdência”, etc.
Lula não tem escrúpulos em despejar essa demagogia – o contrário do que acha – sobre o povo que realmente estava ali para barrar o ataque à Previdência. Lula, estava lá para escapar da cadeia – quer se eleger, aplicando mais um estelionato eleitoral. Quanto ao Brasil e seu povo…
Há pouco mais de um ano, Lula declarou que a Previdência devia ser reformada porque “quando a lei foi criada, se morria com 50 anos. Hoje, a expectativa de vida é de 75 anos” (entrevista, 20/01/2016).
Qual a diferença disso para Meirelles e Temer?
Lula não protestou – pelo contrário, apoiou – quando Dilma iniciou o ataque à Previdência, cortando as pensões por morte, o seguro desemprego (em meio à recessão mais grave da História do país) e enviou ao fórum previdenciário a proposta de que a idade mínima para se aposentar fosse, tanto para homens quanto para mulheres, 68 anos.
Porém, a prova mais irretorquível de seu apoio ao ataque às aposentadorias é a sua ligação com Meirelles – funcionário pago até hoje pelo BankBoston, uma divisão do Bank of America – que ele nomeou para o BC, protegeu das investigações do Caso Banestado, e queria como ministro da Fazenda de Dilma.
Para que Meirelles na Fazenda? Evidentemente, para fazer o que está fazendo, ao atacar a Previdência e devastar as contas públicas. Esse é o único “programa” de Meirelles.
Na entrevista que citamos, disse Lula: “Se tem uma coisa de que me orgulho é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. A apuração de corrupção é um bem desse país. Duvido que tenha um promotor, delegado, empresário que tenha a coragem de afirmar que eu me envolvi em algo ilícito“.
As coisas mudam, mas, quanto à Previdência, esse é um dos “resquícios” do getulismo que Lula sempre detestou. Aliás, ele promoveu uma “reforma” na Previdência dos funcionários públicos, e, quando prorrogou por quatro anos a Desvinculação dos Recursos da União (DRU), desviando 20% dos recursos da Previdência para o “superávit primário” – isto é, para os juros aos bancos – não teve pejo em dizer o seguinte, na Exposição de Motivos: “Embora os indicadores da economia nacional estejam, hoje, bem melhores do que no passado, a cautela exige que se mantenha vigente tal comando até que as condições macroeconômicas e as incertezas do cenário internacional desapareçam“.
Parece escrito por Meirelles. Na época, “o país apresentava taxas de desemprego recordes (na Grande São Paulo, o desemprego atingia 20,6% da população ocupada e, de acordo com o IBGE, 14,6%), a taxa nominal de juros básica era de 26,5% e a demanda apresentava claros indicadores de retração da economia. No entanto, chama cinicamente de cautela o expediente da desvinculação de recursos da seguridade para engrossar o superávit primário exigido pelo FMI” (Rosa Maria Marques Áquilas Mendes, “O governo Lula e a contra-reforma previdenciária“, São Paulo em Perspectiva, 18(3), 2004, p. 6).
Em seu recente encontro com Temer, quando disse “não se faz reforma da Previdência com o país em recessão”, ouviu a resposta: “você também fez”. Mas Lula aconselhou Temer sobre “a melhor forma de aprovar a reforma da Previdência. Seria um erro afirmar que a Previdência está quebrada. O correto, disse Lula, seria alegar que a aposentadoria das futuras gerações está em jogo” (HP 08/02/2017).
A propósito, é verdade que Temer é “um cidadão sem nenhuma legitimidade”. Mas quem o colocou no poder foi Lula – e Dilma. Quem o escolheu duas vezes para a vice-presidência?
CARLOS LOPES