O professor Ildo Sauer, vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP e ex-diretor de Gás e Energia da Petrobrás, denunciou o lobby feito por autoridades do governo inglês junto a integrantes da administração Temer para que a BP, a Shell e a Premier Oil obtivessem vantagens indevidas em contratos de exploração de óleo e gás na área do pré-sal brasileiro. “O ministro inglês teria visitado o Ministério das Minas e Energia e fizeram aí essa medida provisória que isenta de impostos as importações dessas empresas. O que significa isso? Significa acabar com os parcos benefícios que ainda sobravam para o país”, assinalou Ildo.
“O custo de produção de um barril de petróleo é dez dólares e o valor de venda está a 50 dólares. Esses dez dólares significam o custo de infraestrutura para produzir. Quando se reduz os impostos sobre isso, os recursos que iriam para os estados e municípios e para o governo federal são reduzidos. Você tira dinheiro público e deixa como lucro privado. Parece que a pressão do governo britânico funcionou em benefício da Shell, que é uma empresa anglo-holandesa”, afirmou Sauer.
“Eu volto a defender que todos os contratos de petróleo feitos a partir do governo Dilma, a partir de Libra, têm que ser todos anulados. A Shell aumentou seu interesse no pré-sal depois de Libra. Ela comprou a British Gás, que era dona da Congás de São Paulo, porque a British Gás passou a deter 25% do Campo de Libra, com 8 bilhões de barris. Portanto, ela detinha 2 bilhões de barris”, argumentou o professor.
“Essa é a maior reserva da Shell, que não consegue reserva em lugar nenhum do mundo. Nenhum país, a não ser aqueles com situação política muito debilitada, está leiloando reservas. Só o Brasil e alguns países da África, tipo Angola, Moçambique e Nigéria e, ainda assim, o fazem em contratos de serviço, com produção compartilhada. Ninguém mais está fazendo o que Brasil está fazendo”, acrescentou Ildo Sauer.
“Isso tudo foi feito pelos quadrilheiros, junto com o PT. Tudo tem que ser debitado na conta do Partido dos Trabalhadores e, especialmente, da Senhora Dilma Rousseff, que instituiu essa forma de organizar leilões para entregar o petróleo de Libra”, denunciou. “Os quadrilheiros de Temer apenas aprofundaram o processo. Eles não têm vergonha nenhuma. Então o que tem que ser dito para esse ministro e para o governo brasileiro é que qualquer governo legítimo que venha a assumir o poder no país vai ter que anular isso tudo”, destacou o especialista.
Ildo afirmou ainda que isso mostra a face de como eles tratam o patrimônio do povo brasileiro “que poderia ser o seu passaporte para o futuro”. “Estão assaltando o futuro brasileiro na área do petróleo”, alertou.
Sobre a redução da exigência de um índice de conteúdo nacional no processo de produção de petróleo, que foi afrouxada, o professor Ildo Sauer disse que o objetivo é o mesmo. “Não pagam impostos pelas importações e reduzem o conteúdo nacional, e o que sobra é muito pouco”, assinalou.
“Eu sempre disse que o conteúdo nacional é importante porque gera emprego aqui dentro, os impostos são importantes, mas o que é mais importante é o valor que o petróleo trás consigo quando ele é produzido e vendido, em acordo com a OPEP e a Rússia e os demais parceiros, garantindo um preço mais elevado. Isso gera mais renda para o país”, frisou Ildo Sauer. “O importante mesmo”, prosseguiu, “é a quanto se vende o barril e quanto fica para o poder público”.
Ildo ressaltou que esses grupos avançam sobre os recursos que seriam do povo brasileiro em benefício dos lucros das multinacionais do petróleo “que estão sem acesso em lugar nenhum depois que a OPEP, após uma longa trajetória de mais de 50 anos, passou a controlar as reservas de petróleo em benefício dos interesses nacionais dos países”. “Um governo como o de Temer, atender a uma autoridade inglesa que vem aqui fazer lobby só mostra o quanto esse governo é ilegítimo e quanto ele não representa o povo brasileiro”. “Esse governo tomou o poder eliminando o seu sócio anterior que não era muito diferente. Tudo isso é uma briga entre ladrões, bandidos, todos contra o interesse público”, denunciou.
SÉRGIO CRUZ