“Não há Pátria sem Justiça” entoaram milhares de pessoas que tomaram a Praça Lavalle, em frente ao Palácio dos Tribunais, em Buenos Aires, na noite desta quinta-feira, para expressar com faixas, cartazes e bandeiras o seu apoio ao juiz federal de Dolores, Alejo Ramos Padilla, contra as perseguições do governo.
As manifestações – também houve uma em Dolores, onde fica a sede o Tribunal Federal – foram uma resposta ao pedido de Macri para que o juiz seja destituído por ter decidido levar adiante uma investigação sobre extorsão, espionagem ilegal e coações que incriminam funcionários do governo, promotores, empresários e jornalistas.
No comando da rede de extorsões está Carlos Stornelli, promotor federal ligado ao grupo empresarial dos Macri e, ao mesmo tempo, o principal investigador do “caso dos cadernos”, um suposto esquema de corrupção contra a ex-presidente Cristina Kirchner.
“Não conhecíamos o juiz antes disso, porém estamos aqui para dar-lhe força, porque se converteu em emblema da democracia e da verdade”, declarou uma das entrevistadas pelo jornal Página 12, que compartilhou a sintonia dos presentes em denunciar o desrespeito à independência dos poderes do Estado.
“Há causas em que se investiga e causas em que se violam todos os direitos dos cidadãos por pensar diferente, sem importar se é respeitado ou não o devido processo”, explicou o advogado Luis Goldin, da associação Nasce um Direito.
“No mundo não podem entender como um dos poucos juízes que decidiu investigar a fundo na Argentina é perseguido desta maneira. Como cidadãos, não podemos permitir, porque isso seria deixar que nos tirassem de nossas casas, pegassem nossas contas bancárias e nos fraudassem as eleições”, declarou um comerciante de 70 anos.
“A investigação já não é de Ramos Padilla, é de todo o conjunto deste povo que a tem como sua. Macri teria que fazer juízo político à sociedade”, sublinhou o deputado Leopoldo Moreau, que esteve presente ao ato, assim como Nora Cortiñas, das Mães da Praça de Maio; o ativista Sergio Maldonado, irmão de Santiago Maldonado – assassinado recentemente por tropas do governo por defender a comunidade mapuche – e o ex-juiz Carlos Rozanski, que levou à prisão os genocidas Miguel Etchecolatz – responsável por centenas de desaparições forçadas, torturas e roubos de bebês – e de Christian Von Wernich, capelão da Direção de Investigações da Polícia de Buenos Aires, culpado por 42 casos de privação ilegítima de liberdade, 31 casos de tortura e sete homicídios qualificados.
Desmontando a metodologia utilizada pelos macritas, Padilla ressaltou: “foi a coleta de informações, a produção de inteligência e o armazenamento de dados sensíveis de várias pessoas, de maneira paralela aos processos judiciais, para então realizar ações coercitivas, intimidadoras e extorsivas, todas com o objetivo de influenciar casos judiciais”.