Cinco dias após o Ciclone tropical IDAI ter passado por Moçambique, Malauí e Zimbábue deixando um rastro de mais de 500 mortes e extensa destruição da infraestrutura pública, centenas de milhares de pessoas se encontram sitiadas nos tetos de suas casas e montadas em árvores.
No centro de Moçambique, onde as Bacias do Búzi e Púnguè continuam inundadas, 350 mil pessoas estão sem água potável, nem eletricidade, falta comida e todos os produtos de primeira necessidade. “Estamos em uma situação extremamente difícil”, sintetizou o presidente moçambicano Filipe Nyusi, lembrando que o desespero se agrava a cada dia.
No vizinho Malauí, até o momento, a projeção é de que 920 mil pessoas tenham sido afetadas pelo ciclone com velocidade de até 200 quilômetros por hora, matando mais de 150 pessoas.
No Zimbábue, o ministro July Moyo disse que é necessário checar os números de mortos e que há pelo menos 217 desaparecidos. “O número total, nos disseram que poderia ser 100, alguns dizem que podem ser 300. Mas não podemos confirmar esta situação”, informou.
MOÇAMBIQUE
De acordo com os meteorologistas, chuvas fortes, rajadas de ventos e trovoadas vão continuar pelo menos até quinta-feira (21), o que projeta um agravamento da calamidade.
Diante da catástrofe que presenciou na própria cidade da Beira, destruída pelo ciclone, o Conselho de Ministros declarou Emergência Nacional pela primeira vez na história do país, bem como um luto de três dias.
“A água estava baixando no pátio quando falei para a minha senhora levar as crianças e sai com vovó para a estrada. Depois tivemos de subir na árvore onde ficamos quase seis dias. Muitas pessoas morreram, outros já estavam descendo por causa do frio”, relatou um dos sobreviventes, completamente faminto, quando foi socorrido pelas equipes de resgate, apoiadas por experientes nadadores e salva-vidas da África do Sul.
“Nós ouvimos o aviso do ciclone, mas não acreditamos que fosse tão forte”, lamentou Aquino, sexagenário que não tem memória de outra calamidade similar.
Uma primeira avaliação aérea feita pelas autoridades aponta um raio de 50 quilômetros da província de Sofala debaixo de água, com a profundidade ultrapassando os seis metros.
E a perspectiva é que a situação pode se agravar, pois a barragem de Chicamba – que descarrega as suas águas nas bacias do Búzi e do Púnguè – está com 70% do seu nível. Pior ainda: se desconhece a qualidade da água que está vindo do Zimbábue, onde as estações de tratamento foram danificadas pelas cheias. Se uma quantidade de água acima do normal vier do país vizinho, a barragem poderá ter de fazer descargas emergenciais, agravando o caos em curso.