Centenas de milhares de pessoas se somaram na Praça Murillo, em La Paz, nesta terça-feira (22), para comemorar junto ao presidente Evo Morales os 10 anos do Estado Plurinacional da Bolívia, em que a aprovação da nova Constituição aprofundou a revolução democrática-cultural, e fez da nacionalização e industrialização sinônimos da construção da independência.
“Afirmamos uma Bolívia digna e soberana onde os estrangeiros nunca mais vão se apropriar das nossas riquezas, em que a Bolívia nunca mais será humilhada, submetida ou saqueada”, destacou Evo, sublinhando como página virada o tempo de “racismo e discriminação, de abandono aos pobres e humildes”.
Durante a prestação de contas a deputados e senadores, ministros e lideranças dos movimentos sociais, Evo e seu vice Álvaro García Linera resgataram as inúmeras conquistas desde a vitória sobre o neoliberalismo em 2006 até 2018.
O informe presidencial resgatou o significado em particular do resgate da principal empresa do país, a estatal de hidrocarbonetos YPFB (Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos), em que “os técnicos se comportam como soldados da economia nacional”, descobrindo novos megacampos de gás.
“Continuaremos desenvolvendo o complexo de lítio. Em outubro de 2018 inauguramos a fábrica de cloreto de potássio, 100% dos bolivianos, com o dinheiro das reservas internacionais. Em outubro de 2019 iniciaremos as operações da fábrica de policarbonato de lítio, também 100% do Estado boliviano. Em 2019-2020 construiremos a planta de materiais catódicos e baterias de lítio em sociedade com a Alemanha, e o investimento de US$ 1,39 bilhão está garantido”, exemplificou Evo.
Para assegurar a industrialização, respeitando a natureza, acrescentou o presidente, “faremos da ciência e da tecnologia um pilar da economia, apoiando a pesquisa universitária, formando cientistas nas universidades estrangeiras e priorizando o investimento em tecnologia para produção agrícola e industrial”.
De acordo com Evo, “ao contrário do receituário do FMI e do Banco Mundial que propõe privatização e cortes”, “o investimento público foi novamente o mais alto da América do Sul, com os recursos estatais destinados à infraestrutura, serviços básicos, telecomunicações e moradia, entre outros itens, saltando de US$ 629 milhões em 2005 para US$ 6,51 bilhões em 2018”.
Considerado pelo governo como “o motor do crescimento”, o investimento público tem cumprido um papel chave na reativação do mercado interno, com aumentos do salário mínimo que superam, sempre, o da inflação. O salário mínimo, na Bolívia, em 2005, correspondia a US$ 60. Hoje, corresponde a US$ 300, um incremento de 385%. Outro exemplo deste esforço foi a aprovação da regra que estabelece o 14˚ salário em anos que o crescimento do PIB supera os 4,5%. Neste caso, para fomentar ainda mais a produção nacional, 15% deste bônus deve ser gastos com mercadorias comprovadamente bolivianas.
A renda petroleira, que antes fazia a festa das transnacionais, já totalizou US$ 37,484 bilhões nos últimos 13 anos, aportando recursos que foram distribuídos em obras e programas sociais para o conjunto da população. Exemplo disso é a construção de rodovias: em 180 anos, isto é até 2005, foram apenas 1.098 quilômetros, agora já são 5.389 km e logo serão entregues mais 2.738 km.
No mesmo período, o PIB aumentou 327%, com o modelo econômico, social, comunitário e produtivo demonstrando sua “fortaleza econômica”, descreveu Evo. As reservas internacionais fecharam o ano com 21,4% do PIB. Ao mesmo tempo, assinalou, o crescimento econômico boliviano foi o mais alto da América do Sul por seis anos e em 2019 se projeta, novamente, que seja 4,3%, cerca de três vezes a média da região, que é de 1,43%.
Estes são alguns dos avanços que têm permitido ao país andino erguer centenas de hospitais, escolas, quadras esportivas, estabelecer o serviço de telefonia, água e luz para os locais mais distantes e fornecer para 3,5 milhões dos 11 milhões de bolivianos diversos tipos de bônus, que protegem e dignificam sua vida na busca da erradicação da pobreza.
LEONARDO E MONICA SEVERO, de La Paz