Os ministros argentinos de Finanças, Luis Caputo, e de Energia, Juan José Aranguren, pessoas muito próximas do presidente Mauricio Macri, estão comprometidos com contas offshore denunciadas pelas novas revelações em nível internacional dos chamados Paradise Papers.
O diário Perfil, que integra o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), que dias atrás deu a conhecer o conjunto de 13,4 milhões de documentos eletrônicos confidenciais sobre paraísos fiscais, divulgou a parte que envolve essas operações na Argentina.
Luis Caputo maneja o fundo Argentina Fund, (nas Ilhas Cayman), desde 14 de março de 2013, junto ao Argentina Master Fund, informou Perfil. Ele operou de 2009 a 2015 o Alto Global Fund, outro fundo de investimento nas Ilhas Cayman que chegou a cem milhões de dólares. Administrou ainda a Noctua Partners LLC, fundo localizado em Miami com ramificações em Delaware, paraíso fiscal interno dos EUA, outro distrito cheio de esquemas especulativos.
O ministro tentou minimizar seu envolvimento admitindo que era só um assessor financeiro e que nunca se ocupou das operações financeiras.
Já Aranguren, ministro de Energia, integrou diretorias de duas empresas offshore quando executivo da Shell (de 2003 a 2015, quando foi nomeado ministro). Uma delas, a Shell Western Supply and Trading, foi a principal fornecedora, ano passado, quando ganhou 13 licitações para prover diesel ao governo argentino por 240 milhões de dólares. Aranguren se justificou dizendo que cada contrato foi outorgado à empresa que ofereceu o menor valor, com o custo mais baixo para o erário público, que coincidentemente foi a Shell.
Ainda aparecem contas offshore de Ignacio Rosner, sócio de empresas do Grupo Macri e do Grupo Clarín, que acabou de comprar o grupo Indalo, é proprietário do canal C5N, da Rádio Diez e outros empreendimentos, com os quais o governo controlaria quase 99% dos meios, informou Stella Calloni, no jornal mexicano La Jornada.
Ante a pressão de partidos e movimentos de oposição, o Escritório Anticorrupção, dirigido pela aliada de Macri, Laura Alonso, pediu aos ministros de Energia e de Finanças que expliquem por escrito como foi sua relação com empresas offshore, denunciadas nos Papeis do Paraíso.
A fuga de capitais através de paraísos fiscais não para aí. “Os grandes empresários argentinos ocultam na rede global de esconderijos fiscais uma soma equivalente 80% do PIB. A magnitude das manobras abusivas que canalizam via offshores torna a Argentina um dos quatro países do mundo com maior perda de arrecadação fiscal. As implicações da fuga de capitais que facilitam os paraísos fiscais são, porém, mais profundas: no mundo offshore reside uma das principais causas do subdesenvolvimento nacional”. Essas afirmações formaram parte da apresentação realizada pela ex-presidente do BC argentino, Mercedes Marcó del Pont, e do chefe da Editoria de Economia do Página/12, Alfredo Zaiat, no livro Argenpapers: Os segredos da Argentina offshore nos Panamá Papers, escrito pelos jornalistas Santiago O’Donnell e Tomás Lukin, no IV Congresso de Economia Política, no Centro Cultural da Cooperação, no fim de semana passado.
Unidade Cidadã, partido fundado por Cristina Kirchner, exigiu a renúncia dos ministros e que Macri dê ‘explicações a todos os argentinos’.
SUSANA SANTOS