(HP 16/10/2015)
Ninguém na Presidência disse algo como “sou uma presidente que eu tenho uma vida ilibada” (sic).
Dilma disse isso no dia em que discursou no Congresso da Cut, diante de cartazes – e até um stand – que proclamava: “Defender João Vaccari é defender o legado da esquerda e a democracia“.
A ilibada Dilma não se sentiu constrangida com essa perversão, que identifica um ladrão do dinheiro público – isto é, da Petrobrás – preso com abundância de provas (v. nossa série sobre o esquema do PT), com a “esquerda” e a “democracia”.
Será que o princípio que rege essa “vida ilibada” é que ser de esquerda – ou ser democrata – é roubar o povo? No entanto, por que alguém sentiria necessidade de dizer uma coisa tão ridícula quanto “sou uma presidente que eu tenho uma vida ilibada”?
Somente quem não é, tem necessidade de dizer que é. Por isso, a frase é ridícula. A garantia da honradez, jamais pode ser a declaração da própria honradez. Se fosse assim, as penitenciárias estariam repletas de homens honrados e mulheres honradas…
Mas, há dias, Dilma matraqueia obras-primas como “não há acusação de nenhuma maneira contra mim” (ela, e todo mundo, sabe que há, e não poucas – daí esse “não há de nenhuma maneira”); “não cometi nenhum desvio de conduta” (só o maior estelionato eleitoral da vida brasileira); “jamais utilizei em meu proveito a atividade que eu exerci dignamente como presidente da República” (interessante o verbo ‘exercer’ no passado; além disso, parece que ela não tirou proveito de ser reeleita; e, realmente, ninguém esperava encontrar irregularidades nas atividades que exerceu “dignamente”; o problema são as outras); “jamais cometi um malfeito na minha vida política e pessoal” (nem a Virgem Maria garantiu tal coisa, mas, realmente, a mãe de Cristo não precisava); “eu tenho certeza, e eu tenho certeza que eles tentaram, eles buscaram encontrar alguma coisa contra mim, mas nunca vão encontrar” – sobre essa última afirmação, o impressionante é que ninguém precisa buscar. Por exemplo:
O acerto que Dilma e Cunha estão tentando costurar no momento é algo de superlativa indecência.
Nunca houve algo, feito à luz dos refletores, tão indecente na vida pública brasileira. Já houve coisas, feitas às escondidas, que se tornaram tremendos escândalos quando reveladas. Mas o acerto entre Dilma e Cunha é de uma falta de pudor tão absoluta, que é na frente de todos.
Uma presidenta que é resultado – e convive muito à vontade – com um dos esquemas de ladroagem mais imundos da História da República, está combinando (ou tentando) a impunidade mútua com um presidente da Câmara que é beneficiário desse mesmo esquema – ou seja, do assalto contra a Petrobrás – e tem mais contas secretas na Suíça do que há plantas no Jardim Botânico.
Por isso, Vaccari é o heroi do PT. A falta de caráter e de vergonha é o padrão estabelecido pela própria senhora presidente. Já foram falar com Cunha o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva – e, também como intermediário entre Dilma e Cunha, há o pastor Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus do Brás, em São Paulo, irmão de Abner Ferreira, pastor da Assembleia de Deus Madureira, igreja, segundo a Procuradoria Geral da República, usada por Cunha para lavar dinheiro de propina. Samuel Ferreira, que fez campanha para Dilma, é ligado ao esquema do falecido reverendo Moon, um mercenário da CIA que se declarou “messias” na Coreia do Sul – e até comprou um jornal em Washington, o “The Washington Times”.
No último dia 9, Dilma levou para a Colômbia, em sua comitiva, os executivos Miller Soares Rufino Pereira, da Camargo Corrêa, Eleuberto Antonio Martorelli, da Odebrecht, e Jorge Luiz de Sousa Fortes, da OAS. Ela colocou na delegação oficial brasileira os representantes de três das principais empresas agarradas – uma delas até mesmo condenada pela Justiça – na Operação Lava Jato. São empresas que, ao todo, roubaram em, pelo menos, R$ 20 bilhões a Petrobrás (v. palestra do procurador Deltan Dallagnol no XXI Congresso Nacional do Ministério Público, 09/10/2015).
São empresas que cometeram os piores delitos da história da administração pública brasileira, que formaram um cartel para extorquir nossa principal empresa, e cujos cabecilhas estão na cadeia.
Foi isso o que Dilma levou para o exterior, numa completa afronta às leis e à Justiça – ainda mais, sendo ela presidente. Mas a ilibada senhora parece viver muito bem no meio desses elementos.
Durante a maior parte do tempo em que essas empresas saquearam a Petrobrás, Dilma era, de janeiro de 2003 a março de 2010, presidente do Conselho de Administração da empresa. Ela, portanto, aprovou todos os contratos firmados pela Petrobrás, durante mais de sete anos.
A possibilidade de Dilma não ter nem desconfiado que estavam pilhando a Petrobrás em, no fim, R$ 20 bilhões, resume-se a: porque não queria ver, ou, o que é quase a mesma coisa, porque sabia o que estava havendo e não era de seu interesse cumprir as funções que seu cargo exigia.
Ela também não desconfiou que os tubos de dinheiro que sua campanha gastou, tinham origem ilícita, isto é, eram lavagem de propinas que Vaccari e outros receptavam. Ou será que, de repente, os empresários se tornaram apaixonados pelo PT?
Dilma cavou um rombo de R$ 40 bilhões nos bancos públicos, para desviar dinheiro do Tesouro aos bancos, como juros. Por causa desse rombo, suas contas não foram aprovadas pelo TCU. Mas, o que disse ela sobre isso?
“As questões das chamadas ‘pedaladas’ nada mais são do que uma crítica às formas pelas quais nós pagamos tanto o Minha Casa Minha Vida como o Bolsa Família“.
O que é, totalmente, mentira. Tanto o “Minha Casa Minha Vida” como o “Bolsa Família” eram – e são – despesas do Tesouro. Por que ela descarregou isso sobre os bancos públicos – a ponto de criar um rombo de R$ 40 bilhões? Porque o dinheiro do Tesouro – o dinheiro do “Minha Casa Minha Vida” e do “Bolsa Família” – estava sendo desviado para os juros aos banqueiros, esse pessoal muito necessitado.
Assim é a ilibada Dilma. Porém, é só uma amostra.
CARLOS LOPES