Um ano após a prisão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), o Ministério Público Federal (MPF) no Rio divulgou o balanço da Operação Lava Jato no Estado, na última sexta-feira (17). O maior esquema de lavagem de dinheiro já investigado no Rio foi desmantelado pela força-tarefa com a apresentação de denúncia à Justiça Federal, contra 134 pessoas.
Mais de R$ 450 milhões já foram ressarcidos e pagos em multas compensatórias decorrentes de acordo de colaboração. O Ministério Público Federal pede ainda R$ 2,3 bilhões em reparação de danos provocados pela organização criminosa.
Foram 17 operações em conjunto com a Polícia Federal que levaram ao cumprimento de 15 acordos de colaboração premiada, 57 prisões preventivas, 12 temporárias, 34 conduções coercitivas, e 211 mandados de busca e apreensão.
Cabral que liderava a organização criminosa no Estado foi acusado 15 vezes e já condenado em duas ações penais na Justiça Federal do Rio – o ex-governador foi condenado, também, pelo juiz Sérgio Moro, de Curitiba; somadas, as penas impostas ao peemedebista chegam a 72 anos de cadeia. Outros 30 denunciados já foram condenados. Somadas, as penas ultrapassam 377 anos de prisão.
De acordo com o MPF, os principais crimes cometidos pela organização criminosa foram fraude a licitações, corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro, organização criminosa, falsidade ideológica, evasão de divisas, crime contra a ordem econômica (cartel), crime contra o sistema financeiro, embaraço a investigação de organização criminosa e tráfico de influência.
Para o juiz à frente da Lava-Jato no Rio, Marcelo Bretas, a corrupção no estado se assemelha a uma ‘metástase’. Ele não vê o termino das operações próximo. “Não vejo fim para hoje. A Lava-Jato é mais do que um conjunto de operações. É uma nova cultura de combate à corrupção”.
Ao criar a força-tarefa no Rio, em junho do ano passado, a Procuradoria tinha como objetivo inicial aprofundar a investigação de organização criminosa apontada como responsável pela prática de corrupção, fraude a licitações e lavagem de dinheiro na construção da Usina de Angra 3 pela Eletronuclear.
As investigações revelaram como a organização comandada por Sérgio Cabral desviou mais de US$ 100 milhões dos cofres públicos, ‘mediante engenhoso processo de envio de recursos oriundos de propina para o exterior’.
O peemedebista é acusado de ter recebido ‘vantagens indevidas não só de obras de construção civil, saúde, transportes, alimentação, mas também de outros setores do Governo, como, por exemplo, o de contratação de serviços terceirizados’.
Para os procuradores da força-tarefa Lava Jato/RJ, ‘trata-se de um esquema altamente sofisticado, que agia internacionalmente com desenvoltura e uma engenhosa e complexa relação corrupta’ com as obras de construção civil, a saúde, o transportes, a alimentação, e até a contratação de serviços terceirizados.
Sobre a reação de diversos setores políticos contra as descobertas trazidas a público pela Lava Jato, Bretas foi categórico. “político corrupto não tem vida própria, é um parasita. Se tirar o poder dele, vai morrer de fome”, e explicou que “o empresário que se corrompe, que tem uma unidade produtiva, sabe que pode se reerguer. Grande parte dos colaboradores, normalmente, são empresários. Quem está lutando contra, normalmente, é agente público envolvido com corrupção”.