Os assuntos da Venezuela “devem ser resolvidos por seu povo dentro do marco da constituição e da lei através de um diálogo pacífico e canais políticos”, afirmou a chancelaria da China, diante da intervenção aberta de Washington, que “reconheceu” um autonomeado ‘presidente inteiro’, Juan Guaidó, e impôs sanções que equivalem a um embargo do petróleo, do qual o país depende inteiramente para comprar alimentos, remédios e insumos, o petróleo.
“Só assim a Venezuela poderá ter estabilidade duradoura”, assinalou a declaração chinesa, emitida no dia seguinte da reunião no Uruguai que reuniu países latino-americanos e do Caribe e nações europeias que apoiam um processo de negociação na Venezuela, com vistas a impedir uma intervenção armada de Trump no país em crise.
A China, assim como a Rússia, mantém o reconhecimento do presidente Nicolas Maduro. O chanceler russo Sergei Lavrov afirmou que Moscou continua a “acreditar que a única maneira de sair desta crise é o governo e a oposição sentarem na mesa de negociações”.
O contrário disso, acrescentou Lavrov, “será simplesmente a mesma mudança de regime que o Ocidente fez muitas vezes”. Ele também rechaçou os “ultimatos” contra o governo venezuelano e chamou de “situação alarmante” em termos do direito internacional “quando desde fora anunciam que a Venezuela tem agora um novo presidente interino”. O que classificou de “ingerência inominável”.
As principais ex-potências coloniais europeias (França, Espanha, Grã Bretanha e Alemanha) anunciaram na semana passada o ‘reconhecimento de Guaidó’ para a convocação de novas eleições.
Devido à oposição da Itália, que considerou o ‘reconhecimento de Guaidó’ uma interferência nos assuntos internos de uma nação soberana, a Venezuela, a União Europeia não pôde fechar questão sobre o assunto. A chanceler da UE, Federica Mogherini, participou da reunião de Montevidéu, convocada a partir do México, Uruguai e Caricom (comunidade do Caribe).
Ali foi instalado o chamado ‘Mecanismo de Montevidéu”, para ajudar nas negociações na Venezuela, no qual pelo menos uma parte dos participantes acredita que a realização de eleições é a chave para sair da crise.
No comunicado de sexta-feira (8), a China expressou seu apoio aos esforços da comunidade internacional por uma solução pacífica da questão da Venezuela e acrescentou esperar que todos as partes continuassem a desempenhar um “papel construtivo”.
Já Guaidó, repetindo a anedota da “cauda que abana o cachorro”, disse que não descartava “autorizar uma intervenção militar dos EUA na Venezuela.
A tentativa de Washington e de Guaidó de agravarem a crise com a farsa da “ajuda humanitária”, a ser entregue passando acintosamente por cima do governo constitucional de Maduro, foi denunciado pelo presidente da Bolívia, Evo Morales.
“Com dois pesos e duas medidas, os EUA anunciam “ajuda humanitária” ao povo da Venezuela depois de asfixiar economicamente o país irmão com sanções e confiscos abusivos e ilegais. Os EUA destroem o princípio do direito internacional de “ajuda humanitária ao realizar ações golpistas”, disse Morales no Twitter.
Por pior e mais incompetente que seja Maduro, essa é uma decisão que compete apenas aos próprios venezuelanos. O conselheiro chefe de segurança nacional do governo Trump, John Bolton, em recente entrevista à Fox News, deixou escapar a que realmente se destina a ‘ajuda humanitária’: “vai fazer uma grande diferença para os EUA economicamente se pudéssemos ter petroleiras americanas realmente investindo e produzindo as capacidades de petróleo da Venezuela” (as maiores reservas do planeta).