Por volta das 4h30 da manhã do dia 13 de fevereiro de 1991, os F-117 norte-americanos bombardearam um abrigo antiaéreo em Amiriyah, um subúrbio de Bagdá, incinerando 408 pessoas, muitas delas mulheres e crianças.
O jornalista e escritor inglês Neil Clark, em coluna na RT, conclamou nessa quarta-feira (13) ao não esquecimento do massacre de Amiriyah no Iraque em 1991, quando mais de 400 civis foram assassinados por duas ‘bombas inteligentes’ norte-americanas em um abrigo antiaéreo de Bagdá. Clark sublinhou como Washington cunhou a expressão “dano colateral” na época e denunciou que as vítimas de Amiriyah “ainda estão à espera de justiça”.
Como ele relembra, por volta das 4h30 da manhã de quarta-feira, 13 de fevereiro de 1991, os F-117 norte-americanos bombardearam um abrigo antiaéreo em Amiriyah, um subúrbio de Bagdá, incinerando 408 pessoas, muitas delas mulheres e crianças.
“A maioria dos corpos foi queimada além do reconhecimento”, relatou Jeremy Bowen, da BBC. Um homem pobre disse que 11 de sua família estavam no abrigo. Outro chorou quando disse que perdera a esposa e os filhos.
Washington prontamente alegou que o abrigo era um “bunker de comando e controle” e que Saddam Hussein estava usando seu povo como “escudos humanos”. No entanto, a Human Rights Watch registrou mais tarde que o Pentágono sabia que o suposto bunker era usado como abrigo antiaéreo desde a Guerra Irã-Iraque.
O premiado jornalista anti-guerra John Pilger observou o questionamento feito [pela BBC] a Jeremy Bowen quando este informou o crime: “você está absolutamente certo de que não era um bunker militar?”, perguntaram-lhe. Sem qualquer traço de ironia, o porta-voz da Casa Branca, Martin Fitzwater, declarou: “Saddam Hussein não compartilha nossa santidade pela vida humana”. “
“É claro que é sempre um ‘erro’ ou ‘trágico acidente’ quando os EUA e seus aliados cometem crimes tão terríveis”, ressalta Clark.
“Considere o terrível número de mortes de civis iraquianos na intensa campanha de bombardeio na primeira Guerra do Golfo. De acordo com os relatórios de inteligência americanos e franceses, mais de 200.000 pessoas morreram. Tudo isso mal foi mencionado na época, mesmo na BBC e na imprensa de ‘qualidade’, e agora está quase esquecido”, escreve David Cromwell, da Media Lens, em seu livro Why Are We The Good Guys?
A imprensa iraquiana pediu que os EUA fossem julgados por crimes de guerra pelo ataque de Amiriyah. Mas é claro que isso nunca aconteceu. Doze anos depois, os EUA e seus aliados atacaram o Iraque novamente – desta vez alegando falsamente que o país possuía armas de destruição em massa: mais 1 milhão de mortos.
“O que é revelador é como a Incineração de Amiriyah – fora do Iraque – desapareceu nos desvãos da memória”, adverte o jornalista. Como ele assinala, se em vez de os EUA terem realizado o ataque, tivesse sido a Rússia, o Irã ou outro ‘inimigo oficial’, pode-se ter certeza de que teria sido o tema de pelo menos “um grande filme de Hollywood” e haveria lembretes anuais do crime hediondo”.
Não é só no Iraque onde isso aconteceu. Clark relembra o bombardeio de um comboio de albaneses pela Otan em abril de 1999, que matou mais de 60 refugiados e cuja responsabilidade Washington tentou lançar sobre as forças iugoslavas. Quando ficou impossível sustentar a mentira, a Otan passou a alegar que o piloto “havia acreditado” ser um comboio militar.
E, claro, a culpa deste “trágico acidente” foi passada para o “inimigo oficial”, com a Otan declarando que “as circunstâncias” em que ocorrera o “acidente” eram de “total responsabilidade do presidente Milosevic e de suas políticas”.
A invasão do Afeganistão também ficou marcada pelos ‘danos colaterais’. Em 9 de outubro de 2001, apenas dois dias depois que os EUA e o Reino Unido iniciaram a guerra, quatro afegãos que trabalhavam para uma agência de remoção de minas da ONU foram incinerados por um míssil de cruzeiro dos EUA enquanto dormiam no prédio da agência em um subúrbio de Cabul. Outra característica notável dessa guerra foi bombardear casamentos, com os EUA insistindo em questionar “se realmente tinha sido casamento”. Só num desses ataques, 44 civis foram mortos em em julho de 2002.
Desde Amiriyah, pode-se discernir um padrão claro quando ocorre um “dano colateral”, diz Clark: a) O ataque é descrito como um ‘trágico erro/acidente’, cometido porque estávamos lutando contra ‘os bandidos’ (culpando indiretamente os ‘bandidos’ por nos obrigarem a estar lá). Ou..
b) O ataque é atribuído diretamente aos “bandidos”. Vemos isso acontecer em Gaza com as alegações de “escudo humano” feitas por Israel quando suas bombas matam civis. Todo mundo que Israel mata é culpa do Hamas, e não de Israel, da mesma forma que todas as mortes durante o bombardeio da OTAN à Iugoslávia eram culpa de Milosevic.
c) Se houver um verdadeiro clamor, então é caso de: não se preocupe, vamos realizar nosso próprio inquérito interno! Que, claro, acaba exonerando os perpetradores.
O jornalista encerra convidando os leitores a uma reflexão pelos 408 de Amiriyah e por todas as outras vítimas inocentes de “danos colaterais”, para que não sejam esquecidos.
ANTONIO PIMENTA