Odebrecht pagou suborno pela obra da Usina de Belo Monte
Um laudo criminal anexado pela Polícia Federal (PF) ao inquérito que investiga o pagamento de propinas na obra da Usina de Belo Monte, a maior do setor elétrico dos governos Lula e Dilma Rousseff, concluiu que foram identificados registros de transações monetárias entre a Odebrecht e os beneficiários de codinomes “Italiano”, “Esquálido” e “Professor”.
O codinome “Italiano” se refere ao ex-ministro Antonio Palocci, “Esquálido” ao ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (MDB/MA), e “Professor” ao ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto.
As conclusões do documento corroboram o que Palocci afirmou em seu acordo de colaboração premiada, no qual o ex-ministro da Fazenda (Lula) e da Casa Civil (Dilma) incriminou os ex-presidentes, ao relacioná-los com os acertos de propinas para o PT e o MDB no negócio. Pelo menos R$ 135 milhões foram cobrados das empresas envolvidas no leilão de concessão da hidrelétrica. Palocci era o operador de Lula.
O laudo 2035/2018 do Setor Técnico Científico da PF no Paraná aponta que “Italiano”, “Esqualido” e “Professor” estão relacionados a valores do centro de custo “Belo Monte” nos arquivos do setor de propinas da Odebrecht.
“Foram constatados, a partir de exames periciais em arquivos disponíveis no material (…), registros de transações monetárias entre a empresa Odebrecht e os beneficiários de codinomes ‘Italiano’, ‘Esqualido’ e ‘Professor’ com débito na Obra/Centro de Custo ‘UHE Belo Monte'”, registra o laudo contábil-financeiro, assinado pelo perito Ivan Roberto Ferreira Pinto.
Além dos registros do setor de propinas da Odebrecht, foram analisados e anexados e-mails dos executivos do grupo. O laudo detectou um e-mail de Marcelo Odebrecht, no qual Palocci solicita a entrega de R$ 1,5 milhão e que, para isso “Brani” – Branislav Kontic, seu ex-assessor – fosse procurado. Também foram detectados e-mails do empresário que abordam pagamento de R$ 12 milhões e conversas sobre valores.
Palocci contou sobre sua atuação no acerto de R$ 135 milhões em propinas em Belo Monte – equivalente a 1% do contrato de R$ 13,5 bilhões. O valor foi dividido de forma igualitária, 50% cada, entre o PT e o MDB. As informações estão no Termo 05 da colaboração fechada pelo ex-ministro com a PF do Paraná.
O ex-ministro disse que inicialmente – o leilão é de 2010, último ano do governo Lula – só o MDB foi beneficiado na divisão de valores. Segundo ele, Dilma determinou em um primeiro momento que não fosse recolhido a parte petista, mas sabia e autorizou os pagamentos ao partido.
“Deu ciência a Dilma Rousseff dos vultuosos pagamentos que a Andrade Gutierrez estava fazendo ao PMDB em razão da obra de Belo Monte”, registra Palocci. “A então candidata (Dilma) tomou ciência e efetivamente autorizou que se continuasse a agir daquela forma”.
Ele detalhou uma disputa entre Lula e Dilma pelo controle dos valores e uma tentativa de “ruptura” da sucessora com seu padrinho nesses acertos. Palocci declarou que em 2012 foi cobrado por Lula dos valores a serem recebidos das empreiteiras por Belo Monte e sobre pagamentos a Delfim e José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente.
“Lula demonstrava irritação com a posição de Dilma Rousseff de não se cobrar valores ao PT pela Usina de Belo Monte; Lula desejava explicações”, revelou.
W. F.