Em viagem em que foi prestar vassalagem aos Estados Unidos, Bolsonaro assinou na terça-feira (19) um acordo que prevê uma cota, isenta de tarifa de importação, de 750 mil toneladas ao ano de trigo norte-americano.
Atualmente, a tarifa estabelecida para compras do produto fora do Mercosul é de 10%.
O Brasil é um dos maiores importadores mundiais de trigo. Compra do exterior cerca de 7 milhões de toneladas ao ano. O trigo importado dos EUA sem tarifa irá fazer concorrência com o produto brasileiro e com o principal exportador para o Brasil, a Argentina.
Conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo), a importação dos EUA isenta de tarifa terá forte impacto no comércio do Brasil com a Argentina, de onde são provenientes 86% das importações brasileiras.
As 750 mil toneladas dos EUA representarão 10% das importações do cereal.
Geralmente, quando a produção no Brasil e a importação de países do Mercosul não são suficientes para atender a demanda dos brasileiros, o governo autoriza uma cota temporária isenta de tarifa. Contudo, pelo acordo firmado entre Trump e Bolsonaro, a isenção de tarifa seria permanente.
No ano passado, o Brasil importou 6,8 milhões de toneladas de trigo, das quais 5,9 milhões vieram da Argentina, 330 mil do Paraguai e 270 mil dos EUA. Os demais países forneceram volumes menores.
Em tese, com a queda da tarifa e o aumento da oferta, o trigo ficaria mais barato e, em consequência, também a farinha e o pãozinho. Ledo engano.
“A energia elétrica não baixa de preço e não baixa mesmo, nós temos combustível, frete”, disse o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro), Paulo César Oliveira Pires.
“O produtor fica retraído e com razão. Você está com atividade que não tem rentabilidade. A rentabilidade do trigo hoje é muito ruim. Você joga o produto importado, vamos dizer assim, sem uma tarifa comum, no mercado que é um mercado nacional, é um ato de desestímulo”, frisou Pires.
A medida também prejudica a produção nacional. “Sempre trabalhamos junto ao governo para que não fosse aprovada a isenção tarifária… São mais 750 mil toneladas, que vão concorrer com o trigo nacional, e é sabido que os americanos subsidiam o trigo deles lá”, disse uma liderança do setor produtivo no Paraná, em reportagem ao G1, que não quis se identificar.
Segundo a reportagem, “ele disse ainda que o trigo dos EUA virá para concorrer com o produto do Paraná que vem sendo vendido aos moinhos do Norte e Nordeste do país, duas das regiões que provavelmente receberão o maior volume do produto norte-americano, pelos custos menores de frete”.
“A exportação dos EUA vai prejudicar a intenção de plantio no Paraná, em momento em que os produtores locais estão se preparando para iniciar o cultivo da nova safra”, afirmou.