Em discurso nas comemorações do centenário do Primeiro Movimento pela Independência de Março contra a dominação imperial japonesa, o presidente sul-coreano Moon Jae-in ofereceu ajuda aos EUA e à Coreia Popular nas conversações sobre a desnuclearização. Ele também saudou a cooperação intercoreana, expôs sua concepção sobre “a nova península coreana” e finalizou dizendo que “a reunificação não é um lugar distante”.
Sobre a súbita interrupção da cúpula de Hanói entre os líderes Kim Jong Un e Donald Trump, Moon afirmou que seu governo “vai se comunicar e cooperar estreitamente com os Estados Unidos e a Coréia do Norte, de modo a ajudar suas conversações a chegarem a um acordo completo”. Mas fez questão de enfatizar que “a primavera de paz que conquistamos na península coreana não foi feita por outros. Foi feito por nós, pelo poder do povo”.
“O próprio fato de que os dois líderes tiveram uma longa conversa e aumentaram sua compreensão e confiança mútuas é, por si só, um progresso significativo. Em particular, o fato de que eles até discutiram a criação de escritórios de ligação é um passo importante para a normalização de suas relações bilaterais ”, enfatizou Moon.
O líder sul-coreano acrescentou que Seul irá consultar Washington sobre formas de retomar projetos conjuntos com a Coréia do Norte, incluindo o desenvolvimento do turismo no Monte Kumgang e o complexo industrial de Kaesong, ambos na parte norte da península coreana – o que atualmente é inviabilizado pelas sanções em vigor. As Coréias também vêm implementando o projeto de religação das ferrovias.
A versão inicial, de parte do governo Trump, de que a interrupção da cúpula sem qualquer acordo se deveu “basicamente a que as sanções fossem levantadas na sua totalidade”, foi refutada por Pyongyang que esclareceu que pediu a suspensão apenas das sanções que atingem as pessoas e a economia civil, não as sanções de caráter militar.
Em troca, a Coreia Popular oferecia o desmantelamento completo e permanente do centro de Yongbion, que produz o plutônio e urânio usados nas armas de dissuasão nuclear norte-coreanas, dentro do espírito de ir construindo a confiança mútua.
Após as conferências de imprensa conflitantes sobre a cúpula, EUA e Coreia Popular deram manifestações de que persistem em busca de uma solução que leve à paz e à desnuclearização da península coreana.
Na sexta-feira, Trump tuitou que as negociações com Kim eram “muito substantivas” e que “sabemos o que eles querem e (eles) sabem o que devemos ter”. “Relacionamento muito bom, vamos ver o que acontece!”, dizia a postagem do “realDonaldTrump”.
Na Coreia Popular, a cobertura da imprensa enfatizou a “troca positiva” de pontos de vista na cúpula de Hanói e registrou a declaração do líder Kim agradecendo os esforços de Trump para se chegar às conversações.
Em seu discurso, o presidente sul-coreano Moon esboçou sua concepção de um “novo sistema da Península Coreana”, com a criação conjunta, pelo Norte e pelo Sul, de uma “comunidade de paz e cooperação” à medida que a desnuclearização da Península Coreana progrida, resultando em uma era “economia pacífica” que apóie o crescimento econômico no Nordeste asiático, nos países da ASEAN e na Eurásia.
Moon descreveu isso como “uma nova ordem para pôr fim ao sistema da Guerra Fria e à era do antagonismo e campos ideológicos”. Uma nova era na qual a península coreana assumisse seu papel “deixando para trás o século passado que viu o destino da Coreia determinado pelos interesses das grandes potências em meio à ocupação japonesa, à Guerra da Coreia, à divisão nacional e à Guerra Fria”.
Ele também afirmou que planeja estabelecer um comitê econômico conjunto intercoreano conforme o progresso for feito na desnuclearização da península – similar ao “Comitê Militar Conjunto” – já em funcionamento desde o acordo de 19 de setembro do ano passado.
Moon também previu que o desenvolvimento nas relações intercoreanas levará “à normalização das relações da Coreia do Norte com os EUA e com o Japão e se expandiria para uma nova ordem de paz e segurança para a região do nordeste asiático”.
Sublinhando as dramáticas mudanças na península nos três anos desde sua posse, o presidente Moon assinalou que “visões que víamos como sendo arco-íris no passado agora estão se tornando realidade diante de nossos olhos”.
ANTONIO PIMENTA