(HP 21/09/2016)
O procurador Deltan Dallagnol, integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato, protagonizou uma encenação e desatou a proferir uma saraivada de frases vazias ao apresentar denúncia contra Lula e mais sete pessoas no caso do triplex do Guarujá e do armazenamento dos pertences do ex-presidente. A ânsia delirante de Dallagnol, que concluiu não ser necessário apresentar provas contra o acusado, apenas “convicções” de que ele seria o “general que comandava toda a imensa engrenagem da propinocracia”, prestou um belo serviço às artimanhas de Lula em sua tentativa de fugir das reais e esperadíssimas explicações que tem que dar à sociedade sobre esses torpes episódios.
O slide que Dallagnol mostrou no dia da apresentação da denúncia é sem pé nem cabeça.
O que o procurador tinha de concreto? Um apartamento que não seria de Lula, mas que recebeu uma reforma feita pela empreiteira OAS, inclusive da cozinha, que contou com o acompanhamento documentado de Lula e Dona Marisa. Aliás, a cozinha milionária instalada no triplex era idêntica, e paga pelo mesmo comprador, à da casa no sítio em Atibaia, que também não seria de Lula, mas que recebeu, também da OAS, e da Odebrecht, um trato que se aproximou de R$ 2 milhões.
Lula e Marisa não usufruíram do triplex do Guarujá, no qual foram vistos várias vezes e, inclusive, fotografados, em companhia do empreiteiro Leo Pinheiro, dono da OAS, inspecionando e opinando sobre as obras no imóvel. Não o fizeram porque a coisa toda veio a pública e o caldo entornou, a tempo do negócio ser desfeito, mas não sem deixar rastros. Lula está todo enrolado para explicar essas “pequenas” benesses da OAS, assim como justificar o favor de Leo Pinheiro em pagar do bolso da empreiteira R$ 1,3 milhão para armazenar seus bens, depois que deixou a Presidência em depósito da empresa Granero, entre 2011 e 2016. Que as empreiteiras fizeram pagamentos milionários para as palestras de Lula todo mundo sabe. Mas, por que ela pagou o armazenamento dos pertences do ex-presidente?
Não podia vir em melhor hora para Lula o delírio messiânico do procurador. Sua brilhante conclusão (ou seria alucinação) de que “todas as provas nos levam a crer, acima de qualquer dúvida razoável, que Lula era o maestro desta grande orquestra concatenada para saquear os cofres da Petrobras e de outros órgãos públicos. Era o general que estava no comando da imensa engrenagem desse esquema, que chamamos de propinocracia”, soou como música aos ouvidos de Lula que percebeu na hora que esse episódio lhe dava um bom fôlego. A ponto de ele achar que tinha espaço para seguir desconversando sobre a obra feita em seu futuro – e frustrado – triplex e o “armazenamento amigo” de seus bens. Ele ficou tão aliviado que, em discurso feito no dia seguinte ao circo de Dallagnol, afirmou aos seus seguidores que “só Jesus Cristo é mais honesto que eu”.
Ao fugir do assunto, isto é, de destrinchar as causas das benesses da OAS no triplex e do “armazenamento amigo” dos pertences, e as provas de que Lula achou que tinha o direito a “também se dar bem”, já que todo o PT vinha se locupletando numa farra descomunal, e partir para os devaneios de uma tal “propinocracia”, que seria “comandada pelo general Lula”, Dallagnol, diferente do Juiz Sérgio Moro, não prima pela seriedade em seu trabalho. Mostrou que não tem a menor condição de exercer adequadamente a nobre função de procurador. Se ele concluiu que Lula era o “chefe” de um grande esquema criminoso, por que então não o enquadrou no crime de formação de quadrilha? A acusação é de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Sobre isso, ele tinha uma exuberância de fatos para justificar sua denúncia.
Dallagnol se lixou para as provas, como ainda achou necessário explicar aos pobres fieis, que “propinocracia é o governo regido pelas propinas”. Essas “provas” do Dallagnol não sustentam, e nem poderiam sustentar, sua “convicção” de que Lula “comandava” todo o esquema criminoso. Tanto que, na hora de falar nas provas reais, que dariam materialidade às suas afirmações, Dallagnol se sai com a pérola de que “14 conjuntos de evidências que se juntam e apontam para Lula como peça central da Lava Jato”. E ainda montou um ridículo organograma onde tudo apontava para Lula.
Essa trapalhada toda do procurador Deltan Dallagnol difere do trabalho sério e meticuloso que vem sendo feito pelo juiz Sérgio Moro e que já propiciou a recuperação de uma quantia enorme e recorde roubada da Petrobrás. Várias pessoas, entre políticos, empresários e operadores já foram condenados. Um deles, Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobrás, só para citar um exemplo, chegou a devolver US$ 100 milhões desviados da estatal e que estavam depositados em suas contas secretas no exterior. Até mesmo esse fato mostra o quanto é ridícula a conclusão de Dallagnol sobre o papel de Lula a partir do triplex. Como é que o “chefe” de todo o esquema é acusado de receber R$ 3,4 milhões, entre obras no apartamento e hospedagem de pertences, enquanto um mero funcionário de terceiro escalão do esquema estaria devolvendo cerca de R$ 300 milhões? Isso evidencia, não o que concluiu o procurador, mas sim, que neste episódio do triplex, Lula provavelmente deve ter cedido a pressões de pessoas próximas para que também dessem uma beliscada nas benesses da OAS. Isso é completamente diferente do que foi montado na Petrobrás para sustentar um pretenso e desastroso projeto político. Enfim, está nas mãos de Sérgio Moro corrigir essa trapalhada toda, colocar o procurador messiânico, em seu devido lugar, e dar continuidade às investigações sobre o esquema criminoso montado pelo PT e pelo PMDB para assaltar a Petrobrás e outras estatais.
SÉRGIO CRUZ