Noam Chomsky (linguista), John Pilger (cineasta) e Medea Benjamin (liderança feminista) estão entre os mais de 70 acadêmicos norte-americanos que firmaram, no dia 3, declaração através da qual rechaçam a intervenção da Casa Branca na Venezuela e alertam para suas graves consequências.
“A realidade”, afirma a declaração, “é que, apesar da hiperinflação, escassez de produtos e uma profunda depressão, a Venezuela segue sendo um país politicamente polarizado. Os Estados Unidos e aliados devem parar de encorajar a violência de empurrar na direção de uma mudança regime violenta e fora da legalidade. Se o governo Trump continuar a enveredar por este curso desenfreado na Venezuela, o mais provável é que se instale um derramamento de sangue, o caos e instabilidade. Os EUA já deveriam ter aprendido de suas aventuras de mudança de regime no Iraque, Síria, Líbia, além dos nefastos exemplos de seu patrocínio de mudanças de governo na América Latina”.
Seguem principais trechos do documento dos acadêmicos:
O governo dos Estados Unidos deve cessar sua intervenção na política interna da Venezuela, especialmente no que se refere ao propósito de derrubar o governo do país. Ações do governo Trump e aliados no hemisfério vão com certeza tornar pior a situação na Venezuela, levando a sofrimento humano desnecessário, violência e instabilidade.
A polarização política na Venezuela não é nova; o país tem uma longa história de divisões em termos socioeconômicos e raciais. Mas, a polarização se aprofundou nos anos recentes. Isto é, em parte, devido ao apoio dos EUA, dentro de uma estratégia de remover o governo de Nicolás Maduro através de meios extra-eleitorais. Enquanto a oposição se dividiu acerca destes assuntos, o apoio dos EUA foi direcionado aos oposicionistas de linha-dura em seu desiderato de tirar Maduro através de protestos violentos, golpe de Estado militar, ou outras sendas à parte das urnas.
Sob o governo de Trump, a retórica agressiva contra o governo da Venezuela alcançou um nível mais extremo e ameaçador, com membros do governo falando em ‘ação militar’.
Problemas resultantes das próprias políticas do governo venezuelano, se agravaram com sanções econômicas norte-americanas; sanções que são ilegais tanto pelas normas da OEA como da ONU, assim como das leis dos EUA e de outras convenções e tratados que firmou.
Passando por cima do efeito destas sanções, o governo dos Estados Unidos condena exclusivamente o governo venezuelano pelas dificuldades econômicas que afligem o povo venezuelano.
Agora, os Estados Unidos, seus aliados, incluindo o secretário-geral da OEA, Luís Almagro, e o presidente de ultra-direita, Jair Bolsonaro, empurram a Venezuela ao precipício ao reconhecerem o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como novo presidente – o que é ilegal inclusive sob a Carta da OEA – aceleram de forma aguda a crise política venezuelana na esperança de dividirem os militares da Venezuela e aprofundarem a polarização na população, obrigando a todos a escolherem lados. Uma óbvia estratégia de substituir Maduro, através de um golpe de Estado.
A realidade é que, apesar da hiperinflação, escassez de produtos e uma profunda depressão, a Venezuela segue sendo um país politicamente polarizado. Os Estados Unidos e aliados devem parar de encorajar a violência de empurrar na direção de uma mudança regime violenta e fora da legalidade. Se o governo Trump continuar a enveredar por este curso desenfreado na Venezuela, o mais provável é que se instale um derramamento de sangue, o caos e instabilidade. Os EUA já deveriam ter aprendido de suas aventuras de mudança de regime no Iraque, Síria, Líbia, além dos nefastos exemplos de seu patrocínio de mudanças de governo na América Latina.
Nenhum dos lados pode simplesmente varrer o outro. Os militares, por exemplo, têm ao menos 235.000 membros combatentes. Ainda há um contingente de 1,6 milhão de integrantes das milícias populares. Muitas dessas pessoas vão se engajar na luta, não apenas com base em sua devoção à soberania nacional, o que é amplamente desenvolvido por toda a América Latina – isso, dado o fato de que a marcha dos acontecimentos mostra uma intervenção norte-americana –, mas também para se protegeram da repressão que tende a acontecer caso a oposição derrube o governo pela força.
Em tais circunstâncias, a única solução é acordo negociado. Têm havido esforços, tais como os liderados pelo Vaticano, no outono de 2016, com potencial de avanço, mas não receberam apoio de Washington que favorecia, já então, a mudança de regime.
Pelo bem do povo da Venezuela, da região, pelo princípio da soberania nacional, estes atores internacionais deveriam apoiar as negociações, entre o governo da Venezuela e seus opositores, que permitam ao país finalmente emergir de sua crise política e econômica.