O sacerdote, teólogo e poeta nicaraguense Ernesto Cardenal, histórico militante da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), foi “absolvido de todas as censuras canônicas impostas” pelo Vaticano há 35 anos.
Ao ser informado da decisão do papa Francisco pelo embaixador do Vaticano, Ernesto Cardenal, hoje com 94 anos, celebrou uma missa na cama do hospital onde está internado tratando de uma infecção renal.
“Hoje visitei no hospital meu amigo sacerdote, padre Ernesto Cardenal, com quem pude conversar por alguns minutos. Depois de rezar por ele, ajoelhei-me diante de sua cama e pedi-lhe a bênção como sacerdote da Igreja Católica, a qual me concedeu com alegria. Obrigado, Ernesto!”, escreveu Dom Silvio Báez, Bispo Auxiliar de Manágua, em sua conta no Twistter.
Ernesto foi nomeado ministro da Cultura no dia em que os sandinistas derrubaram a ditadura sanguinária de Anastacio Somoza, em 19 de julho de 1979, realizando uma obra magistral até 1987. Atualmente tem sido uma voz ativa contra os desmandos do presidente Daniel Ortega. “Exijo que pare imediatamente a repressão que está sofrendo nosso povo, com massacres, sequestros, prisioneiros e torturas”, condenou.
PERSEGUIÇÃO
Em 1984 o papa João Paulo II havia castigado o padre-poeta “devido à sua militância política” e em função da sanção eclesiástica aplicada, Cardenal não pôde realizar atividades pastorais, celebrar liturgia ou ministrar qualquer outro tipo de sacramento desde então.
João Paulo II também havia imposto sanções ao irmão de Ernesto, Fernando Cardenal, sacerdote jesuíta, e ao padre Miguel D’Escoto, todos dirigentes da FSLN e membros da junta revolucionária que terminou com a ditadura pró-EUA de Anastasio Somoza.
Em agosto de 2014, o papa Francisco já havia levantado as penas contra Fernando Cardenal, ex-ministro de Educação do sandinismo, que faleceu posteriormente em fevereiro de 2016 – e que havia renunciado à FSLN em 1990. Algo semelhante ocorreu com D’Escoto, ex-chanceler da Nicarágua, absolvido por Francisco em 2014, quando o próprio padre solicitou. Morreu em 8 de junho de 2017.
As sanções de João Paulo II para desqualificar os sacerdotes, então importantes quadros do sandinismo, fizeram parte da ofensiva conservadora do Vaticano contra os porta-vozes da “teologia da libertação”.
Recentemente, Ernesto Cardenal publicou seu livro Filhos das estrelas, e anunciou outra possível compilação de poesias para breve. O escritor é um autores nicaraguenses mais reconhecidos e premiados em nível internacional, tendo sua obra traduzida para mais de 20 línguas.
Em 2014, numa entrevista dada à televisão alemã após receber em Berlim o prêmio Theodor Wanner, Ernesto Cardenal afirmou que “o papa Francisco está fazendo uma revolução” na Igreja Católica.