A Polícia Federal abriu investigação para apurar as candidaturas laranjas do PSL, partido de Bolsonaro, em Minas Gerais. O inquérito foi aberto na quarta-feira (27) pela PF para investigar o caso que tem como alvo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio.
A PF de Minas Gerais vai conduzir o caso a pedido do Ministério Público Eleitoral estadual que vinha investigando o laranjal mineiro.
As investigações apontam que Álvaro Antonio se reelegeu deputado federal na última eleição beneficiado pelos recursos desviados do fundo eleitoral através de candidatas laranjas de Minas. Ele era o presidente do PSL mineiro.
Quatro candidatas do PSL de Minas a deputadas estadual e federal receberam somas consideráveis do fundo eleitoral e desviaram os recursos para o grupo do ministro do Turismo. As candidaturas eram de fachada e receberam poucos votos.
As candidatas receberam R$ 279 mil do Fundo Eleitoral da legenda, ficando entre as 20 candidatas mais beneficiadas em todo o país. Pelo menos R$ 85 mil do valor total foram destinados a quatro empresas que são de assessores, parentes ou sócios de assessores do hoje ministro. São eles: Robertinho Soares, Reginaldo Soares (irmão de Robertinho e dono das empresas contratadas por Álvaro Antonio), Mateus Von Rondon (assessor e dono da Editora Grafica LTDA, contratada pelo esquema) e Haissander de Paula (assessor).
As candidatas foram Lilian Bernardino, Milla Fernandes, Débora Gomes e Naftali Tamar. O valor solicitado ao fundo eleitoral do PSL por Marcelo Álvaro Antônio se refere aos 30% que os partidos devem destinar às candidaturas femininas.
Uma das ex-candidatas, Débora Gomes recebeu R$ 72 mil para realizar sua campanha eleitoral e obteve apenas 885 votos. Do valor recebido, gastou R$ 30 mil em empresas cujo dono é Reginaldo Soares e R$ 7,6 mil em outra de Mateus Von Rondon. Além disso gastou R$ 10 mil em uma empresa cuja dona é sócia de Reginaldo na anterior.
Outra que recebeu R$ 72 mil foi Milla Fernandes, e esta recebeu 324 votos. Em seus gastos declarados à Justiça Eleitoral constam R$ 4,9 mil para Mateus.
A ex-candidata Lilian Bernardino é bastante próxima de Haissander Souza de Paula, que foi assessor no gabinete de Marcelo Antonio de 2017 até o início deste ano.
Lilian recebeu R$ 65 mil da direção nacional do PSL, mas obteve apenas 196 votos. Deste total, R$ 14,9 mil foram para duas empresas de Reginaldo Soares, outros R$ 10 mil para a empresa de sua sócia e R$ 11 mil para a empresa de Mateus Von Rondon.
Por fim, a ex-candidata Naftali Tamar recebeu R$ 70 mil do partido, recebeu 669 votos e pagou R$ 9 mil para uma empresa de Mateus.
A candidata a deputada estadual Cleuzenir Souza Barros Pereira recebeu R$ 60 mil. Mas denunciou o esquema ao Ministério Público num depoimento dado em dezembro. Ver MP de Minas intima 20 pessoas para investigar laranjal do ministro do Turismo
Ela disse que foi coagida pelo grupo de Marcelo Álvaro Antonio a participar dos desvios e que houve pressão para que ele devolvesse o dinheiro que recebeu da legenda a pretexto de despesas que não foram realizadas em sua campanha.
Professora aposentada, ela afirma que a pressão ocorreu, inclusive, com o uso de arma de fogo por um homem que trabalha para o PSL na região.
Após denunciar o esquema, Cleuzenir contou que sofreu mais ameaças e teve que ir morar em Portugal.
Em nota da sua assessoria, o ministro do Turismo diz que “reafirma a confiança na Justiça e mantém a convicção de que o inquérito vai comprovar que as denúncias são completamente infundadas”.
Confiou tanto na Justiça que foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedir foro privilegiado para suspender as investigações do MP de Minas. Mas o ministro Luiz Fux rejeitou o pedido e manteve a investigação em Minas Gerais.
E também pediu à Justiça que censurasse o jornal Folha de S. Paulo e impedisse as reportagens sobre o assunto. A Justiça negou o pedido da defesa do ministro.
Candidaturas laranjas foram o pivô da demissão de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência. Ele liberou recursos do fundo eleitoral para candidatas laranjas em Pernambuco. Uma delas, Maria de Lourdes Paixão recebeu R$ 400 mil para fazer sua campanha, mas recebeu apenas 274 votos. No endereço da gráfica que supostamente prestou os serviços de impressão dos materiais de Maria de Lourdes funciona, desde março de 2018, uma oficina mecânica. Na prestação de contas ela diz que gastou R$ 380 mil com 9 milhões de santinhos e 1,7 milhão de adesivos a apenas 4 dias da eleição.
Outra candidata em Pernambuco, Mariana Nunes recebeu R$ 108 mil do PSL, a dois dias antes da eleição, e teve 1.741 votos para deputada estadual. A gráfica responsável pelas supostas impressões do material de campanha de Mariana Nunes é a mesma que foi utilizada por Maria de Lourdes Paixão.
No Ceará, a candidata a deputada estadual Gislani Maia, do PSL, recebeu R$ 150 mil da direção nacional do partido em 5 de outubro, a dois dias do primeiro turno e, no mesmo dia declarou ter gasto quase R$ 143 mil em três gráficas. As notas fiscais da candidata são relativas a 4,8 milhões de santinhos, panfletos e botons, além de 20 mil adesivos para carros.
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