O presidente em exercício, Hamilton Mourão, declarou a delegação de cristãos palestinos, em visita a Brasília no dia 28, que o Brasil “não está pensando em nenhuma mudança de embaixada” de Tel Aviv para Jerusalém.
A missão que trouxe cristãos, evangélicos e católicos, que atuam em Jerusalém, ao Brasil, para uma semana de contatos com religiosos e autoridades brasileiras, foi recebida em Brasília pelo presidente em exercício. Na ocasião, os líderes religiosos palestinos, mostraram ao general Mourão, os riscos, tanto para os esforços de paz, como para a própria sobrevivência da comunidade cristã palestina, que a ideia de transferir a embaixada do Brasil, de Tel Aviv para Jerusalém, anunciada em diversas ocasiões pelo presidente Bolsonaro, representa.
Após agradecer “a cortês visita de autoridades religiosas palestinas entre as atividades do dia 28”, Mourão prosseguiu afirmando: “Agradeço pelo encontro e ressalto que é preciso promover a convivência pacífica entre os povos e religiões”.
O presidente em exercício, segundo suas palavras à saída da reunião, assegurou aos integrantes da comitiva de palestinos que o Brasil “não está pensando em nenhuma mudança de embaixada”.
Ele acrescentou aos jornalistas que essa ideia corresponde a declarações durante a campanha eleitoral. “Foi na campanha, tal e coisa. Vamos aguardar, quem decide é o presidente, né? O presidente volta aí, tem que ouvir as opiniões todas”, disse.
Presente à reunião, o embaixador palestino, Ibrahim Alzeben, declarou que pediu ao presidente em exercício que a embaixada brasileira seja mantida em Te Aviv e não transferida para Jerusalém.
“[O assunto] será estudado pelas altas autoridades brasileiras, e esperamos que não aconteça. Isso está em discussão, em discussão muito longa”, declarou o embaixador palestino, à saída da reunião. Para o embaixador, a transferência pode ser “danosa”. “Isso vai ser danoso para israelenses, para palestinos, para o Brasil, para o mundo inteiro, para a paz. Assim, esperamos que não aconteça”.
O embaixador palestino também convidou Mourão e Bolsonaro para visitarem a Palestina e rezarem, juntos, na Basílica da Natividade, em Belém, pela paz entre palestinos e israelenses.
Alzeben também entregou uma carta de condolências pelo desastre ambiental causado pela Vale em Brumadinho. “Entregamos uma carta de condolências para o presidente e para o povo do Brasil. Tivemos uma conversa sobre relações bilaterais entre Brasil e palestina e saímos muito satisfeitos de que as boas relações continuarão entre Palestina e Brasil, respeitando essa tradição brasileira ao longo dos 70 anos”, afirmou Alzeben.
Em declaração anterior à visita da delegação palestina, Mourão já havia feito contrapontos à ideia de Bolsonaro de imitar o presidente norte-americano Donald Trump: “Não, há nada disso”, declarou o presidente em exercício, quando lembrado da promessa de Bolsonaro à saída de encontro com o embaixador alemão que veio trazer as preocupações de seu país com a transferência. “Os dois Estados são reconhecidos. O resto tudo é retórica e ilação. Aguardem”, declarou Mourão.
Trump anunciou ao final do ano passado a transferência da embaixada dos EUA para a cidade reivindicada como capital única de Israel. A atitude de Trump premia a anexação de Jerusalém por parte do ocupante israelense, envolvendo-se no crime de guerra conforme previsto pelas Convenções de Genebra. Somente a Guatemala seguiu a transferência realizada por Washington. Todos os países que têm embaixadas em Israel preferem seguir com suas representações em Tel Aviv, respeitando as leis internacionais e as decisões e resoluções da ONU, que preveem a devolução das terras ocupadas em 1967 aos seus donos, os palestinos. Entendem que só podem vir a Jerusalém no bojo de negociações que encerrem a ocupação israelense que já dura mais de 50 anos e estabeleçam acordos de paz entre israelenses e palestinos.
“Saímos muito satisfeitos que as boas relações continuarão entre Brasil e Palestina, respeitando o direito internacional, respeitando a tradição brasileira dos últimos 70 anos. Foi falado esse assunto, qualquer assunto desse será estudado pelas autoridades brasileiras e esperamos que isso não vai acontecer”, disse Alzeben ao sair do encontro. Segundo ele, foi “o melhor possível”. O embaixador avaliou que Mourão deu “um sinal muito positivo”.