LEONARDO SEVERO, de La Paz
Com o amplo apoio de centenas de milhares de militantes do Movimento ao Socialismo (MAS), o presidente da Bolívia, Evo Morales, foi o grande vencedor das eleições primárias realizadas entre os partidos políticos neste domingo (27) para definir suas chapas à disputa de outubro.
As primárias aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral e referendadas pelos partidos dão um passo no sentido de romper com mandatos apartados do sentimento popular, pois estabelece que serão os militantes quem exercerão o protagonismo. Apesar da tentativa de boicote das agremiações de direita, a grande afluência às urnas em um processo que só estavam aptos a participar militantes e sem caráter obrigatório demonstrou mais do que a sintonia, a identidade com a proposta de consulta.
“Viemos cumprir com um mandato constitucional, porém reafirmando novamente que vivemos um momento histórico, aprofundando pela primeira vez não só a democracia na Bolívia, mas iniciando a democratização dos nossos partidos e movimentos”, declarou Evo, comemorando o “êxito” de uma eleição interna voluntária, cuja participação chegou próxima aos 40%, com cerca de 400 mil militantes. A oposição ficou abaixo dos 8%.
Uma vez encaminhada a Lei de Organizações Políticas, recordou o líder boliviano, a oposição falou de “incansáveis vigílias e ocupações de recintos eleitorais”, ficando perdida frente ao respaldo da sociedade.
A partir de agora, acrescentou Evo, estão sendo apontadas soluções, uma vez que os candidatos não serão mais apontados pelo bolso, “por dinheiro”, se aproveitando de decisões de “cúpulas”.
BASES PARTIDÁRIAS
“Antes tudo era definido pelas elites, pelas cúpulas partidárias, pela embaixada dos Estados Unidos, e hoje são as bases partidárias, as organizações sociais, especialmente os povos originários e excluídos”, explicou Eduardo Barriga, professor aposentado e militante histórico da COB (Central Operária Boliviana). Na verdade, ressaltou o veterano combatente, “uma vez presidente desde 2006, o irmão Evo é resultado de um intenso processo de lutas políticas, econômicas e sociais contra a ditadura e a repressão neoliberal, por isso seu compromisso com o avanço”.
Para o motorista Isidro Choquehuanca Ramos, “o apoio ao MAS é porque na Bolívia de hoje há de comer, de vestir, há de tudo e queremos seguir neste caminho”.
“Mais do que a continuidade, Evo representa o aprofundamento das mudanças em nosso país”, enfatizou Virginia Calle, apontando para a prioridade dada à saúde e à educação, às crianças, jovens e idosos, e ao combate à discriminação. “Minha mãe me contou que antes uma mulher de pollera (vestido típico) não podia sequer entrar numa praça. Hoje todos somos iguais perante a lei e o processo tem forte participação indígena”, frisou.
O principal candidato opositor, Carlos Mesa, da Comunidade Cidadã (CC), disse acreditar que “as eleições primárias não contribuem com o processo democrático” e, uma vez questionado sobre a fragilidade demonstrada pelo seu partido, disse que “nas eleições mostrará seu poder”.
De acordo com Tania Libertad Cochi Chambi, secretária eleitoral da Mesa 1, do Centro Educacional Tilata, no município de Viacha, próximo à capital, La Paz, “o processo, totalmente voluntário, transcorreu normalmente com a maior afluência de votantes sendo do MAS”. “Foi a primeira vez que se fez este tipo de eleição que aponta para consolidar o direito à consulta nos partidos”, frisou.