A ex-ministra do Meio Ambiente e ex-candidata à Presidência da República, Marina Silva, afirmou em entrevista ao Valor Econômico, que o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo) “foi nomeado para liquidar o ministério”.
Marina afirma que o atual titular da pasta, flerta com os setores “mais reacionários” do agronegócio e que assumiu o ministério não para protegê-lo, mas sim para “liquidá-lo”.
Durante a entrevista, Marina destacou que as mudanças adotadas no processo de licenciamento ambiental tendem a trazer ainda mais insegurança jurídica.
Entre os principais pontos apurados na entrevista, a ex-candidata à presidência, critica a política desastrosa do governo de Jair Bolsonaro e do atual Ministério. “Eu acho que Bolsonaro não fez a política de fundição com o Ministério da Agricultura, e na prática está fazendo a política de demolição, está demolindo o ministério”.
“O ministro Ricardo Salles não assumiu para ser o ministro da proteção, mas para ser o ministro da liquidação do Ministério do Meio Ambiente. Sabe quando você tem aquela pessoa indicada para fazer a liquidação da massa falida? É isso que ele está fazendo. E não dá nem para dizer que é uma pessoa bem intencionada, ele faz o jogo, sabe o que está fazendo”, afirmou.
“Para mim, a mudança mais desastrosa é ter um ministro que não se preocupa com a própria Pasta que comanda. Alguém que vai para o Ministério do Meio Ambiente para ser contrário à natureza precípua da pasta, esse é o pior atraso. Um ministro que está mais preocupado em agradar os setores mais reacionários do agronegócio”, enfatizou.
Ao final da entrevista, Marina reafirma as grandes preocupações com a atual chefia da pasta. “Nenhum governo assume fazendo um discurso mais preocupado com os fortes do que com os fracos, é a primeira vez que você faz um discurso transformando os mais frágeis em bode expiatório. O Estado está aí para proteger os vulneráveis, proteger de nós mesmos, porque a maioria tem o poder de massacrar as minorias”.
“Eu nunca me esqueço de uma tribo que foi atacada por madeireiros, numa região remota do Pará. Depois do ataque, eles andaram muitos dias até chegar ao município mais próximo e, um deles, que sabia falar português, disse que eles vieram pedir ajuda para o “grande cacique branco”, que era o presidente da República. Eles tinham uma noção que tinham uma proteção, mas, e agora? A que cacique branco irão recorrer?”, indagou a ex-ministra.
Ministro diz que não vai exonerar investigada
Ricardo Salles afirmou que não vai exonerar a secretária-executiva da pasta, Ana Maria Pellini, acusada de improbidade administrativa e danos aos cofres públicos no governo do Rio Grande do Sul.
O Ministério Público (MP-RS) moveu uma ação contra Ana Maria Pellini, em novembro de 2014, acusando-a de celebrar um contrato irregular, sem licitação, que provocou prejuízo de R$ 1,6 milhão. Pellini comandou a Secretaria-geral da governadora Yeda Crusius (PSDB) e também já atuou na área do meio ambiente do governo do RS.
Salles afirmou estar “zero preocupado” com o caso e acrescentou que, “se for rotular todo mundo, não sobra ninguém”. Ainda segundo Salles, Ana Maria Pellini foi “extremamente elogiada” e “super recomendada” antes de ser indicada, e que ele não será “intolerante” com o caso dela.
“Eu não posso ser hipócrita, quer dizer: para o meu caso vale tolerância e para o dela, não? Estamos em um momento em que é preciso mais do que nunca vigorar o estado democrático de direito”, disse.
Em dezembro de 2018, a primeira instância da Justiça de São Paulo condenou o ministro por improbidade administrativa. Salles é acusado pelo Ministério Público de fraudar processo do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, em 2016, quando estava à frente da pasta do Meio Ambiente do governo de Geraldo Alckmin (PSDB).