Os Coletes Amarelos tomaram as ruas de Paris, Metz e Toulouse, entre as dezenas de cidades francesas que foram palco deste 19º sábado de protestos contra o arrocho que sufoca a economia do país e exigindo a saída do presidente Emmanuel Macron.
A insatisfação dos franceses com a indiferença do governo e suas negativas em atender aos reclamos populares eclodiu em confrontos do sábado passado, dia 16, no qual cerca de 100 lojas foram atingidas por manifestantes revoltados que também atearam fogo em carros e bancas de jornal.
Macron proibiu manifestações na avenida Champs Elysées, maior foco das tensões do sábado passado. O governo anunciou que tropas militares das unidades contra-terroristas da chamada Operação Sentinela, criada depois dos atentados ocorridos em Paris em 2015, seriam alocados na capital francesa para ajudar a polícia a reprimir os que decidissem se manifestar nas regiões proibidas.
Também foi anunciado que aqueles que desafiassem as proibições, além de presos, seriam multados em 135 euros.
Mesmo assim, o ato se realizou, desta vez com 5 mil manifestantes atravessando o bairro que abrigou alguns dos maiores artistas plásticos que escolheram Paris para residir: Montmartre. Outros 40 mil se manifestaram pelo país inteiro.
O topo da igreja do Sagrado Coração, em Montmartre, foi decorado com coletes amarelos.
Um dos manifestantes, citado pela reportagem da agência RT declarou: “O que nós estamos pedindo não é muito. Estou perto de dez dias antes do fim do mês e quase sem dinheiro. No passado, eu chegava tranquilo ao final do mês. Uma vez por ano eu podia levar minha filha para uma viagem de férias, como um presente de Natal para ela. Há já vários anos que isso é impossível. O Natal ela passa na casa dos avós. O governo é o culpado por isso”.
A praça Pey-Berland, em Bordeaux, e as imediações do legislativo municipal, de Toulouse, assim como toda a cidade de Nice foram outras das regiões em que o governo proibiu concentrações populares. Mesmo assim houve atos nestas cidades.
O anúncio do deslocamento de tropas para o centro de Paris foi feito pelo porta-voz do governo, Benjamin Griveaux: “Depois de termos visto novas formas de violência no sábado, em que indivíduos decidiram atacar a democracia e seus símbolos, medidas de emergência serão tomadas para reforçar as forças de segurança. Isso inclui a mobilização reforçada dos integrantes da Operação Sentinela para proteger prédios oficiais e outras posições na capital”.
Já o general Bruno Le Ray, em declarações divulgadas por uma rádio francesa, disse que os soldados estavam autorizados a abrir fogo depois de dispararem tiros de advertência se “suas vidas ou de outras pessoas, que estiverem protegendo, forem colocadas em risco”.
O chefe de polícia, Edouard Philippe, foi demitido no dia 18, depois dos confrontos na Champs Elysées, por não conseguir adotar “ação correta” para deter a eclosão de ira de uma parcela dos manifestantes. Quem anunciou a demissão foi o ministro do Interior, Christophe Castaner, que declarou haver determinado o afastamento de Philippe, para adotar uma “abordagem de tolerância zero”.
A exacerbação da repressão – que tem sido a resposta governamental aos protestos e que muitos acusam de ter sido a causadora da revolta do dia 16 – repercutiu mal e, na sexta-feira, 22, quando em visita ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, Macron foi questionado e desconversou. Disse que “de forma alguma o exército seria envolvido na manutenção da ordem”.
Um dos mais destacados líderes dos Coletes Amarelos, Erik Drouet, enfatizou que “banir os Coletes Amarelos de algumas localidades não vão parar os protestos”.