Entoando consignas como “queremos comer e trabalhar”, agitando cartazes escritos à mão dizendo “Não ao Tarifaço! Não ao roubo de Macri e seus amigos!”, e pedindo a sua renúncia “já”, milhares de pessoas se manifestaram na Praça de Maio, em Buenos Aires, nesta sexta-feira, repudiando o discurso que o presidente argentino pronunciou no Congresso Nacional, ao abrir o último período de sessões de seu governo que termina em dezembro deste ano.
Os protestos convocados por sindicatos, associações de docentes e sociais não se limitaram ao centro da capital; em outras cidades do interior do país também houve passeatas e atos contra o governo, expressando revolta ante a situação que se agrava a cada dia com novos anúncios de aumento da gasolina, transportes e do custo dos produtos de primeira necessidade.
“Não deixemos que os apregoadores da resignação e o medo vençam a esperança” disse Mauricio Macri em seu discurso, sem se importar com a realidade, junto com afirmações de que a pobreza diminuiu, o emprego subiu e o país tem crescido. A reação não se fez esperar. “Mentiroso”, “Hipócrita” e “Provocador” eram as palavras mais ouvidas entre os manifestantes.
“Se não tivéssemos tomado as decisões que tomamos, a economia teria colapsado. Para normalizá-la propusemos um caminho gradual que foi exitoso por dois anos e meio. Cresceu a economia, baixou a inflação, aumentaram o investimento, as exportações, baixou a pobreza e aumentou o emprego”, foi o inusitado balanço de Macri frente a deputados e senadores, e com a ausência da maioria dos governadores.
Os fatos o contestam. A realidade é uma “inflação chegando a cerca de 50% anuais. O salário vem registrando uma impactante queda em termos reais, só comparável com o drama vivido no ano 2002. Indicadores sociais como a pobreza, a indigência e o desemprego marcando uma deterioração pronunciada”, como aponta o jornalista Alfredo Zaiat no artigo “Os desvarios econômicos de Macri”, publicado no jornal Página 12, resumindo a real situação do país vizinho.
“As suspensões de funcionários por queda de vendas”, prossegue Zaiat em seu artigo, “são massivas”.
“A destruição de empregos registrados é constante e, como consequência da acelerada desindustrialização, se perderam 126.100 empregos desse setor em três anos de macrismo. Quebras, protestos de credores, endividamento asfixiante em dólares, redução da produção, fechamento de centros comerciais e pedidos de procedimentos preventivos de crise de grandes empresas constituem hoje o quadro da situação do mundo empresarial. O mercado interno está deprimido com ingressos reais de trabalhadores e aposentados liquidificando-se com a inflação. O consumo de produtos de primeira necessidade não para de cair, afetando a rentabilidade de empresas vinculadas à atividade interna. A estrutura de custos de empresas e o orçamento dos lares se apertam ainda mais com níveis de tarifas de luz e gás marcados por aumentos desproporcionais e taxas de juros elevadíssimas. A política econômica foi entregue às mãos do FMI depois de encarar um endividamento vertiginoso, que condicionará muito o próximo governo” prossegue o economista no Página 12.
Ele conclui, contestando os irreais prognósticos macristas: “Como se não tivesse aprendido nada nestes anos de fiascos com seus prognósticos, Macri voltou a prometer que a inflação terá uma ‘baixa substancial’. Mas o índice de fevereiro será mais elevado que o do mês anterior, ao ficar acima de 3,5%, e só no primeiro trimestre deve acumular 10%”.
DÍVIDA SOCIAL
Os números precisos divulgados pelo Observatório de Dívida Social da Universidade Católica Argentina mostram que a atividade econômica retraiu 2.6% em 2018. Em relação à pobreza, o índice divulgado chegou a 33.6%, dado que expressa o número mais alto dos últimos quinze anos.
Quanto ao salário, considerando só o setor formal da economia, se registra uma queda próxima aos 15% e o salário mínimo apenas cobre apenas 37.3% da cesta básica total, segundo dados do Centro de Economia Política Argentina. E ainda é importante registrar que desde o início deste ano aumentaram os combustíveis, o transporte, as tarifas de todos os serviços básicos e dispararam os preços dos alimentos em 73%.
O Sistema Integrado do Ministério de Produção e Trabalho da Nação divulgou que 2018 acabou com 191.300 empregos a menos que em 2017.
“Temos que conseguir que a partir de dezembro não tenhamos mais um governo de direita e neoliberal”, expressou Daniel Ricci, presidente da Associação de Docentes da Universidade de Buenos Aires (Aduba). A secretária-geral do Sindicato de Trabalhadores Viários e Afins, Graciela Aleña, reivindicou “vamos acabar com este governo de oligarcas”.