Dezenas de milhares de servidores públicos participaram de greve nacional de 24 horas em Portugal na sexta-feira (15), com a Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública confirmando a adesão acima de 80% no país inteiro. A mobilização parou escolas, hospitais, tribunais, museus, repartições e a coleta de lixo.
Os grevistas exigiram aumento real de salário de 4%, mais 1,5% referente à inflação de 2018 e a abertura de negociação com o governo, para que se defina de que modo e em que prazo as leoninas perdas salariais impostas pela Troika serão recuperadas. As duas centrais sindicais, a CGTP e a UGT, apoiaram a greve.
“Esta greve está a dar o sinal que os trabalhadores estão muito descontentes com o que se está a passar com eles e com a forma como estão a ser tratados”, afirmou a coordenadora da Frente Comum, Ana Avoila. “Foram estes trabalhadores que ajudaram a derrubar o governo PSD/CDS que fez uma política desastrosa para a administração pública”, acrescentou, conclamando o governo de Antonio Costa a recuar da sua intransigência.
A greve foi convocada após o primeiro-ministro ter anunciado que prorrogaria por mais um ano o congelamento dos salários dos servidores, que já dura 9 anos, 4 meses e 2 dias (desde 2009!), com perda média de 17%. Algumas categorias chegaram a perder mais de 20%. Os servidores também denunciam a precarização que acompanhou o arrocho. Muitos professores são demitidos ao final do ano letivo e ficam os três meses de férias sem salário.
O congelamento foi imposto no auge da política de arrocho selvagem para salvar bancos europeus afundados na especulação. Apenas os servidores que ganham 580 euros terão reajuste para não violar o salário mínimo, que subiu para 635 euros. O que deixa 630 mil dos 670 mil servidores públicos portugueses sem qualquer reajuste.
O governo socialista é minoritário no parlamento, mas se mantém graças à sustentação de comunistas, verdes e bloquistas de esquerda, que não participam do governo, em torno de uma agenda antineoliberal mínima, como a recuperação do salário mínimo – o que recebeu o apelido de “Geringonça”. As eleições serão em outubro. No ano passado, o PIB de Portugal cresceu 2,1%, acima da média da UE.
Os enfermeiros anunciaram uma greve nacional para o dia 8 de março. Desde novembro, têm espocado greves pipoca na rede hospitalar, convocadas pela internet, e com os grevistas apoiados por financiamento coletivo pelas redes, contra o qual o governo atuou na justiça para exigir a entrega das informações pessoais das 14.000 pessoas que contribuíram.
O que levou Carlos Silva, secretário-geral da UGT, central próxima dos socialistas, a argumentar que “não é essa atitude que se espera de um governo de esquerda”. Ele acrescentou que, se desgastarem os sindicatos, depois “vão negociar com quem, os coletes amarelos?” “O governo tem de decidir o que quer fazer”.
Para o jornal Público, Portugal está vivendo um “inverno quente”, com o número de avisos de greve chegando a 112 no primeiro mês e meio do ano, contra 260 no ano passado inteiro. Não é só em Portugal: nesta semana, os trabalhadores belgas realizaram uma greve geral nacional, os servidores públicos alemães pararam Berlim na quarta-feira e o pessoal dos transportes, na sexta-feira. Na semana passada, centenas de milhares de trabalhadores italianos exigiram em Roma empregos e mais investimentos públicos. Desde novembro, a revolta dos Coletes Amarelos vem tirando o sono do presidente Macron na França e inviabilizando sua nefasta ‘reforma da previdência’.