(HP 17/06/2016)
O senador Renan Calheiros, presidente do Senado, tornou a festa junina da latifundiária dilmista Kátia Abreu, na quarta-feira, um antro de conspiração – ainda que muito incompetente – contra a Operação Lava Jato.
O alvo era o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot. Não houve conviva de sinhá Abreu a quem Calheiros não falasse do procurador – mais especificamente, segundo vários testemunhos, de sua intenção de encaminhar o impeachment do procurador, prerrogativa que pertence ao Senado, pelo artigo 52 da Constituição.
Não se sabe se os convidados da latifundiária dançaram quadrilha (festa junina sem quadrilha?). Mas que Renan foi o centro da festa, lá isso foi. E que estava com medo de dançar, é mais verdade ainda.
Acabar com a Lava Jato é a obsessão dos ladrões, dos ratos da República, dos aproveitadores e exploradores do povo. Todos, mortos de medo da cadeia. Inclusive os do PT, que, subitamente, descobriram que o “golpe” não é mais a Lava Jato, mas contra a Lava Jato – o que foi demolido, na Comissão do Impeachment, pela senadora Simone Tebet, também na quarta-feira:
SENADORA SIMONE TEBET: “Nós estamos sendo sistematicamente chamados de golpistas. (…) É interessante a memória seletiva daqueles que apontam atitudes ditas golpistas ou tentativas de apagar ou acabar com a Operação Lava Jato. Esses mesmos parlamentares pertencem a um partido que não apenas fala, mas escreve… Vejam o que diz uma resolução assinada por esse partido em maio deste ano:
‘A Operação Lava Jato desempenha papel crucial na escalada golpista […]. configurou-se paulatinamente em instrumento político para a guerra de desgaste contra dirigentes e governantes petistas, atuando de forma cada vez mais seletiva quanto a seus alvos, além de marcada por violações ao Estado democrático de direito. […] Revela, por fim, o alinhamento de diversos grupos do aparato repressivo estatal – delegados, procuradores e juízes – com o campo reacionário, associados direta ou indiretamente às manobras do impeachment. Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; […] fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação’.
“É esse o partido que me chama de golpista e que diz que os meus parlamentares, colegas deste plenário, estão querendo abafar ou acabar com a Lava Jato“.
Mas, voltemos a Calheiros, solidário com sua categoria – não propriamente a dos senadores – em seu refúgio na casa-grande da senhora Abreu.
Dizia ele que o depoimento de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro – e, até há pouco, seu amigo de copa e cozinha – não podia ter validade, pois “como pode grampear um senador com foro? Só com autorização judicial”.
Então, a questão é o privilégio senatorial, que foi ferido? Mas, afinal de contas, é verdade ou não o que Machado falou?
Segundo Calheiros, falta “materialidade” ao depoimento.
Deve ser uma observação muito profunda. Pois qualquer cidadão, depois de ler as 246 laudas que constituem o depoimento do ex-presidente da Transpetro, concluirá, sem mais firulas, que o Senado é presidido por um ladrão.
São 13 depoimentos de Sérgio Machado, 8 de seu filho Expedito Machado Neto, mais dois de seus outros dois filhos e 22 anexos que complementam os depoimentos (v. matéria nesta página).
Falta de “materialidade” talvez exista em como mediocridades do jaez de Calheiros e Cunha ascenderam, ao mesmo tempo, à presidência das duas Casas legislativas da União – um produto da política do PT, de perpetuar-se no poder a qualquer custo (e com o custo de roubar e deixar roubar).
O depoimento de Machado é tão detalhado, que é impossível não perceber que é verdadeiro – nós até tentamos lê-lo partindo da premissa de que fosse falso, mas desistimos de tal exercício antes da quinquagésima página, pois é insustentável tal ponto de partida.
Por exemplo, disse Machado aos procuradores:
“… durante a gestão na Transpetro foram repassados ao PMDB pouco mais de R$ 100 milhões de reais, cuja origem eram propinas pagas por empresas contratadas; desse valor, cerca de R$ 32 milhões foram repassados a Renan Calheiros“;
“… as doações eram em geral feitas formalmente ao Diretório Nacional do PMDB e em alguns casos para o Diretório de Alagoas e até, em certos casos, para outros partidos em Alagoas, mas sempre ‘carimbadas’ para Renan Calheiros” (Termo de Colaboração N° 06 de José Sérgio de Oliveira Machado, p. 03 e 04).
No mesmo depoimento:
“… o depoente administrava a arrecadação de propinas na forma de um fundo virtual, apurando mensalmente os créditos junto as empresas que tinham contrato com a Transpetro; … o primeiro repasse de propina para Renan Calheiros foi, ao que se recorda o depoente, salvo engano, no importe de R$ 300 mil, podendo ter ocorrido no ano de 2004 ou no de 2005; … inicialmente os repasses para Renan Calheiros eram erráticos, sem periodicidade definida, mas se tomaram anuais em 2008, quando o depoente passa a repassar a Renan Calheiros cerca de R$ 300 mil por mês durante dez ou onze meses por ano; … os pagamentos foram efetuados, salvo engano, de 2004 ou 2005 a julho ou agosto de 2014″.
Em seguida, Machado conta com minúcias como eram feitas as entregas de propinas, quem eram os portadores, os codinomes dos intermediários de cada político, etc., etc. & etc.
“… no caso do Senador Renan Calheiros, quando por algum motivo o depoente não padia ir a Brasília, o senador enviava um representante à Transpetro na Rio de Janeiro, que se chamava Everaldo; Everaldo tinha estatura mediana, medindo entre 1,65m e 1,70m, de pele morena, cabelos negros e relativamente ralos, com entradas na frente, com quarenta e poucos anos de idade“.
A descrição corresponde à de Everaldo França Ferro, funcionário de Renan.
CARLOS LOPES