Roger Waters, o mais conhecido dos membros e fundador da banda Pink Floyd (destaque musical de 1965 a 1996 e 2012 a 2014), denuncia que o show denominado Venezuela Aid Live “não tem nada de ajuda humanitária”.
“Por trás do show está a Casa Branca”, aponta o baixista exigindo que “deixem os venezuelanos exercerem seu direito à autodeterminação”.
O “Venezuela Aid Live” é patrocinado pelo bilionário inglês, Richard Branson, dono do grupo Virgin que inclui uma empresa aérea, a Virgin Airlines e a gravadora Virgin.
O show está programado para ter início hoje, dia 22, como forma de reunir pessoas nas proximidades da cidade de Cúcuta, Colômbia (vizinha à fronteira com a Venezuela), onde estão estocados mantimentos e medicamentos trazidos principalmente pelos Estados Unidos (através da notória USAID).
A ideia faz parte de uma articulação entre a Casa Branca e o autoproclamado presidente Juan Guaidó (que conta com apoio dos governos da Colômbia e do Brasil), com vistas a passar uma minguada “ajuda humanitária” tendo o oposicionista (presidente da Assembleia Nacional da Venezuela) como patrono.
O presidente Maduro tem denunciado – assim como o diretor da Cruz Vermelha, Christoph Harnisch e a diretora da organização humanitária católica Cáritas Venezuela, Janeth Marquez – que uma “ajuda humanitária” deve ser coordenada e não passando por cima das instituições nacionais venezuelanas e de preferência sob a coordenação da ONU, em especial em uma situação conflitada como a que atualmente ocorre.
Também está prevista no show a presença do presidente da Colômbia, Ivan Duque, alinhado com a política norte-americana de ingerência a partir de Washington para derrubar o governo venezuelano.
Waters qualificou de “truque” o show armado por Branson e Guaidó e repetiu: “Não tem nada a ver com ajuda humanitária” e sim com um respaldo à decisão da Casa Banca de “dar um golpe na Venezuela”.
O músico inglês destacou que quaisquer que sejam as razões pelas quais os Estados Unidos decidiram avançar sobre o governo venezuelano, “nenhuma delas tem relação com as necessidades dos venezuelanos, com democracia, com liberdade ou com ajuda humanitária”.
Neste sentido, Waters fez um apelo aos artistas que se dispõem a participar do show para que “não sejam levados por um caminho que visa mudança forçada de regime” e questionou: “Queremos que a Venezuela se torne outro Iraque, outra Líbia, outra Síria?”
O concerto “Mãos Fora da Venezuela”
Assim como Roger Waters, destacadas vozes da música venezuelana, a exemplo de Paul Gillman, Javier Key, Cecilia Todd e Fabiola José condenam o show provocativo.
Enquanto Gillman diz que participará do concerto organizado do lado venezuelano da fronteira, denominado “Mãos Fora da Venezuela”, a cantora e compositora Cecilia Todd, que também rejeita o “Venezuela Aid Live”, diz que não participará.
Cecilia defende que não se deve fazer este show neste momento. A compositora, que busca cultivar e difundir o cancioneiro tradicional venezuelano, desde os anos 1970, se referiu à possibilidade que a música traz, “como idioma universal, de encontro e paz, de gerar o diálogo”, enquanto que o que pode acontecer este fim de semana é o contrário.
Cecilia vê o “Venezuela Aid Live”, como um momento tenso em que pode haver confrontos com risco de perdas de vidas humanas “creio que isto pode estar nos planos maquiavélicos e espero que nada disso aconteça”.
“Concertos de paz e não de guerra”
Jávier Key, do Movimento Corazón Salsero, declara que participará do “Mãos Fora da Venezuela”, contra a “política nefasta implementada contra a Venezuela pelo governo dos Estados Unidos”.
“Faremos um concerto de paz, não de guerra. O do outro lado incita a uma invasão pelo império de Donald Trump, através da participação de artistas estrangeiros com Alejandro Sanz e Peter Gabriel”, denuncia Key, acrescentando que “do nosso lado vamos dar uma mensagem de não à invasão e sim à paz”.
A cantora e compositora Fabiola José também avalia que o chamado da oposição “é um erro. Estão forçando uma situação. Não estou de acordo com este concerto”.
Apesar de concordar que o concerto de Táchira defende a Venezuela e tem a participação solidária de artistas do país, não participará. Fabiola realizou vídeos denominados “Hecho en Casa” com seu esposo Fidel Barbarito para difundir a música nacional.
Ela enfatiza que “o artista, ou as pessoas que se dedicam a esta parte sensível da produção do povo devem ser agentes transformadores da consciência que ajudem a formar um pensamento em sintonia com a realidade” como contraponto à máquina das gravadoras multinacionais que reunirá artistas vinculadas a elas em Cúcuta.
NATHANIEL BRAIA