Presidente da mineradora considerou rompimento da barragem que matou ao menos 166 pessoas um “acidente”
O presidente da mineradora Vale, Fábio Schvartsman, defendeu, durante reunião da Comissão Externa da Câmara dos Deputados, que a empresa “não pode ser condenada” pela tragédia causada após o rompimento da Barragem 1 da Mina do Feijão, que era operada pela empresa em Brumadinho (MG). Até o momento, foram confirmadas as mortes de 166 pessoas e, outras 155 continuam desaparecidas.
No inicio da audiência, todos os presentes se levantaram e permaneceram em silêncio em memória às vítimas do rompimento da barragem. Ricardo Schvartsman foi o único que se manteve sentado. O registro foi feito pelo fotógrafo Lula Marques, que acompanhou a reunião.
“A Vale é joia brasileira que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu numa de suas barragens por maior que tenha sido a sua tragédia”, disse Schvartsman.
Em sua intervenção, o presidente da Vale tentou eximir a responsabilidade da mineradora sobre o que chamou de “acidente”. Ele reforçou o posicionamento da companhia de que os laudos que a empresa teve acesso não indicavam o perigo iminente de rompimento da barragem.
“Nós continuamos sem saber os motivos que o causaram. Todas as informações que nós possuíamos e que eram enviadas aos técnicos da Vale demonstraram que não havia qualquer perigo iminente sobre aquela barragem. Consequentemente não havia nenhuma razão de alarme ou de preocupação por parte da gestão da companhia”, disse.
Schvartsman não se manifestou sobre os e-mails registrados na investigação da Polícia Federal que apontam o conhecimento de executivos da Vale sobre a instabilidade na barragem de Brumadinho ao menos dois dias antes do rompimento. (v. E-mails mostram que Vale sabia de problemas 2 dias antes do rompimento)
“O laudo de estabilidade que é concedido por especialistas nacionais e internacionais com grande qualificação no assunto representam a pedra fundamental de todo o sistema de mineração no Brasil, na Vale e no mundo”, afirmou Schvartsman.
Apesar das declarações do presidente da Vale, documentos internos da companhia revelados pelo MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) indicam que a represa da mina do Córrego do Feijão fazia parte de um grupo de 10 barragens com mais propensão a rompimento e que se encontravam em uma zona de atenção.
O documento indicava ainda que a companhia havia estimado a quantidade de mortos em caso de rompimento dessa barragem e os custos que a empresa teria se isso viesse a acontecer. Os custos estimados pela empresa eram de US$ 1,5 bilhão (aproximadamente R$ 5,6 bilhões).
ESQUEÇA MARIANA
Schvartsman tentou ainda desvincular a mineradora da responsabilidade com o rompimento da barragem de Mariana (MG), que matou 19 pessoas e destruiu o leito do Rio Doce, até então, considerado o maior desastre ambiental do país.
A barragem de Mariana é de propriedade da Samarco, empresa de propriedade da Vale em associação com a multinacional BHP Billiton.
“É importante registrar que a Vale existe há 70 anos. O primeiro acidente de barragem da Vale aconteceu agora em Feijão. Feijão não foi construída pela Vale. A Vale não utiliza o método de construção a montante em barragem nenhuma”, afirmou.
Segundo o presidente da mineradora, todas as barragens “a montante” da Vale foram compradas pela empresa após monitoramento das estruturas. A empresa tem 19 barragens construídas pelo sistema “a montante” e já anunciou que acabará com essas barragens em até três anos. Segundo a Vale nenhuma delas está sendo usada.
A barragem da Mina do Córrego do Feijão foi construída pela Farteco e depois adquirida pela Vale.