O ex-prefeito da capital San Salvador, Nayib Bukele, será o novo presidente de El Salvador tendo obtido 53,7% dos votos. Sua vitória deixou para trás o candidato do direitista partido Arena, Carlos Calleja, que obteve 31,6% dos votos, e o do partido no governo, a Frente Farabundo Martí (FMLN), cujo candidato, Hugo Martínez, conseguiu apenas 13,7% dos votos.
A FMLN teve lideranças denunciadas por receptação de suborno e não conseguiu vencer o desemprego nem deter as gangues do tráfico que fazem de El Salvador um dos países mais atingidos do mundo em termos de mortes violentas.
Nascido em uma família de origem palestina, Bukele, que declarou ter no líder mexicano Andrés López Obrador uma de suas referências, lastreou sua propaganda de campanha nas promessas de acabar com a corrupção e a violência.
O desastre da FMLN – que chegou ao poder em meio a uma luta de guerrilhas contra uma ditadura sanguinária apoiada em setores da oligarquia local, com uma plataforma de medidas populares, mas não realizou as transformações prometidas – foi o estopim para a vitória esmagadora do presidente eleito.
FMLN, PT E PROPINA DA ODEBRECHT
Em dez anos de governo, a corrupção tornou-se a questão central para o desgaste da Frente, assim como a falta de resultados diante da violência das gangues e a falta de perspectiva para a juventude, principal esteio de Bukele e setor mais atingido pelo desemprego crônico.
Mauricio Funes assumiu a Presidência em 2009, candidatando-se pelo partido formado a partir do movimento Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, FMLN, declarando-se admirador do PT brasileiro. A campanha foi dirigida pelo marqueteiro João Santana. Na época, o então presidente Lula, participou da posse.
Santana afirmou, em delação premiada, que participou da campanha a pedido de Lula e que ela foi bancada com dinheiro da Odebrecht. Funes, acusado de usar, para fins pessoais, fundos secretos do Estado e agora exilado na Nicarágua, foi sucedido, em 2014, pelo atual presidente, Salvador Sanchez Ceren. As acusações de corrupção continuaram presentes e fazendo declinar o apoio popular à FMLN que seguiu apresentando-se como sendo a “esquerda” no poder.
A formação direitista, Arena, não saiu incólume dos processos contra os desvios de dinheiro público. Antonio Sacas, último presidente eleito pela Arena, que governou por quatro mandatos, de 1989 a 2009, foi condenado a 10 anos de prisão por corrupção.
TRAJETÓRIA DE BUKELE
Com sua consigna “O dinheiro é suficiente quando ninguém rouba”, Bukele defendeu acabar com a impunidade e promover projetos de infraestrutura que possam gerar empregos, na esperança de conter o êxodo de milhares de salvadorenhos que não conseguem trabalho e já integraram as caravanas que saem de Honduras para tentar sorte melhor nos EUA.
Bukele entrou na política na FMLN, mas foi expulso em outubro de 2017 acusado de rachar o movimento, violar os estatutos do partido e agredir uma correligionária atirando-lhe uma maçã durante uma sessão da direção partidária.
Ele nega as acusações e não compareceu a reunião da Comissão de Ética de seu partido alegando que não teria julgamento interno justo.
Suas propostas de campanha destacam um plano de infraestrutura que inclui um porto, uma linha de trem e um aeroporto, mas não divulgou ainda nem as formas de financiamento, nem as prioridades. No aspecto político, o novo presidente não terá vida fácil. Bukele deverá governar com uma Assembleia Legislativa dominada pela Arena e a FMLN e na qual seu novo partido, GANA, quase não tem peso.
Depois de ser expulso da Frente, Bukele fundou seu próprio movimento, Nuevas Ideas. Conseguiu mais de 200.000 assinaturas em um fim de semana, mas acabou não sendo aceito pelo Tribunal Supremo Eleitoral. Sem partido, Bukele buscou siglas que lhe permitissem concorrer nas eleições. Tentou-o com Cambio Democrático, um pequeno partido que havia eleito um único deputado nas eleições parlamentares de 2018, mas a sigla foi cancelada. Poucas horas antes de vencer o prazo de registro, anunciou um acordo com GANA, um partido fundado em 2010 que surgiu como dissidência da Arena. Ao que tudo indica foi um jeito de driblar os entraves eleitorais. “Observando os resultados históricos, pode-se ver que GANA jamais esteve nem perto de um triunfo em eleições presidenciais”, assinalou o jornal espanhol Publico.es, apontando que o resultado na eleição de domingo não é coisa de siglas, mas do candidato Bukele.
DESAFIOS
O novo presidente precisará enfrentar o problema das gangues violentas, responsáveis pela maioria dos 3.400 homicídios cometidos em 2018 em El Salvador (51 para cada 100.000 habitantes).
Atualmente, El Salvador tem 30,3% de seus 6,6 milhões de habitantes vivendo na pobreza.
Estes fatores fazem com que a cada ano, milhares de salvadorenhos deixem o país, sobretudo em direção aos Estados Unidos, onde, em condições quase sempre ilegais e perigosas, vive hoje um a cada quatro salvadorenhos, segundo o site nicaragüense Artículo 66.
Bukele também terá que enfrentar o desafio do crescimento de uma economia dolarizada, sem moeda nacional, que se alimenta em boa parte das remessas enviadas pelo pessoal que mora nos EUA.
A participação nas eleições foi de 41%, a menor nos últimos 25 anos.