No melhor estilo da máfia, que “vende proteção” – até a quem não quer -, o governo Trump está preparando uma escalada no preço da ocupação, com bases e tropas, de outros países: ‘custo’ mais 50%, de acordo com a fórmula em estudo revelada pela Bloomberg.
A extorsão também foi confirmada pela Rand Corporation, o think tank que faz planejamento estratégico para o Pentágono. Nos bons tempos de Al Capone, a proteção era cobrada em alguns quarteirões de Chicago, mas desde então a plutocracia norte-americana já foi muito além, com 1000 bases estrangeiras no planeta inteiro.
Sob o plano de Trump, o achaque dos países ocupados poderia ter um aumento de até 600%.
Em discurso no Pentágono em janeiro, Trump asseverou que os países ocupados vêm fazendo os EUA “de tolos” e não pagam o que devem. “Estão todos notificados. Terão que pagar pela nossa proteção”.
Foram-se os tempos em que o império colocava na conta da sua manutenção o gasto – ou pelo menos parte – com a ocupação em terra alheia. Mas agora, decadente, sucateado, quebrado e endividado, mas valendo-se ainda do cacife nuclear e do status do dólar, quer que os ocupados paguem não só toda a ocupação, mas ainda uma taxa de extorsão extra de 50%.
A Bloomberg diz ainda que o plano “está muito mais avançado do que é publicamente sabido” e registra que a “mudança de paradigma” em matéria de extorsão foi concebida no Conselho de Segurança Nacional, aquele antro de intervencionismo encabeçado por John Bolton.
Estudo da Rand estimou em 34% em média a parte que os membros europeus da Otan assumem atualmente do custo com as forças e bases dos EUA em seus territórios, o que correspondeu a US$ 2,5 bilhões em 2002, último ano para o qual há o número.
Embora não haja dados atualizados, acredita-se que a Alemanha pague 28% dos custos – US$ 1 bilhão ao ano. A Coreia do Sul fez acordo de um ano de duração para pagar US$ 924 milhões, após tomar um susto ao saber da “novidade” de Trump.
Naturalmente, sem problemas quanto ao aumento de gasto militar exigido: é só cortar os programas sociais, garfar a previdência e a assistência médica: menos pão e mais canhão.
As fontes da Bloomberg admitiram que o plano de Trump está causando “ondas de choque” no Pentágono e no Departamento de Estado, sob o temor de que os países ocupados – perdão, aliados – na Ásia e na Europa o considerem “uma grande afronta”.
Mas não poderia faltar o toque do mestre da Arte da Negociação e especulador imobiliário, Trump. Está em estudo um prêmio ao capachismo, através de um desconto na taxa extra de extorsão.
Quanto mais submisso aos ditames, maior o desconto. O que foi descrito quase poeticamente pela Bloomberg como o abatimento que esses países obteriam “se suas políticas se alinhassem estreitamente com os EUA”.
Mesmo no Pentágono há dúvidas sobre o sucesso da extorsão. Alguns acham que o plano “Cost Plus 50” irá “desencadear debates dentro dos governos aliados sobre se eles querem mesmo as tropas americanas em seu solo”, reconheceu a Bloomberg. Esses países estão sob ocupação desde o final da II Guerra Mundial.
Já existem movimentos contra as bases norte-americanas no Japão, especialmente em Okinawa, Coreia do Sul, Alemanha e Itália, embora haja governos, como o da Polônia, que até está se oferecendo para pagar para obter seu Forte Trump.
Há ainda a questão de que muitas bases fazem mais do que atender a suposta ‘necessidade de defender o aliado’ – caso da gigantesca base aérea de Ramstein na Alemanha em que fica a sede do Africom, o comando do Pentágono para a África, que nenhum país africano quer sediar. Trump vai requerer a Berlim que pague pela intervenção das suas tropas na África?
No caso alemão, há ainda o centro médico de Landstuhl, que cuida dos soldados norte-americanos feridos nas guerras dos EUA no Grande Oriente Médio. “Estimar o quanto a Alemanha deveria pagar por essas bases, que servem a tantos outros interesses, seria complicado”, ponderou a Bloomberg.
No caso da Itália, significa, por exemplo, que além de pagar os salários de 12 mil militares norte-americanos, seu povo teria de arcar ainda com os custos das bases aéreas de Aviano e Signorella e da base naval de Gaeta. Até mesmo do maior arsenal dos EUA fora do continente americano, Camp Darby. E inclusive a manutenção das bombas nucleares posicionadas por Washington em solo italiano.
Registra a Bloomberg que “críticos do plano dizem que este ignora os benefícios que os EUA têm por terem tropas estacionadas no exterior”. “A verdade é que elas estão lá e as mantemos porque é do nosso interesse”, admitiu o ex-embaixador de Washington na Otan, Douglas Lute.
O ex-subsecretário adjunto da Defesa, Jim Townsend, disse esperar “que as cabeças mais frias prevaleçam” na questão. “Há muitos países que diriam que você está absolutamente enganado – você acha que vamos pagar por isso?”