Em entrevista à Yahoo News, o general norte-americano da reserva, Don Bolduc, afirmou que os talibãs “são os vencedores” da guerra de 18 anos no Afeganistão. “Nós apenas ainda não descobrimos isso”, acrescentou.
Na semana passada, o governo Trump anunciou ter chegado a um princípio de acordo para a retirada, em negociações preliminares com o Talibã.
O general Bolduc, que comandou tropas especiais por cinco anos lá, assinalou que viu “69 dos seus soldados” mortos no Afeganistão e apontou que absorver o fato de que os EUA perderam militarmente será “uma pílula amarga”.
Para Bolduc, os soldados que comandou “fizeram o que lhes foi pedido e viram seus companheiros serem mortos e mutilados. E, devido ao fracasso de nossos formuladores de políticas e de nossos altos líderes militares, eles terão que engolir essa pílula”.
O general disse que, caso os EUA tivessem aceitado a rendição do Talibã no final de 2001, “talvez fosse concluída nos nossos termos”. “Agora está sendo concluída nos temos do Talibã”.
Sobre a tropa de fancaria, montada para servir de puxadinho para as tropas de ocupação, o general afiançou que “não podem vencer sem nosso poder aéreo sobre seus ombros e os nossos homens ao lado deles, empurrando-os para a luta. Eles se borram sempre que combatem o Talibã”.
Não chega a ser surpreendente que o meticuloso militar não haja falado sobre as dezenas de milhares de civis mortos e um número ainda maior de mutilados.
Em Moscou, conversações de paz na semana passada reuniram representantes do Talebã, organizações com laços com o governo criado pelos EUA e até mesmo o ex-presidente Hamid Karzai. O Talibã segue se recusando a falar com o fantoche mais recentemente instalado em Cabul pelos ianques, Ashraf Ghani.
Em entrevista ao Sputnik News, o vice-chefe do escritório político do Talibã no Qatar, Abdul Salam Hanafi, asseverou que “os norte-americanos nos disseram que metade de suas tropas será retirada a partir do começo de fevereiro até o final de abril”.
Ele enfatizou a exigência do Talibã de que todas as forças estrangeiras se retirem do Afeganistão.
Na semana anterior, após as conversações EUA-Talibã no Qatar, o enviado de Trump, Zalmay Khalilzad, disse ao New York Times que as duas partes haviam concordado sobre “a estrutura” da negociação para um acordo de paz.
Em declarações feitas na sexta-feira em um think tank nos EUA, Khalilzad asseverou que “um cessar fogo deve ocorrer o quanto antes” e acrescentou que “entre agora e julho há tempo suficiente, creio eu, para chegarmos a um acordo”. As eleições para regime títere, que seriam em maio, foram adiadas para 20 de julho.
A invasão do Afeganistão ocorreu em outubro de 2001, após o ataque às torres gêmeas de Nova Iorque e desde então os EUA têm estado atolados na guerra de mais longa duração de sua história.
O Talibã chegou ao poder com a ajuda dos serviços secretos paquistaneses e norte-americanos, e seu primeiro ato foi sequestrar o ex-presidente Mohammad Najibullah, que estava sob proteção da ONU, e linchá-lo e assassiná-lo.
A Al Qaeda foi criada sob égide da CIA e da Arábia Saudita, para servir de carne de canhão contra o regime progressista então no poder em Cabul e em 2001 Osama Bin Laden estava escondido em cavernas no sul do país.
Sob a ocupação dos EUA, praticamente toda a economia do Afeganistão passou a girar em torno do plantio e colheita da papoula, e o país se tornou o mais produtor do mundo de ópio e heroína. O plantio de papoula chegou quase a ser zerado no último período do Talibã no poder, antes da invasão.
Foram cúmplices na ocupação os países da Otan avassalados por Washington. Apesar de todos os bombardeios e dos drones, atualmente o Talibã controla a maior parte do país e o governo fantoche, ironicamente tratado de ‘prefeito de Cabul’, nem na capital está seguro. O grande temor de Ghani é ser abandonado pelos amos à própria sorte, e a criação em curto prazo de um governo interino no país.
Conforme os entendimentos EUA-Talibã, este dará garantias de que não irão operar em território afegão organizações jihadistas terroristas – embora Washington já haja permitido, nem tão discretamente assim, a transferência de terroristas do Daesh (ou ‘Islamic State’) para a região, ao que se diz para futuras investidas nos países ex-soviéticos muçulmanos e no extremo ocidental da China.