A “ajuda humanitária” coordenada pelos Estados Unidos, com a ameaça de entrada forçada de mantimentos na Venezuela a partir da Colômbia ou com diversos itens colocados à disposição dos venezuelanos na fronteira com o Brasil, está gerando uma tensão como não se via entre o Brasil e um país vizinho desde o início do século XX, quando ficaram definidas todas as questões de fronteiras do nosso país com dez países limítrofes.
Ao enviar uma partida quase simbólica de mantimentos (basicamente gaze e seringas) para empurrar o Brasil para dentro da provocação dos EUA contra a Venezuela, a pretensa “ajuda humanitária”, Trump deixa à mostra o seu interesse em criar uma escalada de atritos entre vizinhos no continente. Pescador de águas turvas, os EUA atuou dessa forma no Oriente Médio, Europa, ex-URSS.
O que foi determinado neste sábado (23), data da entrada forçada de mantimentos através da fronteira venezuelano-colombiana sob o pretexto de “ajuda”, em contradição com a pronta desautorização do governo Maduro uma vez que – de forma proposital – não houve qualquer coordenação a esse respeito com os órgãos de governo da Venezuela, é o ponto culminante de um processo planificado de criar, a partir de uma dificuldade interna, um conflito que está tomando dimensões regionais.
Ao se fazer integrante dessa “ajuda humanitária”, ainda que adotando posição distinta daquela arquitetada por Washington, ao limitar sua ação ao território brasileiro, o governo acaba participando de uma provocação que abre espaço para os conflitos bélicos, franqueando a região à intervenção externa, propelida pelo estímulo aos desentendimentos internos ou inter-regionais. Conflitos acerca dos quais – como já tantas vezes visto – se sabe como começam mas não se tem ideia de como terminam.
O porta-voz da presidência, Otávio do Rego Barros, disse que a participação do Brasil na “ajuda humanitária” se restringirá no armazenamento dos mantimentos (cerca de 200 toneladas) na base militar próxima à cidade de Pacaraima, na fronteira do Estado de Roraima com a Venezuela.
A partir desta base, a determinação é de que caminhões venezuelanos, dirigidos por motoristas venezuelanos, sejam abastecidos e voltem carregados para o país vizinho. Até hoje, só há um caminhão venezuelano estacionado na base brasileira. O porta-voz não esclareceu como será realizada a entrada dos caminhões venezuelanos ou seu retorno ao país de origem se a fronteira está fechada por ordem do governo vizinho.
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, também nesta sexta-feira, perguntado sobre o posicionamento do Brasil em razão da medida determinada por Maduro, de fechar a fronteira com o nosso país, declarou que o Brasil não fará uma “ação agressiva”.
“Temos que aguardar o desenrolar dos acontecimentos. O que já está estabelecido é que o Brasil não vai fazer nenhuma ação agressiva contra a Venezuela, porque é contra a Constituição e não é nosso pensamento. Nós queremos que a situação se resolva da melhor forma possível”, declarou o general Heleno.
É uma posição mais cuidadosa, mas ainda assim diferente da adotada por experientes entidades de ação humanitária, a exemplo da direção colombiana da Cruz Vermelha e da direção venezuelana da organização humanitária vinculada à Igreja Católica, Cáritas Venezuela.
Ambas já declararam que não participarão da ação e deixaram claro que uma ajuda em um clima conflagrado, como o que está criado no país sul-americano, tem que ser autorizada pelo governo e coordenada por agências vinculadas à ONU e não, como está acontecendo através dos lotes empilhados na cidade de Cúcuta, perto da fronteira venezuelano-colombiana, sob o selo da notória USAID.
Como primeiro resultado nefasto da decisão brasileira de participar (ainda que de forma limitada) do evento do dia 23, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, determinou o fechamento da fronteira da Venezuela com o Brasil.
E já houve tensão em cidade distante 70 Km da fronteira brasileiro-venezuelana, com pelo menos duas mortes e 14 feridos. A versão da oposição é de que teria sido resultado de uma disputa das forças armadas venezuelanas com um grupo indígena que se opõe ao fechamento da fronteira, isso logo no primeiro dia. De acordo com o governo, isso não é verdade, pois “os cartuchos não correspondem aos usados pelos militares”.
O desrespeito de Trump aos países da região ficou patente quando, em Miami, na segunda-feira, proferiu um ultimato, dizendo que se os militares venezuelanos não permitirem a entrada de mantimentos, “perderão tudo” e prosseguiu dizendo: “Não encontrarão refúgio, nenhuma saída fácil, porque não haverá saída”.
A reposta do ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padriño, que classificou o discurso de Trump como “grosseiro” e “arrogante” e destacou que continuarão posicionados na fronteira “para evitar qualquer violação de território”, demonstra a tensão criada na região com a ingerência norte-americana.
Uma ingerência totalmente injustificada, uma vez que não são poucos os países dispostos a apostar no diálogo: desde Rússia e China, até Uruguai, México e outros em nosso continente. Há também a França, Inglaterra e Alemanha, entre outros da Europa, que apesar de reconhecerem Guaidó na presidência interina, integram o Grupo Internacional de Contato, recebido no início da semana, em Caracas, pelo chanceler venezuelano, Arreaza, para propor o diálogo e eleições gerais. Há ainda a disposição para a mediação demonstrada pelo Vaticano. A todas estas possibilidades, Guaidó, orientado por Washington, diz que “não há condição de diálogo” e parte para tentar o fato consumado em Cúcuta, na Colômbia.
Os EUA NAO RESPEITAM A SOBERANIA DE OUTROS ESTADOS, MAS CONSTROEM MUROS PARA EVITAR A ENTRADA DOS LATINOS EM SUAS FRONTEIRAS. NÃO QUEREM A PAZ, MAS SE APROPRIAR, COMO ABUTRES, DOS CAMPOS RIQUÍSSIMOS DE PETROLEO DA VENEZUELA.
SE ACHAM OS DONOS DO MUNDO.