A professora Natalícia Tracy, diretora executiva do Brazilian Worker Center – uma das principais associações de imigrantes brasileiros nos EUA, criticou a declaração de Bolsonaro à Fox News, na segunda-feira (18), na qual ele elogiou o endurecimento da política migratória americana no governo de Donald Trump.
“A maioria dos imigrantes não tem boas intenções para os Estados Unidos”, disse Bolsonaro. E disse que vê “com bons olhos” Trump construir um muro na fronteira do México com os EUA contra os imigrantes latinos. Ver
Bolsonaro ataca imigrantes e defende muro para bajular Trump
“A fala de Bolsonaro terá um efeito dominó, ampliando o estigma sobre a comunidade e estimulando as pessoas a se isolarem ainda mais. Não bastasse Trump, agora nosso próprio presidente nos cria dificuldades, incentivando uma política que expõe milhões de pessoas à caça”, afirmou a brasileira.
Em entrevista à rede de TV, além de defender a construção de um muro na fronteira norte-americana com o México, Jair Bolsonaro disse que gostaria muito que o país “levasse adiante a atual política de imigração, porque em larga medida nós devemos a nossa democracia no Hemisfério Sul aos Estados Unidos”.
Para Natalícia Tracy, as afirmações de Bolsonaro têm um peso grande para brasileiros que vivem nos EUA sem documentos. “É muito frustrante que os imigrantes – 99% dos quais são pessoas de bem, que estão aqui há décadas com suas famílias, com crianças, que estudam e pagam seus impostos – sejam tratados como criminosos”, disse.
Ela contou que, no governo Trump, muitos imigrantes brasileiros sem documentos deixaram de procurar a polícia para denunciar crimes de que são vítimas, como violência doméstica ou abusos trabalhistas. A postura reflete o temor de que os policiais os entreguem aos órgãos federais de imigração.
Tracy diz que, na gestão Trump, esses órgãos ampliaram sua atuação, expandindo para todo o território americano ações que antes se concentravam nas fronteiras.
O Brazilian Worker Center (Centro do Trabalhador Brasileiro) auxilia imigrantes brasileiros nos Estados de Massachusetts e Connecticut, onde eles são estimados em 400 mil. Calcula-se que cerca de 1 milhão de brasileiros vivam nos EUA.
Natalícia Tracy disse acreditar que muitos integrantes da comunidade que endossaram Bolsonaro na última eleição vão se arrepender. O capitão reformado venceu entre os brasileiros que moram nos maiores centros urbanos dos EUA. “Eles vão mudar de opinião quando virem suas famílias sendo mais atacadas, mais marginalizadas, e principalmente quando eles próprios estiverem na cadeia”, avaliou Natalícia em entrevista para a BBC.
O deputado federal e filho, Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), também fez declarações depreciativas sobre os imigrantes brasileiros durante a visita oficial aos EUA. No domingo (17), ele gerou polêmica ao comentar a iniciativa do governo de conceder visto automático a turistas americanos em visita ao Brasil.
“Brasileiro ilegalmente fora do país é problema do Brasil, é vergonha nossa”, disse.
O Brazilian Women’s Group, de Massachusetts, divulgou nota. “Vergonha é um político brasileiro, em viagem oficial paga pelo tributo do povo brasileiro, criticar seus concidadãos no exterior, durante encontro com personalidades estrangeiras”, escreveram as integrantes do grupo, que atua desde 1995.
Elas continuaram: “Estamos acostumadas a defender nossa comunidade da perseguição, da discriminação e da xenofobia do governo americano. Nunca pensamos que precisaríamos defender os brasileiros do governo brasileiro”.
A repercussão negativa da declaração levou o filho de Bolsonaro a tentar minimizar o caso, no próprio domingo. “A declaração foi para dizer que o Brasil tem responsabilidade com seus nacionais e não vai ficar permitindo que brasileiros entrem ou facilitando, melhor dizendo, a entrada de brasileiro em qualquer lugar que não seja da maneira legal”, justificou.
Mas os panos quentes não resolveram. Até o pastor Silas Malafaia, apoiador de Bolsonaro de primeira hora, gritou: “Quando esse cara fala isso, mostra que não conhece a realidade do imigrante brasileiro”.
Após o desastre das suas declarações e gerar a revolta dos imigrantes brasileiros, Bolsonaro tentou também atabalhoadamente consertar a situação. Ele alegou que cometeu “equívoco ou ato falho”.
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